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“Fui proibida de entrar no meu próprio escritório”, relembra Gabriely Gouveia. A advogada conta que passou por cerca de dois meses e meio de terror psicológico com ameaças, assédio moral e coação por parte do seu antigo sócio.
De acordo com ela, a situação de violência começou após a eleição do Quinto Constitucional do ano passado, quando o advogado entregou para os funcionários uma lista de quem queria que fosse votado e algumas pessoas não cumpriram.
“Ele convocou uma reunião para perguntar de um por um em quem tínhamos votado e quando eu disse que foi em alguém diferente, ele se alterou dizendo que eu estava agindo contra ele, que não queria o bem do escritório”, afirma.
“Expôs minha vida pessoal”
Desde então, essa foi apenas uma das situações de coação. Segundo Gabriely, até sua simplicidade e sua vida pessoal eram motivo de ataque por parte do sócio. “Chegou o momento de ele querer proibir que eu recebesse visitas pessoais no escritório. No dia do advogado, minhas primas foram me levar um presente e ele bateu na mesa dizendo que isso não podia acontecer, sendo que ele recebia os amigos com frequência”.
”Me deu uma data para sair”
A sociedade contava inicialmente com os dois, de acordo com Gabriely, o colega precisava dela para conseguir gerir e para fazer os trabalhos técnicos do dia a dia.
Mas o escritório rapidamente cresceu e passou a contar com uma equipe de advogadas, secretárias, estagiárias e ela acredita que passou a ser vista como desnecessária, alguém com quem teria que dividir os ganhos. “Chegou um determinado momento em que ele disse que não queria mais a sociedade e eu disse que tudo bem, que sentássemos para resolver as questões financeiras, que ele me fizesse uma proposta para comprar minha parte”, ressalta.
Ela conta que isso nunca aconteceu e que foi a partir daí que ele deu um ultimato deixando-a sem saída a não ser desistir do sonho que estava construindo.
“Ele me disse que eu tinha até tal dia para sair do escritório e eu disse que não ia sair do que era meu. Então, ele ameaçou que se eu fosse para o escritório no dia seguinte, eu assumiria toda a responsabilidade financeira sozinha, estrutura e equipes, sendo que ele tinha o controle financeiro de tudo e eu perguntei se ele me entregaria, ele respondeu que isso era um problema meu”.
”Está lucrando o que era meu”
Gabriely conta que o ex-sócio está recebendo os ganhos financeiros que são também fruto do trabalho dela, mas que ela não recebeu nada desde a sua saída.
“Ele ainda me colocou na justiça exigindo tão somente a retirada do meu nome da sociedade e eu aproveitei o processo para exigir os valores que são meus por direito. O mês em que me afastei foi justamente o que começaram a sair os valores altos e para me fraudar, soube de alguns clientes que pediu para levarem em mãos, assim não é possível comprovar movimentações na conta”.
A advogada conta ainda que houve duas oportunidades de agregar homens à equipe, mas o colega nunca quis, sempre arrumava uma forma de tirá-los. “Eu tenho certeza de que se fosse homem ele não agiria dessa forma, ele assumiu a postura do que cuida, de que estaria assumindo as finanças para nos ajudar de modo que a gente se sentia até agradecida e hoje eu vejo o tamanho da manipulação a que fui submetida”, desabafa.
“A intimidação foi tanta que demitiram até uma funcionária de um sindicato que a gente prestava serviço por ela ter sido solidária a mim. Da mesma forma, ninguém do escritório tem mais contato comigo e minha relação com todos era maravilhosa”.
”Desenvolvi Síndrome do Pânico”
Gabriely disse ainda ao Eufêmea que as pessoas diziam que ela devia se impor e ir para o escritório que era seu, mas ela relata que não tinha forças. “Eu fiquei totalmente de mãos atadas e sem reação. Não tinha clareza das coisas à época, pois fiquei destruída emocionalmente. Ia trabalhar chorando todos os dias, faço terapia até hoje, fui diagnosticada com ansiedade generalizada e estava com síndrome do pânico”.
”Fui ameaçada de morte”
Situação de ameaça também foi vivida pela advogada Mariana Sampaio, mas dessa vez, pelo ex-companheiro de sua cliente durante uma ação de reconhecimento e dissolução de união estável com partilha de bens.
Na ocasião, precisou haver a intervenção do juiz para solicitar que policiais acompanhassem a profissional até o carro. “Ele disse que ia me pegar para eu saber o que era bom, que não tinha nada que tá pedindo dinheiro para ele, que eu tomasse cuidado. Quando saí da audiência eram quase 20h, me senti com medo e vulnerável”.
Para ela, o fato de ser mulher cria nessas pessoas o sentimento de estarem livres para fazerem o que desejarem. “Só são valentões para cima da gente, na cabeça deles, demonstra uma “fragilidade” maior, como se a gente não fosse reagir e aceitasse a ameaça calada”.
”Sofri assédio sexual pelo ex-chefe”
O fato de ser mulher não lhe rende ameaças só de homens, mas também já lhe trouxe problemas com outras mulheres. “Já fui ameaçada pela filha do meu ex-chefe por ela achar que eu tinha um caso com o pai dela. Eu era estagiária, tinha uns 23 anos e ele 67”, lembra.
Mariana conta que o assédio era praticado de forma recorrente pelo profissional sobre boa parte das funcionárias, que além de terem que lidar com esse constrangimento, que é crime previsto pelo Código Penal, ainda tinham que lidar com a desconfiança de outras mulheres. “A gente (estagiária) não podia falar nada, nos sentíamos coagidas e com medo dele e de perder o emprego”, completa.
”Estamos cada vez mais atentas”
Presidente da Comissão Especial da Mulher da OAB/AL, Cristiane Lúcio afirma que a instituição tem estado cada vez mais atenta a essa realidade, apurando de perto as denúncias de violência e assédio, não só na advocacia, mas das mulheres da sociedade civil em geral. “Estamos prontas a dar o suporte inicial necessário e, sendo o caso, acompanhar processos para respaldar excessos e garantir a segurança emocional das vítimas”.
Cristiane ressalta ainda o papel institucional da Comissão, não apenas dentro da Ordem, mas o papel social de amparar as mulheres junto a outras instituições.