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Maternidade idealizada x realidade: “ser mãe é um processo construtivo”

A maternidade vem sendo ao longo de muito tempo tratada como algo extremamente romantizado. Atualmente, alguns movimentos contrários a isso vêm se estabelecendo, com mães se posicionando e corajosamente expondo suas dificuldades e vulnerabilidades. Ser mãe é um verdadeiro desafio com data para início apenas.

Mas é a magia, posso dizer como terapeuta e especialmente como mãe, que a magia da maternidade se dá na própria biologia e fisiologia da concepção. A gestação, com o desenvolvimento da vida, é uma coisa linda. É incrível acompanhar cada detalhe da formação de um ser humano.

Mas a maternidade está muito além de gerar um filho. Nem sempre uma genitora exerce sua maternidade, então podemos dizer que ser mãe é um processo construtivo e, quando um bebé chega, biologicamente ou por adoção, ali no desenvolvimento do cuidado e vínculo com ele, nascerá uma mãe.

Há uma ilusão generalizada de que a mãe é o ser capaz de desvendar de primeira o choro do bebê e quem dera isso fosse real. Na verdade, inicialmente, nós mães não fazemos ideia, ajustamos nosso comportamento errando e acertando, totalmente por eliminação. Só com o tempo compreendemos um pouco melhor essa comunicação imperativa e pouco objetiva que o bebê exerce.

Muitos adoecimentos psicológicos não ocorreriam se apenas pessoas com desejo e capacidade real de dedicar-se à maternidade tivessem filhos. Como dito por Sue Gerhardt (2017), “a desinformação dos pais ou sua falta de capacidade de lidar com os cuidados de um bebê poderiam deixar essas crianças incapazes pelo resto de suas vidas”.

Contudo, quero deixar claro que o erro é parte do processo. Todas as mães erram e não precisamos ser perfeitas. Devemos buscar, segundo o conceito de Winnicott, sermos mães suficientemente boas, buscando sempre que possível atendermos as necessidades básicas emocionais de nossos filhos e, quando não conseguirmos, buscarmos fazer a reparação do erro. Essa é a base segura para construção de um adulto saudável.

Buscar a perfeição na maternidade é um caminho cruel e muito adoecedor. São tantas as informações que norteiam o ideal para a criação de um filho, que é totalmente impossível seguir todas as recomendações de criação. É irreal essa perfeição.

Um outro ponto relevante está na rede de apoio. A autonomia vem sendo supervalorizada, mas somos seres de conexão. Um bebê gera muita demanda de cuidado, é exaustivo e as mães não devem e não precisam fazer tudo sozinhas. O filho é uma jornada de vida, que inicia com muita necessidade de conexão, cuidado e, aos poucos, irá caminhando mais para sua autonomia. Mas a conexão sempre será necessária do início ao fim da vida, pois a autonomia não surge sem uma base segura de vínculo.

Finalizo aqui minha reflexão sobre maternidade idealizada, recomendando a todas as mães uma série da Netflix chamada: Supermães (2017). É impossível não se identificar com algumas personagens, pois a produção mostra a diversidade que consiste no ser mãe na atualidade. Além de tudo, nos faz sentirmos mais leves e dar boas risadas, porque você, mãe, não deixa de ser tudo que era antes desse passo. Suas necessidades básicas emocionais ainda estão aí e você não deve se negligenciar. O projeto que levará você ser uma mãe suficientemente boa é ser feliz.

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Natasha Taques

Psicóloga clínica (CRP-15/6536), formada em Terapia do Esquema pelo Instituto de Educação e Reabilitação Emocional (INSERE), Formação em Terapia do Esquema para casal pelo Instituto de Teoria e Pesquisa em Psicoterapia Cognitivo-Comportamental (ITPC).