Foto: Arquivo pessoal
Lar doce lar. Esse é o nome do restaurante de Claudilucia Silva, localizado em Olho d’água do Casado, cidade do interior de Alagoas a 270km da capital.
A escolha do nome não foi por acaso, primeiro porque o restaurante funciona em sua casa, seu lar. Segundo, porque é uma homenagem à sua participação no quadro do programa do Luciano Huck, que à época carregava esse nome.
O apresentador, que sempre foi ídolo de Claudilucia, reformou toda a sua casa em 2016, após receber uma carta em mãos com o pedido. “O elenco da novela Velho Chico estava todo aqui na cidade para gravar. Uma produtora veio aqui em minha casa porque recebeu a indicação de que eu cozinhava bem. Eu já era conhecida na região por cozinhar e fazer o sopão comunitário. Eles me chamaram para fazer um teste para ensinar as atrizes a fazer as receitas para a novela e eu passei. Foi assim que começou meu contato com ele”, diz Claudilucia.
Ela conta que, depois de um tempo, o pessoal da novela foi embora e chegou um pessoal da Globo novamente na cidade. “Chegaram dizendo que era do Gshow, foram na minha casa, colocaram um microfone, ajeitaram câmera e tudo, foi quando minha ficha foi caindo, me colocaram de costas pra porta e vendaram meu olho”, relembra. “Comecei a passar mal, minha língua embolando, me ofereceram água e me deram um tablet e quem estava nele era o amor da minha vida, o Luciano Huck. Quando virei para a porta, ele estava pessoalmente do outro lado, ajoelhei e agradeci pela graça, foi mágico”, conta emocionada.
A sequência de surpresas estava só começando. Ela, que nunca tinha viajado, veio a Maceió com a produção e depois embarcou para o Rio de Janeiro. “Ficamos num hotel chique. Eu tinha dito ao Luciano que às vezes tinha vontade de desistir e que assistir à Ana Maria de manhã com as palavras dela me fortalecia. No Rio, me colocaram uma venda no hotel e quando tirei era a Ana Maria vindo ao meu encontro.
Depois, buscaram minha filha Giovana, levaram ela para o shopping e lá estava a Angélica, compraram sapato, roupa, minha filha amou, foi maravilhoso, só tenho gratidão”, diz Claudilucia.
Sua história ficou conhecida na cidade e sua vida mudou. Ela que é merendeira de uma escola, começou a abrir sua casa para visitas e oferecer refeições intimistas, fazendo parte do roteiro do turismo de experiência de quem visita os cânions do São Francisco. “Preciso agradecer a outro anjo na minha vida que é minha amiga Janaína. Ela que me incentivou a abrir a casa e encorajou a transformar num restaurante. Hoje sirvo almoço, lanche da tarde e janta com agendamento através das pousadas locais ou com ela mesmo que traz os grupos”, afirma. “Os turistas vêm em minha casa e ficam encantados com a comida e com a energia, dizem que tem a luz de Deus”, completa.
Acontece que o lar nem sempre foi um lugar doce para Claudilucia. “O meu pai foi embora de casa e deixou minha mãe, eu e meu irmão ainda quando crianças. Depois, minha mãe conheceu uma pessoa, fomos morar nessa casa e eu engravidei ainda jovem. Fui morar com o pai do meu filho e logo descobri que ele tinha outra família. Voltei para a casa do meu padrasto e ele não aceitava cuidar de mim, filha de outro homem e ainda mais grávida”, conta. “O secretário de saúde da época foi outro anjo que conseguiu todos os exames para mim, montou um enxoval e o quarto do bebê porque eu não tinha nada, ainda me deu o leite até o sexto mês do meu filho, eu trabalhava como atendente de dentista e ganhava R$ 200,00”.
“Um belo dia estava no trabalho e minha vizinha chegou batendo na porta dizendo que minhas coisas estavam na rua com o berço e a criança dentro, meu padrasto cumpriu a promessa de nos expulsar. Quando cheguei lá, já tinham tirado o bebê do berço, a minha vizinha levou pra casa dele e já estava cuidando dele, ela é madrinha do meu filho hoje”, relembra. “Mais uma vez tive a ajuda de anjos, alugaram uma casa para mim e eu não tinha nada, a minha cama era papelão com edredom, colocava o berço do lado e pra fazer a mamadeira do meu filho eu usava a cozinha do posto de saúde. Os vizinhos me também ajudavam, levavam comida porque eu não tinha fogão”, completa Claudilucia.
Aos poucos, as coisas foram se ajeitando para ela que virou funcionária pública e entrou em um novo relacionamento. “Depois de um tempo conheci uma pessoa, fui morar com ele e passamos 21 anos juntos. Já passei muita necessidade e encontrei nele um apoio e uma proteção muito grande que eu precisava, tive outra filha, e um lar, uma vida digna”, diz agradecida e completa: “tem coisas na vida que vêm para nos fortalecer, temos tanto e não agradecemos. A gente precisa olhar para dentro e ver que nosso problema é pequeno diante dos outros”, ensina.