Camila Gonzaga Oliveira, tem 26 anos, mora em Água Branca, no Sertão alagoano, é mãe de uma filha de um ano e seis meses, e atualmente vive com os pais. Concluiu o ensino médio e hoje faz curso superior de Serviço Social e um curso técnico de Nutrição. A rotina dela é puxada e bem diferente da vida nas grandes cidades. Camila mora no campo e trabalha na agricultura. É da terra que ela tira o sustento e se realiza como mulher e profissional.
Ela é do tipo de pessoa que não para. Está sempre procurando novas oportunidades de conhecimento e, enquanto mulher, busca inovação e empoderamento. Camila conversou com o Eufemea, a quem contou como ser mulher e viver da agricultura.
Filha de agricultores, ela conta ainda que não foi difícil se manter apaixonada pelo campo, mas ao mesmo tempo querer mudar a própria história. “Meus pais contam que era uma vida miserável, que muitas vezes não tinham o que comer, que tinham às vezes que matar um passarinho, que o que hoje têm é riqueza, é luxo para o que não tinham, então eu sempre escutei as histórias de como era sofrida a vida na roça, de que tinha que esperar pela chuva. Eu não tive essa vida de roça quando eu nasci. Os meus pais me deram uma vida totalmente diferente, já nasci na cidade, mesmo assim eles nunca se afastaram e nem a mim da roça”.
História de vida
“Meu pai hoje é lanterneiro, pintor de carro; minha mãe trabalhou em casa de família, lutou, vendia bolo de porta em porta até conseguir trabalhar em uma lanchonete e de lá conseguiu passar em um concurso público e hoje ela é merendeira. Mas eles nunca largaram o amor pela roça. Então, quando estavam mais estabilizados, eles compraram um terreno ao lado do meu tio e há seis anos a gente largou a cidade e veio fazer companhia a ele aqui no sítio”.
A propriedade abriga a família. Dois irmãos, os pais de Camila, os avós, tios. Cada um nas suas casas, mas todos no mesmo terreno.
Da horta para a mesa: bolos, mousses...
Além disso, ela diz que o mesmo amor está passando para a filha. “É um ato lindo você criar sua filha no meio da natureza, ensinar o nascer de um passarinho, o cuidar de um animal, do que você criar uma criança trancada em uma cidade”, diz Camila.
Ser agricultora tão jovem, ela afirma que “vem de berço” e aponta para a mãe como um exemplo. “Minha mãe é guerreira. Ela também plantou, colheu e sempre passou isso pra mim e pros meus irmãos. Aqui é uma união, principalmente eu e minha mãe. A gente planta, colhe; da produção a gente faz bolos, mousses, vende, pegamos encomendas de doces, leva na porta. É uma segurando a outra, sem deixar a outra cair. É uma família unida, que ama a agricultura”.
Mas Camila reconhece as dificuldades enfrentadas no campo e diz que não se pode apenas plantar e deixar lá. “É um trabalho difícil, árduo, embaixo de sol, chuva. É uma missão difícil, mas para quem gosta é uma missão gloriosa. Quando chega no fim você vê o que tirou, que conseguiu com dificuldade. Esperar só um salário no fim do mês, você não sai da mesmice, se acomoda. E o melhor é ter novas experiências, etapas para conquistar”, ensina a agricultora.
O que falta, na avaliação dela, é apoio de governo, das empresas à agricultura familiar. Por isso, ela conta que não vivem apenas da agricultura, já que a mãe é servidora pública, merendeira, e ela faz “bicos”. “Trabalho em recepções de festas, casamentos, com decorações, tem uma empresa que sempre me chama, garçonete, faxina, quando tem muita produção eu vou com meu tio pra feira. O que aparece eu tô indo”.
“Ser tão mulher”
Ela diz ainda que a ajuda mesmo veio do Instituto Terra Viva. “Foi a melhor coisa que apareceu. Eles vieram com o projeto Sertão Mulher. O nome já diz: ser tão mulher. Eu acho que a mulher é capaz de fazer tudo que um homem faz. E o Instituto Terra Viva veio para aprimorar, melhorar, dar melhor qualidade, porque eles vieram com um projeto de empoderamento só para mulher”.
“O que a gente não sabia, os técnicos nos ensinaram, corrigiram os nossos erros e deram melhor oportunidade pra gente. Eles deixaram um veterinário e mesmo com a pandemia, sempre tão apoiando a gente. Colocaram placas solares, um investimento enorme, porque como a gente usa bomba pra puxar água do canal, o gasto com energia que a gente pagava caiu. Como é gotejamento, as bombas têm que tá funcionando o dia inteiro”, conta a agricultora.
Tudo na administração, comandada por Camila e a mãe, é na ponta da caneta, como diz. ”Hoje a gente tem maracujá, por enquanto é o forte, mamão, acerola, goiaba, hortaliças”. E até morango é cultivado na terra do tio dela, que acaba se juntando à produção da família. “Temos também coração da índia e pés de açaí”, ela diz.
Cursos no pós-pandemia
Quando a pandemia acabar, Camila já tem planos: fazer novos cursos. “Tenho planos de ter mais conhecimento sobre agricultura, fazer cursos do Sebrae, de empreendedorismo, de como crescer melhor, onde eu posso mudar, melhorar. Para crescer, eu tenho que fazer mais curso e tá dentro mais do universo da agricultura. Não perco palestras, sempre acompanhando as inovações. A gente não tem capacidade de ter máquinas. Aqui é tudo manual. É uma propriedade pequena. Então, assim, como posso melhorar mais a plantação, dar um apoio melhor pra minha família. Meus planos é ter mais conhecimento, descobrir novos horizontes pra ajudar a família”.
Na pandemia, ela conta que houve queda nas vendas, não na produção. “A gente não é de perder, porque sempre tem pra revendas, pra entregas, pra outras pessoas que têm suas quitandas. E a gente continuou com nossas entregas deliverys. A gente acrescentou bolos, mousses, tudo que pode fazer de comida, a gente foi inovando”.