“Fui sensibilizada com a instalação de um banco na cor vermelha na Espanha dias após ter sido testemunha no julgamento do feminicídio da minha melhor amiga”. O relato é da ativista Andrea Rodrigues, uma das representantes do Movimento Banco Vermelho no Brasil.
Com origem na Itália, em 2016, o projeto é um convite à sociedade para a necessidade de novos comportamentos diante da figura feminina, propondo a quebra de ciclos históricos da violação dos direitos das mulheres, enraizada em séculos de dominação masculina. O projeto iniciou as atividades no Brasil no dia 25 de novembro de 2023, em Recife.
O movimento chega ao Brasil por meio de duas mulheres pernambucanas: a publicitária e ativista Andrea Rodrigues, e a gestora de Marketing Paula Limongi. Ao Eufêmea, Paula relata a emoção de ver o banco nas ruas.
Transformar o luto em luta
“O sentimento de ver o banco gigante no marco zero do Recife e mais outros 20 bancos instalados na cidade é de luta. Saber que essa luta é de todos, nos dá mais força de seguir em frente. É preciso gritar. E o banco vermelho é um grito em meio às ruas, praças e parques”, relata.
Em 2018, um homem jogou o carro em uma árvore para matar a ex-esposa por não aceitar o fim do relacionamento. O caso aconteceu na Rua João Fernandes Vieira, na Boa Vista, no Centro do Recife. A vítima, que tinha 46 anos, era melhor amiga da ativista Andrea Rodrigues, que transformou o luto em luta.
“De lá para cá, estudei muito sobre o assunto, acompanhei diversos casos na imprensa, me mantive crítica e ativa junto aos movimentos… E entendi que esta causa é uma luta de todos, enquanto sociedade. Por isso, vamos rodar o Brasil com iniciativas de ocupação urbana e de ações de prevenção”, pontua Andrea.
O luto foi o que as motivou a trazer o projeto para o Brasil. Além disso, ela ressalta que sua parceira neste movimento, Paula Limongi, chegou para complementar a força de enfrentamento da violência contra a mulher.
“Paula também tem experiências marcantes na causa por meio da convivência com os filhos de Maristela Just, assassinada pelo marido em 1989. Além disso, foi imensamente impactada com a partida precoce da sua colega de escola, Renata Alves, que foi vítima de feminicídio em 2022”, complementa Andrea.
Conscientização e reflexão
Nesta primeira fase, a iniciativa tem como propósito a conscientização dos pernambucanos, e dos visitantes do Estado, para a causa por meio da instalação de bancos vermelhos em praças públicas e shoppings da cidade.
Cada estrutura trará́ uma mensagem única de reflexão sobre o tema, impactando as pessoas e incentivando que sentem, pensem sobre o assunto e ajam com relação ao que vivenciam na coletividade.
“Não podemos ficar sentadas no banco esperando que os homens parem de nos matar. É hora de levantar e agir! E a mudança de cultura de comportamento e a realização de ações efetivas de prevenção são os caminhos para evitarmos que mulheres percam suas vidas, que se tornem números em estatísticas’’, conclui Paula Limongi.