Alguém lhe disse, em algum momento, que, se você é mulher, há uma lista pronta a seguir?
Algo assim:
1. Comporte-se, você é uma mocinha!
2. Seja gentil e educada.
3. Estude. Dê exemplo.
4. Namore (de preferência) um bom rapaz.
5. Noive.
6. Case, e seja uma boa esposa.
7. Tenha filhos. De preferência, mais de um.
(…)
Esteja atenta, para não pular nenhum dos tópicos! (Contém ironia).
Ser mulher é difícil.
Imagine o quão mais difícil se torna quando, eventualmente, você decide que não quer ser mãe.
Como assim “não quer”? E tem que “querer”?
Por muitos anos, e não tão distantes, e não totalmente vencidos, uma das funções básicas da mulher era ter filhos. Estava na programação; na tal lista que trouxe mais acima.
Os tempos mudaram. A mulher passou a perceber-se como pessoa, como ser desejante e, diante disso, a escolher seguir, ou não, as regras sociais prescritas.
Entendeu que o trabalho está disponível para todas as pessoas, inclusive para ela; que relacionamentos podem ser ótimos, desde que os queiramos; e que filhos podem ser uma grande realização, para quem os deseja. Esse pacote básico, que parece compor o combo da vida de uma pessoa, não necessariamente precisa ser comprado por todas. E está tudo bem. Tudo bem mesmo!
Mas, vamos lá, refletir mais um pouco…
Quantos atravessamentos surgem na vida de uma mulher que se torna mãe? Já pensou no quão difícil, e gigante, é a responsabilidade de ter nesse mundo uma pessoa que depende, e seguirá dependendo por um bom tempo, de você para tudo? Já olhou os dados da violência? Já pensou no tanto de horas de sono que jamais serão compensadas? Já se deu conta de que o trabalho que você tem hoje pode não esperar por você, já que tem a opção de contratar alguém mais jovem, sem filhos… ou, ainda que os tenham, que não seja mãe, mas pai?
Longe de mim, correr o risco de ser injusta, mas já escutou alguém dizer que perdeu o emprego depois de ter tido um filho, sendo pai? E, sendo mãe, a quantas anda a lista por aí?
Dura missão…
A mesma sociedade que exige que você tenha filhos é aquela que, tantas vezes, entende que, para o mercado de trabalho, você não é a melhor opção, afinal, filhos adoecem, requerem cuidados etc. E, geralmente, é a mãe que está ali.
Vai ser difícil, desafiadora, cheia de curvas, a trajetória que envolve ser mãe. Imagina isso tudo sem desejo? É ele quem nos faz não sucumbir, que nos resgata da lama quando bate o cansaço ou a desesperança… É o desejo. Tem que ter – pra fazer do impossível, possível. Da dor, cura. Escute uma mãe, e saberá. Mas, escute uma mãe que saiba que possa falar sem medo de ser julgada pela sua honestidade… ela certamente irá falar que a caminhada é composta de doces e maravilhosos capítulos… mas, ainda assim, dura.
Certa vez, escutei de um amigo: “se um homem lhe disser que o sonho dele é ser pai, e se esse não for também um sonho seu, fuja”.
Lembra do desejo? Ele tem que ser, sobretudo, seu. Não há como dar conta, mesmo que a gente já saiba que não é preciso dar conta o tempo todo, do que vai surgir nesse caminho sem tê-lo desejado, ainda que com medos e dúvidas.
A maternidade, feito coisa que se constrói, carece de alicerce. Precisa partir de um lugar. E, esse lugar, é o desejo (estou repetindo mesmo).
Se hoje, ao se consultar, você entende que não quer ser mãe, está tudo bem. Siga escrevendo sua história. No fim, é sobre você. No fim, é sobre o livro no qual são inseridas as frases que compõem as orações que só você pode ordenar e coordenar. O que quer que digam lá fora, só deixe ser o que for por você, pra você. Porque você merece esse cuidado. E, se um filho vier, que venha para acrescentar capítulos à história que, de tão sua, já é muito importante. Lembre-se: é sobre você! Acolha-se!
Lavínia Lins – @minutodapsico