“Me senti muito violentada. Não só eu, mas ‘mainha’ mãe também”. A fala é de Yara Sereya, mulher trans que denunciou ter sido vítima de transfobia e racismo na última quinta-feira (24). O caso aconteceu durante atendimento na Associação de Apoio à Família e ao Meio Ambiente, AFAB de Camaçari, na Bahia. O atendente é um vereador cassado conhecido como Val Estilos. A reportagem entrou em contato com o ex-vereador, porém não obteve respostas.
Ao Eufêmea, Yara contou que buscou a instituição para tentar a realização de alguns procedimentos cirúrgicos, a Redesignação Sexual para ela, e uma cirurgia de retirada de hérnia para a sua mãe.
“No atendimento pelo WhatsApp, me disseram que tinham vaga para a cirurgia de orquiectomia (termo cirúrgico que descreve a ação de retirada dos testículos) e a que a redesignação eu ia conversar”, afirma.
No atendimento, Yara conta que recebeu tratamento no masculino, tendo que corrigir o colaborador diversas vezes, até que percebeu estar sendo vítima de crime e começou a filmar. “Depois de todo o transtorno e da violência sofrida, saí da sala e ele foi atender mainha e continuou me tratando no masculino e mainha tendo que corrigir o tempo todo”.
Nos vídeos feitos por Yara, é possível ver uma discussão entre ela e o atendente. Em um dos momentos, o atendente chama a atriz de “meu querido” e quando é corrigido, completa com “você é homem e não mulher”.
Veja o vídeo:
Vereador já teve o mandato cassado
O agressor apontado por Yara, que aparece nas imagens, é conhecido por Val Estilos. Em sua biografia no Instagram, ele se diz apoiador da Afab e vereador. No entanto, Val teve o mandato cassado por abuso de poder econômico e político nas eleições de 2020, justamente, segundo o que aponta o processo, por se utilizar dos serviços da associação para se eleger.
A decisão, proferida pelo Tribunal Regional Eleitoral da Bahia, também torna o parlamentar inelegível por oito anos e o obriga a um pagamento de multa de 10 mil Ufir.
A equipe do Eufêmea tentou contato com o ex-vereador por meio das redes sociais e, até a publicação dessa reportagem, não recebeu resposta, mas a outro veículo, Destaque1, ele disse não ter feito nada demais, “apenas chamei aquela criatura de ‘ele’, somente isso”.
Por meio de nota, a Afab informou que todas as pessoas que buscam a fundação são acolhidas e apontou que Yara teria buscado cirurgia de “troca de sexo” (esse termo não é mais utilizado) e saiu fazendo acusações levianas por não ter conseguido acesso ao serviço que não é realizado pela instituição.
Yara registrou boletim de ocorrência na 18ª Delegacia Territorial e está sendo assistida pela defensoria pública em processo contra o agressor pelos crimes de racismo e transfobia.