Colabore com o Eufemea
Advertisement

“Seus dentes são brancos; o cabelo dela é ruim”: mulheres compartilham relatos de discriminação racial

A discriminação racial é uma realidade persistente e prejudicial que afeta inúmeras pessoas em todo o mundo. Ela pode se manifestar de várias formas, desde atitudes sutis de preconceito à violência e exclusão institucionalizada.

Discriminação racial é crime e é configurado quando alguém, “por meio de ações, palavras, gestos, escritos ou qualquer outro meio de expressão, ofende, humilha, constrange ou prejudica uma pessoa em razão de sua raça, cor, etnia, religião ou origem”.

Ao Eufêmea, mulheres contaram situações de discriminação que elas vivenciaram e a dor de carregá-las até hoje.

“Seus dentes são tão brancos para alguém como você”

A estudante de jornalismo, Lorena Freitas, de 24 anos, compartilhou uma experiência de discriminação racial vivida na infância, quando sua mãe trabalhava na casa de uma família em um condomínio.

Segundo Lorena, enquanto olhavam seu irmão, que é branco, parecia difícil para os outros reconhecerem a maternidade de sua mãe, mas quando a olhavam, parecia mais aceitável. “E ainda, ao me olharem, me tratavam como um bichinho de estimação, chegando a dizer: “Seus dentes são tão brancos para alguém como você”.

Ela relembra que as crianças evitavam se aproximar dela quando brincavam no condomínio. “Fiquei esperando a mãe na parte de baixo do condomínio e as crianças não chegavam perto de mim, eu brinquei sozinha”.

Em um episódio específico, uma mulher chegou a fazer comentários sobre seus traços faciais e a cor dos seus dentes, tratando-a como se fosse um objeto exótico.

“Ela era a mãe de uma das crianças. Ao se aproximar, perguntou o que eu estava fazendo ali, e eu respondi. Então, a mulher colocou a mão no meu rosto, comentando que meus traços eram delicados e meus dentes muito brancos. Em seguida, ela riu e saiu”, contou.

Lorena percebeu a natureza racista dessas situações apenas quando cresceu, e foi difícil fazer sua mãe entender o racismo envolvido. “Quando eu cresci, lendo, eu vi muito problema nisso. Tive que falar com a minha mãe sobre, mas ela não entendeu como racismo”.

Para Lorena, ver sua mãe sem entender o problema foi mais doloroso do que os próprios atos discriminatórios, pois a preocupação era de não ter sido uma mãe boa o suficiente, quando, na verdade, ela não era o problema.

“Porque essa pessoa não tinha tempo para adquirir conhecimento, ela estava apenas cuidando dos filhos. No final, fica evidente a preocupação de não ter sido boa o suficiente, quando na verdade ela não era o problema. Isso é algo doloroso de presenciar”, enfatizou.

“Ela não é mulher para você”

Uma enfermeira que não quis ser identificada contou ao Eufêmea que uma situação que ela vivenciou com a ex-sogra a marcou muito. Uma vez, a alagoana viu uma mensagem no celular do ex-marido: “Ela não é mulher para você porque é negra e tem cabelo ruim, existem outras mulheres brancas com as quais você pode se exibir por aí”.

Além dessa mensagem, a enfermeira relatou que a ex-sogra constantemente reforçava essa ideia para o filho. “Ele ficava furioso e reclamava com ela”.

Segundo a enfermeira, sempre que estava na casa da ex-sogra, ela arranjava motivos para criticá-la. “Ela inventava coisas para que eu cuidasse do meu cabelo, das unhas e das sobrancelhas. Quando chegávamos a algum lugar, ela dizia que eu era a nora dela, mas que tinha carro e era formada”.

Cansada das constantes provocações, a enfermeira reagiu e disse para a ex-sogra “levar o seu preconceito e ir embora, porque o preconceito dela dizia respeito a ela, não a mim”.

Picture of Raíssa França

Raíssa França

Cofundadora do Eufêmea, Jornalista formada pela UNIT Alagoas e pós-graduanda em Direitos Humanos, Gênero e Sexualidade. Em 2023, venceu o Troféu Mulher Imprensa na categoria Nordeste e o prêmio Sebrae Mulher de Negócios em Alagoas.