Foto: Celso Brandão
O Complexo Cultural Teatro Deodoro recebe a partir desta quinta-feira (27) “Bárbara”, a próxima exposição da artista visual Bárbara Lessa. Com curadoria de Rafael Almeida, a mostra tem como proposta fazer um resgate da trajetória de uma das mais influentes artistas contemporâneas alagoanas, trazendo à luz criações expostas anteriormente, e resolutas em seu acervo ou em coleções particulares, bem como conhecidas peças de sua autoria que permeiam o ambiente urbano maceioense.
Além disso, a exposição apresentará os mais recentes trabalhos da artista e obras anteriores repaginadas, frutos de um período de 2 anos em que Bárbara esteve imersa em trabalhos em seu ateliê. A proposta é fazer uma retrospectiva, apresentando ao público peças criadas desde os anos 80 até os dias atuais, com o intuito de mostrar a importância e relevância deste acervo, como também um novo olhar de Bárbara sobre suas criações.
Para abarcar os mais de 40 anos de vida artística, “Bárbara” apresenta-se como uma exposição panorâmica dividida em três eixos. Serão expostas mais de 70 obras, entre pinturas, esculturas e instalação, e para imergir ainda mais nas criações da artista, algumas delas serão interativas e cinéticas – os visitantes poderão tocá-las e sentir as texturas e nuances do trabalho.
O primeiro eixo aborda a terra, de forma simbólica e conceitual, com esculturas que “remetem a achados arqueológicos”, de acordo com o curador Rafael Almeida, “como se essas peças estivessem realmente brotando da terra”. O segundo, trata de outro elemento: a água, um signo muito presente nas obras da artista, que adota com frequência formas de criaturas marinhas em suas criações. “A água tem um simbolismo muito grande voltado à origem de tudo. A água está presente desde os primórdios do nascimento e de certa forma simboliza uma imersão no subconsciente”.
Já o terceiro eixo aborda o Divino, outro termo muito caro a Bárbara Lessa, que considera parte importante de seu processo criativo o contato com as forças divinas. Esta parte da mostra consiste em uma instalação conceitual interativa no mezanino que simula um planetário, no qual o público conseguirá entrar. A imersão, além de contar com outras obras, se utiliza de projeção e contará com vídeo produzido pelo artista visual e cineasta Celso Brandão “mostrando a criadora e a criatura”, como afirma o curador.
“Bárbara”, além de ser o nome da artista, também é um termo definidor de sua persona artística representativa. Descrito no dicionário, dentre outras coisas, como “que não tem leis nem civilização”, “contrária às regras” ou até “que é grosseira”, o adjetivo reflete de diversas formas sua passagem pela arte e batiza adequadamente a exposição.
Uma mulher, que manipula com as mãos um material pesado e bruto como o concreto e o transforma em belas, sensíveis, mas também grandes e pesadas obras de arte. A mostra, acima de tudo, é uma homenagem e um atestado de empoderamento de Bárbara Lessa e sua trajetória como mulher no mundo da arte, que, se depender dela, ainda deve durar bastante tempo.
“Quero resgatar e ter o prazer de mostrar tudo o que eu fiz durante tantos anos. Eu já estou na idade de me aposentar (mas não me aposentarei!), então esta oportunidade que eu tive de ser convidada para participar desta exposição para mim foi um prêmio. Vou colocar todas as peças que eu fiz durante todos esses anos, para mostrar à sociedade, à nossa Maceió, todo meu trabalho, todo meu acervo. A hora chegou. E continuarei trabalhando, até minhas forças acabarem”, afirmou a artista.
“Bárbara” fica aberta à visitação até o dia 29 de novembro, de segunda a sábado, das 8h às 18h; às quartas, das 8h às 20h, e domingos e feriados, das 14h às 17h.
Sobre a artista
Natural de Pernambuco, mas radicada alagoana, Bárbara Lessa é escultora, pintora e pesquisadora, graduada em Estudos das Ciências Sociais pela Faculdade de Filosofia e Letras de Maceió, com passagens por cursos de Escultura, Paisagismo e Ambientação, entre outros.
Introduzida ao mundo das artes ainda criança, com apenas 7 anos a artista começou a ensaiar suas primeiras obras em papel machê. Dotada de uma linguagem singular, Bárbara é conhecida principalmente por suas peças em concreto, aliadas ao vidro, ferro e acrílico, sendo considerada uma artista vanguardista no cenário alagoano em se tratando de esculturas por suas combinações estéticas com ecos simultaneamente clássicos e populares e pelo uso audacioso de material reciclado em suas composições.
Se utilizando dos próprios instintos (ou iluminação divina, segundo a própria artista), técnica e senso estético apurado, Bárbara dá às suas obras ritmo e movimento por meio da forma, nunca objetiva mas sempre distinta, sejam elas estáticas, cinéticas, performáticas ou em forma de instalação. Cada curva nos veios de suas peças são ondas, caminhos metafísicos que traçam a passagem das mãos da artista em sua modelagem e imprimem sua personalidade.
Uma marca muito presente em vários dos trabalhos em seu acervo é a representação do olho, com inúmeras interpretações e usos. A artista insere ali sua assinatura não declarada, uma janela para sua alma, um manifesto de liberdade e expansão do olhar. Outros signos bastante reincidentes em suas criações são as figuras marinhas e de animais aéreos, bem como seres antropomórficos geométricos que ela carinhosamente batizou de “monstrinhos”.
Serviço
Exposição “Bárbara”
Data: 27 de outubro, às 19h
Visitação: de 28 de outubro a 29 de novembro
Local: Complexo Cultural Teatro Deodoro, R. Barão de Maceió, 77 – Centro, Maceió
Entrada gratuita
*com Assessoria