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Falta de creches leva mães a abrir mão dos empregos: “contribui para desigualdade”

Foto: Sesi Paraná/Google

Erika Marques é mãe de dois filhos. Ao portal, ela conta que sempre trabalhou, e que seu último emprego fixo foi como vendedora numa loja de peças para motos. Precisou se afastar aos seis meses de gestação da filha mais nova, hoje com cinco anos, por ter enfrentado problemas de saúde e não conseguiu mais voltar após o nascimento de sua filha.

“Não tinha uma pessoa de confiança pra ficar com minha filha e eu não tinha condições de pagar uma babá profissional. Tentei voltar quando ela fez um ano, mas a pessoa que arrumei bateu nela. Fiquei tão traumatizada que passei mais dois anos parada”, disse.

Rejane Silva, técnica de enfermagem, passa pelo mesmo problema. Seu filho tem dez meses e, desde que ele nasceu, ela está sem renda.

“Estou há praticamente um ano sem trabalhar, sem estudar, pois não tenho rede de apoio, então dedico meu tempo inteiro para cuidar do meu filho”, afirma.

Antes do bebê nascer, ela acumulava três anos de experiência na profissão, e trabalhava de segunda a sexta das 8h às 18h cuidando de pacientes em domicílio. Rejane e Érika são apenas duas das mulheres que precisaram abandonar o emprego para se dedicar aos cuidados com os filhos, o que, em consequência, reduz a independência financeira e o poder familiar do gênero.

Sem creche de qualidade e gratuita

Rejane afirma que poder contar com uma creche de qualidade e gratuita, perto de onde mora, mudaria essa realidade para ela. “No Village, onde moro, infelizmente não tem. Possibilitaria com que eu voltasse a trabalhar no que amo, eu poderia voltar às atividades profissionais com tranquilidade”.

No Brasil, de acordo com dados do IBGE, o déficit de vagas em creches ainda é alto, com acesso apenas para 35% dos pequenos, número menor do que o estipulado pelo Plano Nacional de Educação (PNE), que previa uma taxa de 50% de atendimento até 2024. Precisariam ser criadas 2,5 milhões de vagas, o que demoraria mais de 20 anos, seguindo o ritmo atual.

Os dados são ainda mais alarmantes, porque faltam vagas principalmente para quem mais precisa: 33,9% das crianças mais pobres são afetadas pela impossibilidade de matrícula nas creches públicas, comparado a 6,9% das ricas.

Suporte para as mães

Para a pedagoga e psicopedagoga, Tayse Roque, os espaços educativos seguros e gratuitos são direitos das crianças e fruto de uma luta histórica .

“Mães trabalhadoras reivindicaram por esses espaços para que elas pudessem se inserir ou retornar ao mercado de trabalho. Esse suporte não só beneficia as mães individualmente, mas também contribui para a igualdade de oportunidades e desenvolvimento econômico, gerando impactos positivos para toda a sociedade”, afirma.

É exatamente essa a situação em que Érika se encontra hoje, também sem rede de apoio, ela não pensa em buscar algo fixo, voltou a trabalhar de forma autônoma, como diarista, mas segue precisando abrir mão dos trabalhos que surgem quando sua filha está desassistida, o que compromete a renda de toda a família.

“Com a minha filha em uma boa creche gratuita, eu melhoraria minha renda, pois conseguiria pegar faxinas todos os dias, já que a creche funciona integral, além disso, não iria precisar abrir mão de metade do que ganho para pagar alguém para olhar ela”, completa.

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Meline Lopes

Jornalista, advogada, especialista em comunicação e em marketing digital. Atuou como repórter de televisão durante 9 anos em diversas emissoras do Brasil. É repórter do Eufêmea.