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Narcisismo: conheça as características desse transtorno de personalidade

Muito se tem falado sobre “narcisismo”. Adentrando a origem mitológica do termo, compreende-se que Narciso estava condenado a apaixonar-se por sua própria imagem refletida e após isso, tornar-se uma bela flor. Essa analogia é interpretada por Wendy Behary (2011), como o amor alo dirigido (dirigido ao outro) só pode florescer quando o amor excessivo e obsessivo autodirigido (dirigido ao próprio ser) acaba.

O amor-próprio é muito importante, conhecer seus próprios valores e capacidades é de suma importância. Inclusive, compreendendo aí que existe um narcisismo saudável, onde se pode vivenciar a diferença entre o amor a si mesmo e ao outro, um equilíbrio das necessidades, auto-respeito e autoafirmação, implantadas na infância e adolescência.

No entanto quando importantes necessidades emocionais são negligenciadas, como: não imposição de limites realistas, a dependência, a privação de afeto e cuidados, o amor condicional, exposição a situações abusivas, entre outras, pode gerar no indivíduo um transtorno de personalidade narcisista, que segundo o DSM-5 pode estar caracterizado como um padrão de comportamento em vários contextos e ao longo da vida no qual predomina a necessidade de ser admirado, a grandiosidade (fantasiosa ou real) e a falta de empatia. (DALGALARRONDO, 2019).

Jeffrey Young, criador da Terapia do Esquema (TE), abordagem inicialmente construída para tratar transtornos de personalidade traz uma crítica a visão simplista dos manuais diagnósticos, mostrando que eles focam apenas em comportamentos expressos como defesa e não na origem desse comportamento, promovendo uma visão pouco empática impossibilitando bons tratamentos para esse público.

A TE busca conectar-se com essa origem, e assim criar vínculo com a criança solitária do narcisista, promovendo possibilidade de conexão reparadora, quando um narcisista se coloca num processo psicoterápico.

Mas é importante frisar que isso não ocorre de forma espontânea, normalmente pessoas com traços narcísicos ou narcisistas não sentem que precisam de cuidados. Isso representa fraqueza, sendo arrogantes ao solicitar suas necessidades, também não se importam com os danos causados no outro devido a pouca capacidade de empatia, normalmente chegam na terapia pressionados por uma situação externa que os obriga a ir.

O narcisismo não é apenas encontrado em homens, mesmo que haja uma prevalência nesse público. Mulheres também desenvolvem esse transtorno, de forma expressiva apoiam-se na manipulação, em comportamentos passivos agressivos, exibicionistas, críticas, auto engrandecedoras, entre outros.

Ao conviver com um narcisista, a nossa capacidade de clareza e lucidez pode ser roubada, pois sua arma mais precisa e a desqualificação gradativa, somada a hipervalorização dele mesmo, não é comum as pessoas que convivem com esse perfil sofrerem de uma desconstrução do próprio self, pois esse perfil floresce na desintegração do outro. Escolher afastar-se quando possível, pode ser a melhor opção.

Entender que uma mudança significativa é rara, mas pode ocorrer se essa pessoa realmente quiser cuidar-se, o que exige muito trabalho terapêutico, e dedicação ao processo do próprio indivíduo, bem como uma orientação a nível familiar íntimo de como lidar com a criança solitária e privada existente nesse ser e ao mesmo tempo dar limite aos comportamentos abusivos por eles implantados.

Esse texto não dá base para diagnosticar alguém como narcisista, se você acredita ser ou conviver com alguém assim entenda que uma avaliação psicológica cuidadosa precisa ser feita para concluir, mas comportamentos auto e alo destrutivos ao serem identificados servem de alerta para buscarmos ajuda sempre.

Estou no Instagram: @vinculos.psi

YOUNG, J; KLOSKO, J; WEISHAAR, M. Terapia do Esquema: guia de técnicas cognitivo-comportamentais inovadoras. São Paulo: Artmed, 2008.

DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais. 3º Edição, Porto Alegre: Artmed, 2019.

BEHARY, W.T. Ele se Acha o Centro do Universo. Rio de Janeiro: BestSeller, 2011.

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Natasha Taques

Psicóloga clínica (CRP-15/6536), formada em Terapia do Esquema pelo Instituto de Educação e Reabilitação Emocional (INSERE), Formação em Terapia do Esquema para casal pelo Instituto de Teoria e Pesquisa em Psicoterapia Cognitivo-Comportamental (ITPC).