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Crise na representatividade? Especialista alerta sobre queda de mulheres em cargos de liderança

(Foto: Unsplash)

As barreiras enfrentadas por mulheres em sua trajetória profissional são persistentes, e as oportunidades no mercado de trabalho têm demonstrado sinais de retrocesso. No ano de 2023, o percentual de mulheres em posições de liderança diminuiu para 32% em escala global, conforme constatado por um estudo global conduzido pelo Institute for Business Value, da IBM.

Conforme as informações fornecidas, a pesquisa abrangeu a participação de 2.500 profissionais provenientes de organizações de 12 países, incluindo o Brasil.

O relatório destaca a notável redução na representatividade dessas posições durante a pandemia, bem como o fato de que essa recuperação ainda não foi plenamente realizada. Atualmente, apenas 14% das posições são ocupadas por vice-presidentes sêniores, contrastando com os 18% registrados em 2019, ou seja, no período pré-pandêmico.

Desafios da equidade de gênero
Foto: Cortesia ao Eufêmea

Ao Eufêmea, a pesquisadora sobre mulheres de negócios, Cristiane Souza, analisa que a equidade de gênero ainda é um tema distante para muitas organizações, que não priorizam o avanço das mulheres. Ela também aponta que “àquelas [empresas] que criam programas de diversidade, nem todas efetivam as políticas nem põem em prática as ações de uma forma continuada”.

De acordo com a especialista, o pensamento limitante no ambiente de trabalho não favorece o fomento de oportunidades para todas, especialmente aquelas que enfrentam desmerecimento devido a processos sócio-históricos e políticos.

Ela reforça ainda que a pandemia também contribuiu, afetando de forma desproporcional a rotina das mulheres trabalhadoras. “A inclusão de mulheres na liderança também não assume importância prioritária para as organizações, em geral, com barreiras que o público feminino precisa enfrentar para conseguir as mesmas oportunidades que os homens”

“A vida das mulheres, incluindo as líderes que são mães, resulta em um espaço reduzido no ambiente de trabalho, enquanto enfrentam uma carga horária muito mais pesada em casa, quando comparada à maioria dos homens”, prossegue.

Em relação a padrões identificados nas diferentes regiões do mundo, Cristiane mencionou que ainda prevalece a tendência de incluir mulheres em cargos de liderança em grandes centros urbanos.

“O processo ainda está muito longe do ideal. Portanto, desafiar essas barreiras e o pensamento limitante de acionistas, trabalhadores e sociedade são fundamentais para promovermos a transformação necessária”, destaca.

Habilidades valorizadas

Para promover a igualdade de gênero e incentivar mais mulheres a assumirem cargos de liderança, Cristiane enfatiza a importância de organizar iniciativas com foco para mulheres. “Todos precisamos estar na causa do protagonismo feminino como caminho de valorização da mulher na liderança, especialmente, e redução das desigualdades de gênero no mercado de trabalho”.

A pesquisadora destaca ainda as habilidades e características valorizadas em posições de liderança.

“A liderança colaborativa é uma das características mais vistas entre líderes femininas. Dentre as principais habilidades estão a empatia, comunicação eficaz, flexibilidade, habilidades interpessoais e habilidades em gestão de tempo; diálogo e a construção de relações interpessoais, optando pelo consenso em vez de impor autoridade. A empatia em relação aos às pessoas. A flexibilidade em se adaptar às necessidades e às mudanças.”

Ao ser questionada sobre os principais desafios que as mulheres enfrentam ao buscar posições de liderança em suas carreiras, a pesquisadora responde que “o preconceito e desvalorização decorrente é um dos mais enraizados”.

Discriminação no ambiente de trabalho

É o caso da Advogada trabalhista, Mariana*,  que perdeu o cargo de liderança e vivenciou a experiência de discriminação no ambiente de trabalho, onde enfrentou práticas machistas e gordofóbicas.

Ela narra sua jornada desde os primeiros passos como estagiária até alcançar a posição de coordenadora no Departamento Jurídico de uma renomada empresa, após ter sido aprovada no exame da OAB [Ordem dos Advogados do Brasil].

“Um ano após ser contratada, um novo chefe entrou, alguém bastante machista e preconceituoso em relação ao peso. Naquela época, eu estava pesando 90 kg, o que me enquadrava na categoria de obesidade, enquanto ele ostentava uma imagem musculosa”, ela relata.

A advogada relata que seus casos mais delicados e cruciais foram redirecionados para seu colega, ao passo que tarefas mais rotineiras foram delegadas a ela durante o período de suas férias.

“Não foi por inaptidão ou qualquer fator semelhante, visto que semanas antes eu havia recuperado uma quantia substancial para a empresa em que atuava, recebendo inclusive elogios da Matriz. Acredito que esse tenha sido o ponto de partida”, ela observa.

“Meu chefe já tinha preconceito por ser mulher, e acredito que isso gerou uma crise de ciúmes. Por esse motivo, quando retornei ao trabalho, ele me explicou todas essas questões. Foi uma conversa péssima, me senti muito humilhada, porque ele fazia questão de ressaltar as qualidades do meu colega homem”, relata.

A mulher também destaca que erros cometidos por seu colega foram perdoados, enquanto seus próprios erros foram expostos em reuniões, levando-a a questionar sua competência e sofrendo com constantes humilhações e exclusões em reuniões importantes.

A situação se agravou a ponto de Mariana desenvolver Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), além de ver a depressão, que ela tinha sob controle, retornar. Ela relata que sua paixão por conduzir audiências, uma habilidade em que se sentia confiante e elogiada anteriormente, se tornou uma fonte de pânico devido ao ambiente hostil em que estava inserida.

“Abandonei a advocacia”

“Uma situação que ficou bastante marcada foi quando meu colega saía de férias; nesses momentos, o chefe o acompanhava em todas as audiências. Em uma ocasião específica, aconteceu algo inesperado: eu precisava comparecer a uma audiência, a pedido da matriz. Após o término da audiência, o representante da empresa elogiou muito meu desempenho, afirmando que eu me saí muito bem e sugerindo que eu conduzisse as próximas etapas do caso.”

“Ele fez uma reunião a portas fechadas pra dizer que eu queria tomar o lugar do meu colega… sendo que antes esse lugar também era meu, era de nós dois. E que foi um lampejo de sorte, mesmo com meus processos sendo condenações mínimas ou improcedências”, continua.

Outra advogada no mesmo ambiente também enfrentou situações de discriminação, dessa vez baseadas na intenção de ser mãe. Mariana denuncia que essa colega foi privada de oportunidades por causa desse desejo.

“Hoje eu abandonei a advocacia e tenho uma outra profissão. O trauma foi tão grande que tive que fazer terapia para me achar capaz”, finaliza.

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Rebecca Moura

Estudante de Jornalismo pela Universidade Federal de Alagoas e colaboradora no portal Eufêmea, conquistou o primeiro lugar no Prêmio Sinturb de Jornalismo em 2021. Em 2024, obteve duas premiações importantes: primeiro lugar na categoria estudante no 2º Prêmio MPAL de Jornalismo e segundo lugar no III Prêmio de Jornalismo Científico José Marques Melo.