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Da infância humilde a proprietária de duas clínicas em Alagoas: “comprávamos uma roupa por ano”

Fisioterapeuta, especialista em dermatologia funcional, mestre em ciência da educação, empresária, dona de duas clínicas de estética em Alagoas. As conquistas de Marta Vieira são resultado de uma história cheia de amor, união e desafios.

Filha de pai pedreiro e mãe costureira, Martinha, como é conhecida, é natural de Maribondo, a 87km de Maceió, e conta com carinho sobre as vivências da sua infância com os sete irmãos.

“Foi daquelas bem raiz mesmo. Como eu sou uma das mais novas, só andava com meus irmãos homens, então tive uma infância de brincadeiras de menino. A gente fugia para o rio, para a serra, era pé no chão de verdade”, relembra.

“Podíamos comprar uma roupa por ano”

“Não foi uma infância e nem uma adolescência de luxo, foi de salário mínimo, a gente só podia comprar uma roupa por ano, mas essa fase não é uma fase que me entristece”.

Mesmo tendo cursado apenas o primeiro grau, seus pais sempre insistiram para que todos estudassem e fossem mais longe. Marta foi a primeira dos filhos a entrar na faculdade e essa alegria trouxe também muito sacrifício.

“Apesar de ter feito faculdade com o FIES, minha mãe precisava costurar para conseguir pagar minha faculdade e ela não deixava eu trabalhar de jeito nenhum enquanto eu estudasse que era para não perder disciplina nenhuma, então foi uma fase muito difícil, muito difícil”.

“Tiveram vezes em que o meu pai dizia: você está vendo que está imprensado, não é melhor parar? E ela insistia que não, que uma hora ia passar”, conta.

E passou. Depois de formada, já trabalhando, ela pode ajudar o irmão mais novo a fazer sua faculdade e depois dele, os sobrinhos. “O acordo era que quando eu terminasse, tinha que ajudar o próximo a estudar, que era o Fael, em vez de pagar a faculdade sozinho, dividia por dois. Quando ele formou, nós dividimos por três a do sobrinho, e assim fomos”.

“A fisioterapia me escolheu”

Formada há 13 anos, Marta conta que entrou na faculdade de forma curiosa. Ela, que sempre quis fazer educação física, acabou não passando na segunda fase e se matriculou no vestibular de fisioterapia para acompanhar uma amiga.

“Ela me chamou pra vir fazer com ela só pra não vir sozinha, pagou a minha matrícula, a minha passagem. Aí acabou que no dia do resultado eu liguei para a faculdade para saber se ela tinha passado e descobri que eu tinha e ela não”, afirma.

“Como eu tinha passado, eu disse que ia tentar. Me apaixonei pela fisio no primeiro semestre”.

O início da clínica
Foto: Cortesia ao Eufêmea

Ela precisou deixar seus pais e sua cidade para vir estudar na capital. Aqui, conheceu seu ex-marido, conseguiu trabalho e se estabeleceu. Em 2012, alugou uma salinha em um salão de beleza para ministrar aulas de pilates e foi aí que nasceu a empreendedora Marta.

“Conversei com meu cônjuge à época para usar a garagem e um quartinho da nossa casa. Ele concordou e graças a esse apoio, consegui montar meu primeiro cantinho. Minha amiga estava vendendo os aparelhos dela e comprei tudo parcelado e bem barato”, lembra.

“Nesse lugar eu consegui fazer uma sala bem pequenininha que só cabia realmente uma maca. Passei basicamente uns três a quatro anos nesse nesse cantinho, mas a minha clientela já acabou aumentando muito e em 2020 decidi me mudar e transformar a casa toda numa clínica”.

Pouco depois veio a pandemia e Marta conta que se viu totalmente perdida, sem poder atender, não sabia se conseguiria concretizar seus planos. “Não me pergunte como, mas a gente conseguiu terminar a reforma da clínica, onde a gente fez duas salas, uma corporal, uma facial, sala para atendimento de nutricionista, psicólogo, espaço do pilates, recepção, uma salinha para manicure”, comemora.

A expansão da empresa
Foto: Cortesia

Há cerca de dois anos, a empresária se lançou em mais um desafio em busca de passar mais tempo ao lado da sua família no interior do estado. “Estava trabalhando muito aqui e acabei ficando sem tempo de ver meus pais que já estão com 79 e 75 anos, aí eu decidi abrir a clínica lá em Maribondo, que teve uma aceitação muito boa, mas o grande intuito na verdade era estar com eles”, conta.

“Tudo que eu faço na minha vida hoje é pensando na minha família, nos meus irmãos, no meu pai, na minha mãe. Me sinto na obrigação de não decepcioná-los por toda a confiança depositada em mim esse tempo todo”.

Hoje, a clínica de Maceió tem oito parceiros e colaboradores, a de Maribondo tem seis. Marta, que diz jamais ter imaginado algo grandioso, espera estudar empreendedorismo para ver sua clínica crescer cada vez mais.

“Consegui comprar casa, carro. Quero alavancar mais a clínica, mas às vezes eu paro e penso, meu Deus, onde foi que eu cheguei e basicamente sem pretensão nenhuma, só trabalhando e as coisas acontecendo”, afirma.

“Eu acho que eu consegui alcançar as coisas que eu queria alcançar, o que vem agora é consequência. Se você trabalha limpo, tem confiança e intimidade com Deus, tem caráter, faz o seu todos os dias sem tentar passar a perna em ninguém, não tem como dar errado”, encerra orgulhosa.

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Meline Lopes

Jornalista, advogada, especialista em comunicação e em marketing digital. Atuou como repórter de televisão durante 9 anos em diversas emissoras do Brasil. É repórter do Eufêmea.