Algumas vezes percebo um certo espanto quando eu, como psicóloga, digo que também estou em psicoterapia. Acredito ser útil, tanto para psicólogos quanto para os pacientes, compreenderem melhor o porquê dessa necessidade.
A psicologia enquanto estudo nos apresenta uma série de questões que fazem com que possamos compreender que muito do que carregamos não é necessariamente nosso, que a existência de padrões transgeracionais podem ser bastante disfuncionais em nossa vida.
Podemos perceber também sintomas e até características de alguns transtornos. Quem nunca se identificou com algum sintoma em uma aula de psicopatologia e semiologia? Acho que ninguém passa sem perceber ter ou já ter tido algo.
Mas o melhor de tudo é a compreensão de que podemos mudar para melhor sempre, que os movimentos que usamos podem ser mudados se quisermos, e que a psicoterapia é um caminho assertivo e científico para isso .
Mas se somos formados em psicologia, por que não resolvemos nossas questões com nosso próprio conhecimento?
A resposta é simples: nossa visão de nós mesmos é bastante limitada, prejudicando o processo avaliativo que é a base de qualquer intervenção.
Aí entra outro ponto de suma importância que é a díade terapeuta/paciente, permitindo também nessa interação o processo fundamental para cura que é o vínculo terapêutico.
Então, nós também precisamos de outro profissional para enxergar e reparentalizar tudo que for necessário para o nosso desenvolvimento, assim como um dentista precisa de um dentista para tratá-lo ou como um médico precisa de outro.
Outra limitação que ocorre é a falta de compreensão do psicólogo como um ser humano, que também enfrenta questões situacionais, transtornos psicológicos tal qual outras pessoas.
Sempre faço questão de dizer aos meus pacientes, quando pertinente, que também cuido de aspectos esquemáticos, sintomas ou transtornos parecidos com os deles. Reconhecer-me como humana, mostrar o caminho que você mesmo percorreu para a cura mostra que isso é palpável e fortalece a conexão.
Vamos fazer uma reflexão: como cuidar da saúde mental de alguém quando a nossa está prejudicada? Absolutamente incongruente, não acha? Não digo que só podemos atender livres de questões, isso é impossível na verdade! O que percebo é que, ao cuidar da sua saúde semanalmente, você estará muito mais apto a cuidar de outros, pois mesmo que seu processo esteja em andamento e você não se sinta totalmente livre do seus sintomas estará com plena consciência deles e não permitirá que suas questões confrontem com a necessidade dos seus pacientes.
Trabalhamos com emoção, com vínculo, com verdade, com dores e situações muito difíceis, não tem como não sentir, de certa forma, a dor dos seus pacientes, e alguns casos irão tocar diretamente na sua própria história de vida.
Devemos cuidar disso no nosso processo para que, quando estivermos no papel do terapeuta, nos ocupemos de ajudá-los a criar soluções adaptativas, separando o que é seu e o que é deles, então isso também é um processo que nos move para mudanças. Ao cuidar do outro sempre estamos aprendendo e nos percebendo.
Se você psicólogo e ainda tem dúvida se deve investir em psicoterapia, analise que muitas vezes o que te afasta dos resultados que gostaria de ter, são padrões que não consegue perceber e superar sozinho, que isso também pode influir significativamente no processo do seu paciente.
Eu particularmente digo a minha psicoterapeuta, Ana Carolina Ferreira, (@vinculosinteligentes) que ela não se livrará de mim! rs. Posso dizer que amo terapia, tanto como terapeuta como no papel de paciente.
E você colega terapeuta, está cuidando da sua saúde mental?