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Mudanças de comportamento e perda de apetite: mãe relata como identificou que filha era vítima de abuso sexual

Julia* tinha cinco anos quando os abusos começaram. A mãe e o pai se divorciaram e ele a levava quinzenalmente para a casa onde morava para passar o fim de semana. No lugar, moravam também avó, tia e seu namorado.

Ela conta que no início tudo correu bem, mas após quatro meses começou a perceber que algo estava errado, que a filha voltava com hematomas nas pernas e abdômen. “Quando questionava, o pai tirava por menos, dizia que era ela brincando no quintal, e como era muito branquinha, fazia sentido se machucar facilmente”, relembra.

“Por duas vezes, minha filha ligou para que eu a buscasse de madrugada, pois não estava conseguindo dormir. Logo após esses acontecimentos, ela me disse que tinha algo sério a me contar, que era o namorado da tia que estava causando as manchinhas quando a apertava e logo em seguida desmentiu tudo dizendo que era brincadeira”, conta.

“Tirei a meia calça e estava cheia de hematomas”

A mãe contou ao Eufêmea ainda que um dos episódios mais desesperadores foi numa festinha de aniversário da filha: “quando tirei sua meia calça, ela estava cheia de hematomas nas nádegas, pernas e braços”.

Ela lembra que se desesperou e correu para a UPA, onde fez todos os exames que deram normais. “Quando o médico me perguntou se ela praticava algum esporte de contato, foi que tive a certeza que minha suspeita estava certa”.

Outro ponto observado pela mãe foi a mudança de comportamento da menina que passou a ser agressiva, perdeu o apetite, teve queda de cabelo e unhas.

“Me mudei e buscamos orientação do Conselho Tutelar. À psicóloga, minha filha confirmou com detalhes os abusos que vinha sofrendo, conseguimos a medida protetiva, guarda unilateral e estamos aguardando o julgamento”, disse. Essa semana, o Ministério Público pediu a prisão preventiva do acusado.

A cada hora três crianças são abusadas

Infelizmente essa realidade não é incomum. No Brasil, a cada hora três crianças são abusadas. Mais da metade, cerca de 51% têm entre 1 a 5 anos de idade.

Todos os anos 500 mil crianças e adolescentes são explorados sexualmente no país e há dados que sugerem que somente 7,5% dos dados cheguem a ser denunciados às autoridades.

Maio laranja

Para chamar atenção à realidade das crianças que alimentam esses dados alarmantes, nesse mês, são realizadas em todo Brasil diversas campanhas de conscientização dentro da programação do Maio Laranja.

O mês foi escolhido porque dia 18 é o marco nacional de combate ao abuso e à exploração sexual infantil no Brasil. Essa data foi instituída em 2000 pelo projeto de lei 9970/00, que relembra o assassinato de Araceli, uma menina de oito anos que foi drogada, estuprada e morta por jovens de classe média alta, neste dia, no ano de 1973, em Vitória (ES). Esse crime, apesar de sua natureza hedionda, até hoje permanece impune.

“Temos que educar sexualmente as crianças”

Na tentativa de buscar justiça e evitar a impunidade no caso de Júlia*, sua mãe hoje milita em prol de mulheres e crianças vítimas de violência. “Meu propósito é lutar e alertar sobre essa realidade e sobre judiciário machista que favorece os abusadores, e manteve minha filha vulnerável exposta a essa realidade”.

“Hoje entendo o quanto é importante educarmos sexualmente as nossas crianças. Eu achava que devia conversar sobre isso com minha filha quando ela estivesse adulta, mas se ela tivesse orientação sobre o que estava acontecendo, saberia que era errado”, lamenta.

  • Nossa reportagem usou um nome fictício para preservar a identidade da família
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Meline Lopes

Jornalista, advogada, especialista em comunicação e em marketing digital. Atuou como repórter de televisão durante 9 anos em diversas emissoras do Brasil. É repórter do Eufêmea.