Texto de Neggalu Rodrigues
Modelo na foto: Gisele Ladislau
Focarei, no âmbito das ideias, em escrever especificamente sobre a experiência da mulher negra cis e heterossexual no território brasileiro.
Entendo que não estamos todas no mesmo barco, pois cada subjetividade possui suas próprias especificidades e realidades únicas.
As mulheres negras lésbicas, transexuais, bissexuais, assim como as mulheres negras com deficiência, vivenciam realidades diferentes, que também variam dependendo das classes sociais que cada uma ocupa, carregando dores e experiências que não posso generalizar de forma simplista.
Este princípio aborda especificamente como o racismo, o patriarcado, a opressão de classe e outros sistemas discriminatórios criam desigualdades básicas que estruturam as posições relativas das mulheres, raças, etnias, classes e outros.
Além disso, a interseccionalidade aborda como ações e políticas específicas geram opressões que fluem ao longo desses eixos, constituindo aspectos dinâmicos ou ativos do “desempoderamento” (Crenshaw, 2002, p. 177).
Embora tenhamos conquistado avanços no campo da igualdade de gênero e raça, é inegável que ainda precisamos progredir nas discussões para promover ações afirmativas diante dos desafios que ainda existem. As mulheres negras precisam ser reconhecidas como seres humanos, pois o racismo estrutural e o sexismo persistem diariamente, desumanizando aqueles na base da pirâmide social, incluindo as mulheres negras.
É importante reconhecer que a experiência da população negra é marcada por processos contraditórios e antinegros. Atos violentos, como o machismo e o racismo atuais, visam desumanizar as mulheres, negar sua humanidade e transformá-las em “coisas”.
É por isso que nos são atribuídos estereótipos de “mulata”, nomenclaturas de “bicha fedorenta” ou “barraqueira” que não levam desaforo para casa. Na área da saúde, sofremos durante o parto, nas consultas ginecológicas, sendo estereotipadas como “suportando mais a dor” ou com “odor mais intenso”. Essas ações e palavras, entre outras, estão enraizadas no Brasil e buscam desumanizar a mulher negra.
Não sangramos como vocês? Não morremos? Não nascemos de um ventre? Não sentimos fome, sono, sede ou medo? Não amamos e desejamos? É nessa perspectiva que concluo afirmando que somos seres políticos, carregando direitos e subjetividades.
Estamos compartilhando nossas histórias, temos vozes, ouçam-nos. Somos fortes, contribuindo para o mundo, estamos presentes na ciência, na construção familiar, na formação de ideias, somos seres existentes e humanos.
Eu não vou permitir que minha vida seja reduzida.
Parafraseando Bell Hooks, “Não vou me curvar aos caprichos ou à ignorância de outras pessoas”.
–