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Os dias em que precisamos não fazer NADA (reflexões sobre o ócio)

A rotina de nós mulheres é extenuante. Tem que dar conta do relacionamento, da casa, do trabalho, dos estudos, de si mesmo, e não adianta dizer que é no mesmo ritmo dos homens.

Nós, mulheres, temos as cobranças do outros, e de nós mesmas, de fazermos sempre o melhor. Infelizmente, devido aos paradigmas patriarcais, para crescermos profissionalmente precisamos ser bem melhores do que os homens. Não nos sobra tempo para nada.

O aspecto produtivista, utilitarista, que o mundo nos impõe é cruel. Precisamos, além de trabalharmos muito, mostrar resultados.

E, definitivamente, eu estou cansada! Você não?

Qual foi o último dia em que você reservou um tempo para prestar atenção em você, se observar, entender seu corpo, parar, relaxar e pensar na sua vida?

Qual foi o último dia em que você encontrou tempo para não fazer nada?

Precisamos desconstruir a obrigatoriedade do trabalho exaustivo para nós mulheres! Esse discurso de que as mulheres são multitarefas e aguentam fazer várias coisas ao mesmo tempo é bem conveniente para os homens. Nós estamos acumulando as funções e adoecendo. Enquanto os homens fazem uma coisa de cada vez, no tempo deles, e está tudo bem.

Se toda grande obra parte de um lugar de tranquilidade, quando paramos para sermos criativas?

A ideia de ócio criativo elaborado pelo sociólogo italiano Domenico De Masi, explica que o tempo que gastamos no mundo de trabalho acaba por prejudicar nossas relações interpessoais. Para De Masi, a sociedade precisa combinar trabalho, estudo e lazer, fazer o trabalho eficiente e conseguir tempo para estudo e lazer.

Quanto mais tempo de entretenimento, mais felizes e criativas ficam as pessoas, o que aumenta a produtividade em menos horas. Isso pode ser observado na Alemanha onde são trabalhadas 6h diárias e há alta produção, quando comparada à Itália onde se trabalham de 8h a 10h diárias.

E qual o futuro?

Jonh Keynes, em 1930, previu que em 2030 as máquinas trabalhariam para nós, e só teríamos 15h de trabalho por semana e poderíamos dispor de tempo livre.

Países como Portugal, Bélgica e Islândia já aumentaram os dias de descanso, reduzindo a jornada de trabalho semanal em 4 dias.

No século XX, Bertrand Russell dizia que o homem que tem muito tempo livre não pode se dar o luxo de ser ignorante. Para ele, esse tempo deveria ser dedicado ao autoconhecimento e aos estudos. Então…

Não se culpe por não fazer nada!

Reserve um tempo da semana para isso. Eu também vou tentar aqui…

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Natércia Lopes

Licenciada em Matemática, Mestra em Educação Matemática e Tecnológica, Doutora em Ciências da Educação pela Universidade de Coimbra e Psicanalista formada pela ABRAPSI.