Foto: Arísia Barros
O caso da motorista por aplicativo Alayne da Silva Oliveira, de 28 anos, que foi baleada por três homens e deixada em um canavial em Maceió acendeu um alerta sobre a segurança das mulheres trabalham como motoristas na capital.
Ao Eufemea, a motorista Betânia Augusto, líder do grupo “Empoderadas no Volante” e representante da Associação Dos Motoristas por Aplicativo do Estado de Alagoas (Ampaeal) disse que já sofreu agressão, discriminação e até chegou a ser ameaçada por um homem armado. Mas, ao procurar a polícia nessas ocasiões, só recebeu retorno muito tempo depois.
“Fui passar em um sinal e a preferência era minha. O motorista se atreveu em querer passar primeiro e eu já estava no caminho. Assim que ele passou ao lado do meu carro, ele falou vários palavrões, fez gestos obscenos”, contou.
Betânia relata que ficou sabendo sobre o caso da motorista baleada por uma colega do grupo. “Eu tinha acabado de chegar em casa. Entrei em contato com o capitão da Polícia Militar e fiz os informes detalhados para que agilizassem com mais rapidez. Fiquei pedindo a Deus que tudo desse certo para a nossa colega, mas infelizmente aconteceu o que não queríamos que acontecesse”.
Ela afirma que desde então não parou de pensar nisso, mas não pode parar de trabalhar porque essa é sua única renda atualmente. Ela também atua em uma Organização não-governamental (ONG) feminista, chamada Instituto Jarede Viana, mas não há remuneração.
“Tenho especialidade em intérprete de libras e estou no aguardo da Secretaria de Educação chamar os aprovados. Fizemos a prova na antes da pandemia e estou pedindo a Deus para que isso aconteça o mais breve possível. Por enquanto, irei trabalhar [como motorista] com menos intensidade”, destaca.
Betânia não foi a única que ficou preocupada após o ocorrido. Ela destaca que as meninas do grupo também ficaram com medo e inseguras.
“Espero que essa menina saia viva para que a gente dê continuidade às nossas vidas e faça com que as coisas não aconteçam nessa gravidade. É isso que peço a Deus e é isso que estou correndo atrás”, comenta.
“Vou evitar alguns bairros de Maceió”
Uma motorista que não quis ser identificada contou à reportagem que só transporta mulheres no carro e que depois do que aconteceu com Alayne, ela vai evitar alguns bairros de Maceió.
“Infelizmente não vou. Não é preconceito, nem nada. É medo de que algo aconteça comigo”, reforçou.
A condutora disse que as outras motoristas estão com medo e inseguras, mas muitas só tem aquela renda. “Fica difícil parar de trabalhar, mas vamos adotar algumas medidas para ficarmos mais tranquilas. Por exemplo, eu não vou mais rodar a noite, só até às 18h”.
Ela disse que para que as motoristas tenham mais segurança, elas têm um grupo no WhatsApp e enviam a localização em tempo real. “Assim, nós conseguimos acompanhar as colegas e protegê-las de alguma forma”.
“Empoderadas No Volante”
Devido as dificuldades recorrentes durante as tentativas de pedir ajuda à polícia, há cerca de dois meses, Betânia reuniu um pequeno grupo e foi até o encontro da deputada estadual Jó Pereira. A ideia é de buscar medidas de segurança para as trabalhadoras.
Dentre as medidas planejadas pela associação, estão a produção de camisas que as identifiquem, adesivo no carro e a realização de curso de defesa pessoal.
“Além de um aplicativo chamado Zelo, que é uma rádio para a gente se comunicar. Também falei com a deputada para termos um kit dentro do nosso carro com bastão retrátil para proteção e segurança”, disse.
Para Betânia, algumas medidas poderiam auxiliar na segurança das motoristas, como um botão de pânico dentro do carro e um contato dos próprios aplicativos para denúncias.