Formada em Ciências Contábeis pela Universidade Federal de Alagoas, a alagoana Janaína Ramos nunca exerceu a profissão. Iniciou sua carreira aos 25, numa agência de viagens, depois atuou na área financeira de um grande hotel da capital onde ficou até o ano passado, quando decidiu pedir demissão após de 21 anos de carteira assinada.
O motivo de sua coragem tem nome e sobrenome: Panos de Cordel. O negócio que começou como um hobby para ajudar sua mãe idosa a se ocupar na pandemia, hoje caiu na graça de influenciadores locais, tem milhares de seguidores, clientes fiéis, grandes parcerias e revendedores.
Janaína conta que a sua mãe sempre gostou de costura, costurava como hobby e esse foi o pontapé do passatempo que escolheram, só não imaginava que a distração viraria sua principal ocupação e que tomaria tal proporção. “Minha mãe foi acometida por um erro médico e ficou com a coluna debilitada, ela tem 77 anos. Na pandemia ficou depressiva e procurei uma forma de ajudar a ocupá-la”, afirma.
“Ela sempre fez panos de prato, mas eu nunca achei os que existem bonitos, com vaquinha, galinha, sempre gostei de um estilo minimalista. Foi quando surgiu minha ideia de utilizar a temática nordestina. Fui para a internet e peguei algumas frases, eu pintava, minha mãe fazia a barra e a alcinha”, completa.
Ela conta ainda que fez uma página no Instagram para mostrar o trabalho e que sua mãe mesmo movimentava. Janaína, que havia feito um pedido inicial de 30 panos para testar, não acreditou na aceitação que receberam logo de cara. “Corri, aprimorei a embalagem, mandei fazer adesivo, fiz sessão de fotos e foram surgindo mais encomendas, fiz 50, depois 100, minha mãe já não dava mais conta da demanda e tive que procurar costureiras para me ajudar”, afirma.
Nessa época, ela trabalhava cerca de 12 horas por dia no hotel e isso acabava deixando-a angustiada, pois precisava se concentrar em seu trabalho, mas ao mesmo tempo o Whatsapp e o Instagram estavam ali cheios de mensagens e pedidos. “Chegou o momento em que eu saí de casa pedindo um sinal a Deus em relação ao que eu devia fazer. Eu estava muito empolgada com o novo negócio, mas não podia arriscar um emprego de 21 anos”, revela.
“Nesse mesmo dia, a influencer Aline Rijo me fez uma compra e quando ela postou elogiando os panos, meu WhatsApp explodiu e meu Instagram lotou de seguidores. Pronto, era o sinal que faltava. Fui no RH e pedi minha demissão”.
Aos 47 anos, mãe de uma filha, Janaína não se arrepende da decisão e da jornada em que embarcou, a qual intitulou como “a maior loucura da vida”. “Não planejei, não estruturei, cheguei em casa e comuniquei minha demissão à família”.
Só depois de tomada a decisão é que ela começou a estudar sobre empreendedorismo. “Fui alertada por um consultor do Sebrae sobre o grande potencial do meu negócio, aí que comecei a fazer cursos e me preparar como gestora”, afirma. “Fazer o Empretec foi a grande virada de chave para minha mentalidade e para empresa”.
Hoje, a marca atua com diversos artistas que desenham no pano à mão, além disso, foi convidada pelo Instituto Guilherme Brandão, que atua com trabalhos sociais no Vale do Reginaldo, a levar sua produção para a sala de costura montada em parceria com o Sicredi, levando oportunidade de renda às mulheres em situação de vulnerabilidade do local.
A empresária também investe frequentemente em sessão de fotos dos produtos para as redes sociais para deixar um ar profissional para o negócio. Também participa de feiras de empreendedorismo, tem pontos de revenda em Maceió, Milagres e Piranhas, tudo para aumentar a capilaridade da marca. Agora, investe em um site para vendas online e viu nascer o desejo de abrir uma loja física para alcançar turistas entre Pajuçara e Ponta Verde.
Ela diz que todo esse processo faz parte da nova fase, da nova Janaína que está surgindo. As mudanças, porém, ultrapassam o âmbito da empresa.