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“Resistir para existir”: Líder indígena fala sobre ausência de políticas públicas e preconceito contra seu povo em AL

É em Joaquim Gomes, na Zona da Mata de Alagoas, que a professora e militante, Cremilda Wassu, de 52 anos, vive com a comunidade indígena Wassu-Cocal em busca de preservar sua história e melhorar a qualidade de vida de seu povo.

Ao Eufêmea, no Dia dos Povos Indígenas, ela conta sobre a ausência de políticas públicas específicas na região e a percepção distorcida que existe sobre esta parte da população. Ela também relata sua trajetória como liderança e quem teve como inspiração nesse processo.

Líder em Alagoas e Sergipe
Foto: Cortesia

Há 15 anos, Cremilda atua como militante indígena e liderança feminina. Atualmente, ocupa um cargo no departamento de mulheres do Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme).

“Venho nessa luta de ser uma militante e liderança. Me inspirei em uma grande guerreira, chamada Maninha Xucuru, do povo Xukuru-Cariri, de Palmeira dos Índios”, relata.

Inicialmente, Cremilda atuou como coordenadora da organização indígena e coordenadora Geral do Estado de Alagoas e Sergipe. “A partir daí, como houve a necessidade da participação feminina, que era muito pequena dentro dessa organização, foi criado o departamento de mulheres indígenas dentro da Apoeme”.

“Esse departamento de mulheres é formado por uma mulher executiva, que hoje vive na sede da Articulação em Olinda, e cada estado do Nordeste tem uma representante de mulheres. Eu sou de Alagoas e Sergipe”, explica.

Problemas territoriais e ausência de políticas públicas

A professora destaca que a principal dificuldade enfrentada por seu povo ultimamente é a questão territorial. Do território tradicional da comunidade, restam cerca de 2.700 hectares, nos quais vivem mais de 3.000 pessoas.

“Temos engavetado no Ministério da Justiça 11 mil hectares de terra. Na realidade, a terra do Wassu-Cocai é de 57 mil hectares, mas só temos hoje 2.700 hectares. É muito pouco para o que temos por direito. Estamos em uma luta por mais que está travado”, diz.

Além disso, a líder informa que outra queixa do seu povo está na falta de políticas públicas dentro da aldeia, principalmente, para a juventude. “Temos problemas seríssimos com nossos jovens. Uma das coisas que mais sofremos é a falta de assistência territorial, educação e saúde”.

“Faço um trabalho com a juventude através do futebol. Ajudo a organizar um time de dentro da aldeia, para que eles não estejam tão dispersos para cair no que ‘não presta’. Essa é uma das dificuldades que vejo muito hoje: melhorias na educação. Temos muitos problemas na educação diferenciada indígena”, conta.

“Mudança representa resistência”

Para Cremilda, foi positiva a mudança que ocorreu no ano passado na nomenclatura do Dia dos Povos Indígenas, anteriormente chamado de Dia do Índio. “Para mim, antes era um pouco vaga, vazia. Fica mais recheada usando povos indígenas, porque fala de todos os povos do Brasil”.

“Essa mudança representa resistência. Nós, indígenas, chamamos abril de Mês da Resistência, que é quando realizamos uma enorme mobilização nacional, através do Acampamento Terra Livre [ATL], no qual reivindicamos todos nossos direitos, falando sobre retrocesso político”, afirma.

“O indígena tem que resistir para existir”

A professora acredita que ainda hoje há uma percepção distorcida da população indígena, principalmente dos que estão localizados no Nordeste.

“As pessoas quando não possuem conhecimento, não sabem falar bem. Para muitos, nós do Nordeste não somos Índios porque houve uma mistura com outras etnias e muitos não possuem algumas características, como os cabelos lisos”, diz.

Segundo ela, parte da população não possui conhecimento de que a região em que vivem foi afetada pela invasão dos portugueses há séculos atrás. “Fomos roubados, enganados, perdemos nossas riquezas, linguagem materna, costumes, tradição. Hoje a gente luta para preservar essa cultura”.

A líder explica que os povos do Nordeste não possuem mais a linguagem materna, exceto pela comunidade Fulni-ô, localizada em Águas Belas, Pernambuco.

“Por termos sido atacados, existe uma discriminação. Mesmo assim nós não baixamos a cabeça, preservamos nosso campo, dança, ouricuri, comidas típicas, artesanato, pintura indígena. Tudo isso preservamos para não deixar morrer. O indígena tem que resistir para existir, diante de tanta discriminação e direitos violados”, finaliza.

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Maria Luiza Lúcio

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