Foi após uma perícia ambiental particular na região do Vergel do Lago, em Maceió, que Kamila Neri de A.S.Cavalcante, 33 anos, se deparou com uma cena que ela não imaginaria: uma menina brincando e cheia de folhas de papel na calcinha porque estava menstruada, e não tinha absorvente. O caso chamou atenção da perita que resolveu criar algo para ajudar meninas e mulheres que vivem na extrema pobreza. Com isso, a Perita Judicial Kamila criou o projeto Menstruação Solidária.
Ao Eufemea, a idealizadora do projeto contou que foi fazer a perícia porque a população do bairro do Vergel triplicou nos últimos anos com a construção de conjuntos residenciais.
“São centenas de casas em alvenaria, que surgiram para acabar com as favelas à margem da lagoa. Entretanto, pouco tempo depois, os novos casebres foram surgindo, descaracterizando a urbanização do Dique Estrada.
Entre os dois conjuntos foi construído um canal para escoamento das águas até a lagoa, acabando com o problema de enchentes que desabrigam os moradores do bairro”, explicou.
A perita disse que quando foi visitar in loco o escoamento das águas, verificou a situação das pessoas que viviam na pobreza. Foi neste momento que ela se deparou com a cena da menina.
Kamila disse que perguntou se ela não tinha absorvente e ela perguntou o que era aquilo. A perita explicou como usar e quando usar. “Tirei um da minha necessaire e dei a ela”.
A partir desta situação, Kamila iniciou pesquisas sobre o tema. “Daí surgiu minha ideia em criar o projeto”, afirmou.
A idealizadora pensou nas mulheres que vivem nas ruas, nas que vivem nas penitenciárias e se perguntou como ela conseguiria oferecer o ‘mínimo’ para elas.
Inicialmente, Kamila lançou o projeto no Instagram para arrecadar doações e ela não imaginava a repercussão que isso daria. Hoje, ela está recebendo doações de pessoas de todo o país. “Quero montar vários e vários kits”.
Falta iniciativa do Poder Público
A perita também disse à reportagem que falta iniciativa do Poder Público, mas que buscou apoio de algumas pessoas, entre elas a vereadora Olívia Tenório. “Ela foi a única que abraçou e sensibilizou pela causa”.
Ela acredita que precisamos de leis, onde o Executivo cumpra com eficácia. “Isso é uma questão de Direitos Humanos”.
Quer doar e aí?
Kamila disse que falar sobre pobreza menstrual ainda é tabu, mas que ela busca esclarecer através de lives no Instagram dela. “O pai, a mãe e a escola não falam sobre o assunto. A menina/mulher vai na internet e descobre o tema e se descobre sozinha”.
Por fim, quem puder ajudar fazendo doações, deve entrar em contato com Kamila pelo @kamila.csi . A entrega para os materiais higiênicos vai até quinta-feira (26). Sabonetes, absorventes e itens de higiene pessoal podem ser doados.
“As doações serão iniciadas no local que me despertou o interesse de agir por aquelas que não têm condições, as mulheres em condições de extrema vulnerabilidade, mulheres em situação de rua”, finalizou.