Foto: Arquivo Pessoal
Ter um olhar científico para solucionar as demandas públicas e locais, essa é uma das missões sociais e políticas da ciência. Em Alagoas, um estudo que conta com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado (Fapeal) está investigando as doenças que acometeram ex-residentes dos locais ameaçados de afundamento, na capital.
Intitulada “Adoecimento mental das pessoas vítimas da instabilidade do solo nos bairros do Pinheiro, Mutange e Bebedouro em Maceió, Alagoas”, a pesquisa tem ganhado difusão nas redes sociais. A análise faz parte da dissertação da aluna Priscilla Souza, do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PPGENF) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), que recebe bolsa da Fapeal.
A mestranda é a responsável pela divulgação e recrutamento dos participantes, junto com o bolsista do Programa de Iniciação Científica (Pibic), Matheus Melo, ambos sob a orientação da professora do PPGENF, Verônica Alves, enfermeira com doutorado em Saúde Mental.
A orientadora cita que a ideia da investigação surgiu a partir das falas de angústia emocional de ex-moradores dos bairros acometidos pelo processo de acomodação geológica, identificadas em reportagens televisivas e em mídias sociais, mas também em relatos reais de pessoas próximas aos responsáveis pelo estudo.
Tais experiências provocaram algumas inquietações nos pesquisadores frente à necessidade de se identificar a gravidade do adoecimento mental que as mudanças poderiam estar causando nesses residentes e ex-residentes.
Desde então, a investigação vem sendo conduzida de forma on-line, atentando-se à dificuldade de identificar onde os ex-moradores passaram a residir. Para o recrutamento dos integrantes deste estudo está sendo disponibilizado um link nas redes sociais – Facebook, Instagram, WhatsApp – com o convite para participar da análise.
“Estamos tendo dificuldade em sensibilizar os ex-moradores quanto à importância em participar dessa pesquisa. Pelo aplicativo, percebemos que muitos iniciam a entrevista on-line e não finalizam. Ressaltamos a importância de responderem a todas as perguntas e a finalizarem a entrevista, para que nossos resultados sejam mais fidedignos”, abordou a professora do PPGENF.
O objetivo da abordagem é entrevistar 380 ex-moradores dos bairros listados. Verônica Alves destaca que ainda não existem investigações relacionadas às consequências sobre a saúde da população vítima da instabilidade do solo nos locais afetados. “Buscas nas principais bases de dados demonstram que pesquisas voltadas para o bem-estar mental desse público ainda são inexistentes, sendo considerada inédita essa nossa análise”, frisou ela.
“Temos resultados parciais que já mostram o aparecimento relevante de sofrimento emocional nesses ex-moradores. Além disso, identificamos que a presença de ideação suicida aumentou de 2,0% (quando moravam nos bairros) para 27,5% (após a realocação). Precisamos que mais participantes respondam ao questionário, para fortalecer os achados dessa pesquisa”, abordou a professora.
Verônica Alves aponta ainda que é preciso dar visibilidade à presença de adoecimento mental das pessoas vítimas da instabilidade geológica, entendendo-se que são inúmeras famílias sem lares, e em sua grande parte em situação de vulnerabilidade social. Esses grupos muitas vezes não possuem condições sociais de buscar meios e tratamentos especializados, ou não têm conhecimento sobre determinadas enfermidades que poderiam ser consequência dessa situação vivenciada por eles.
Para quem se interessar em saber mais detalhes sobre a pesquisa basta acessar o Instagram ‘Vidas Rachadas’, ou contribuir diretamente através do link da investigação.
*com Ascom Fapeal