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“Mulheres preferem redes sociais onde as relações de proximidade importam mais”, diz especialista

Divulgado este ano, o Relatório de Desigualdade Informativas revela os resultados do trabalho realizado por quatro pesquisadores baianos que fazem parte do Aláfia Lab, um laboratório digital para a transformação social dedicado à produção de conhecimento sobre fenômenos na interface entre política digital e a vida cotidiana, entre eles, o consumo de informação no Brasil.

De acordo com o documento acessado pela reportagem do Eufêmea, o estudo busca preencher uma lacuna de falta de dados a respeito das tendências gerais de formatos mais utilizados, plataformas mais consumidas, fontes mais recorrentes, jogando luz sobre as escolhas e preferências de pessoas em diferentes condições sociais e culturais.

“Em uma sociedade em que o uso do digital passa amplamente por plataformas sociais, a estrutura e funcionamento delas define parâmetros essenciais de que tipo de informação chega a qual usuário. São essas as dimensões das quais tratamos nesta pesquisa, que se baseia em dados coletados a partir de um painel online respondido por 1000 pessoas entre os dias 27 de abril e 9 de maio de 2023”, explica Maria Paula Almada, Diretora do Aláfia Lab, Doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas.

Mulheres valorizam informações de contatos mais próximos

Dentre as quatro variáveis analisadas, gênero, renda, idade e raça, a de gênero foi a que apresentou maiores diferenças em relação ao consumo de informação. O WhatsApp é o aplicativo de mensagens dominante como fonte de informação para ambos os gêneros. No entanto, enquanto as mulheres usam mais o WhatsApp que os homens (88,5% entre mulheres x 82,3% entre homens), o contrário acontece no caso do Telegram (11,1% entre mulheres x 16,5% entre homens).

Foto: Cortesia

“Essa desigualdade parece apontar que as mulheres tenderiam a usar mais redes baseadas majoritariamente em contatos pessoais, onde as relações de proximidade importam mais, como Instagram e WhatsApp. Já os homens, se informam mais por ambientes em que relações sociais menos próximas são valorizadas, como no Youtube e no Linkedin, e também no Telegram, onde predominam as conversas em grupo”, afirma Maria Paula.

Ambos os gêneros ainda têm o Facebook como fonte principal de consumo de informação, mas as mulheres consomem 50% mais no Instagram do que homens (32,2% contra 22,3%). Já os homens se informam mais que as mulheres tanto no YouTube, onde o consumo é 50% maior, quanto no Linkedin, que apesar de ser uma fonte pouco usada por ambos os gêneros, é 350% mais usado entre os homens.

Jovem Pan tem consumo 100% maior entre os homens

Além disso, as fontes que são consumidas dentro de cada plataforma digital também apresentam uma diferença importante. No caso do Instagram, as dez fontes de informação mais consultadas são as mesmas para ambos os gêneros, incluindo G1, O Globo, Record, SBT e R7, no entanto, a Jovem Pan apresenta uma diferença significativa entre homens e mulheres. O consumo desse canal no Facebook, Youtube e Instagram é em torno de 100% maior entre homens, em comparação ao consumo entre as mulheres nas mesmas redes.

Cerca de 22,9% dos homens relatam consumir a Jovem Pan com frequência, enquanto entre as mulheres, esse número cai para 10,5%. Os homens tendem a consumir mais conteúdo de canais com uma inclinação de direita, enquanto as mulheres tendem a consumir mais conteúdo da mídia tradicional.

“Essa discrepância revela uma desigualdade de gênero no consumo de informações no YouTube. Esse dado chamou atenção e a gente conclui que essa fonte de informação tem sido recorrentemente acusada de disseminar desinformação e desempenhou papel tão importante nas últimas eleições, se mostrou muito mais importante entre os homens”, completa Maria Paula.

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Meline Lopes

Jornalista, advogada, especialista em comunicação e em marketing digital. Atuou como repórter de televisão durante 9 anos em diversas emissoras do Brasil. É repórter do Eufêmea.