As férias tão sonhadas por uns, podem ser o pesadelo de outros. Elas existem para que possamos dar uma pausa de qualidade, viver momentos importantes com pessoas especiais como a família e os amigos, ou seja, nos reabastecermos na conexão mais profunda com nossas figuras de apego.
Para quem curte esse momento, saiba que isso é de extrema importância para uma vida saudável: deixar de lado seu modo profissional e voltar para o modo filho ou filha, pai ou mãe, amiga, irmã, afinal, esses modos que, mesmo existentes no nosso cotidiano, ficam um pouco esquecidos.
O modo profissional é importante, mas o tamanho que atribuímos a essa importância está relacionada a nossa necessidade de autonomia, segurança financeira e a forma como vemos o funcionamento da própria sociedade. Com isso, o modo como você lida com as suas férias do trabalho pode dizer muito sobre sua saúde mental.
Para avaliar, é importante se fazer algumas perguntas:
Não sinto entusiasmo em me organizar para as férias?
Não consigo me desconectar do trabalho durante as férias?
Não consigo realmente relaxar e aproveitar esse momento mesmo estando com aqueles que amo?
Eu evito tirar férias?
Sinto insegurança em usufruir das minhas férias?
Temo que tudo dê errado no trabalho sem a minha presença?
Sinto medo de ser substituído?
Tenho medo de perder tudo que conquistei se me afastar nesse período do trabalho?
Sente que alguma catástrofe possa acontecer sem você ali?
Se você se perceber colocando muitos “sins” nas perguntas acima, sua relação com o trabalho pode ser bastante prejudicial, afetando sua vida pessoal inclusive.
Pessoas com esse tipo de pensamento costumam apresentar sintomas como estresse, irritabilidade, ansiedade, tensões musculares, inflexibilidade ou ainda podem vir a sofrer de alguns transtornos psicológicos, como por exemplo o Transtorno de Ansiedade Generalizada (T.A.G.), Síndrome de Burnout.
Esse lugar já foi muito familiar a mim, antes da psicologia entrar em minha vida, vivenciava esses sintomas e também o muito recorrente transtorno de ansiedade. Não é fácil, tinha muito a ver com minha história de vida, um bom e longo processo de psicoterapia e tratamento psiquiátrico com as medicações que ajudaram em relação aos sintomas, foram pra mim uma virada de chave.
Hoje, consigo vivenciar esses momentos com muita alegria e prazer, mas confesso a vocês que uma certa ansiedade e insegurança sempre surgem na véspera das minhas férias, mas hoje penso: “o que resolvi está resolvido, o que não, resolvo na volta”.
Outra questão importante é avaliar quando esse comportamento “anti-férias” pode ter outros tipos de pensamentos e sentimentos que os guiam, como por exemplo:
Só eu tenho competência para isso!
As demais pessoas do trabalho são incompetentes e não fazem nada direito!
Não sinto prazer em relaxar, acho uma perda de tempo!
Fico estressado fora do trabalho!
Não sinto prazer em estar longos períodos com a família ou amigos pois programas sociais sem fins de network são perda de tempo e enfadonhos.
Aqui precisa-se acionar o alerta! Essas são características que podem estar relacionadas a alguns transtorno de personalidade como por exemplo: o transtorno da personalidade anancástica caracterizado por um sentimento de dúvida, perfeccionismo, escrupulosidade, verificações, e preocupação com pormenores, obstinação, prudência e rigidez excessivas; ou até um transtorno de personalidade narcisista (TPN), que é catalogado no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais como um padrão generalizado de grandiosidade, necessidade de adulação, falta de empatia.
O sofrimento nesse caso se estende aqueles que convivem com esse indivíduo no trabalho e especialmente na vida privada, podendo para eles ser adoecedor e gatilho para desenvolvimento de outros transtornos.
Aqui também já botei meu pezinho. Trabalhei anos para me livar de algumas características anancásticas que usava como defesa e nem sabia. Tinha uma vida tensa, preocupada, sempre voltada para obrigações, hoje vejo o quanto a vida pode ser muito mais leve, por isso digo que amo meu trabalho, pois sei o poder que ele tem na vida de quem cuidamos.
Compreenda, por favor, que esse texto não tem critérios suficientes para estabelecer um diagnóstico, existem pessoas com os sintomas ou transtornos descritos aqui que adoram viajar, desfrutar de férias, por exemplo, a avaliação clínica é essencial.
Se perceber em você ou em pessoas próximas o que leu aqui, busque um profissional da psicologia ou psiquiatria para avaliar e tratar esses sintomas ou transtornos, que por vezes nos impedem de usufruirmos dos prazeres da vida, dos momentos de descanso e lazer, da relação interpessoal saudável.
Agora, vou lá curtir minhas férias tão desejadas porque amo trabalhar, mas também amo estar com a família, amigos e desfrutar de experiências novas, divertidas e relaxantes. Quando voltar, falamos de assuntos pertinentes à saúde mental e sua influência na vida cotidiana. Até breve!
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