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Mulheres relatam convívio com Síndrome da Impostora

Foto: Arquivo pessoal

“Quando recebo elogios de famílias, alunos, não consigo entender porque eles acham isso de mim. É estranho porque eu sempre acho que o meu trabalho não está bom, falta dedicação em estudar mais, em ter mais conhecimento…”.

“Em todos os locais onde trabalhei sempre tive sucesso, sempre fui reconhecida, mas nunca me reconheci nesses elogios. Sou referência profissional na minha área, mas não acredito nisso”.

Os relatos são de duas mulheres completamente diferentes. A primeira, Elaine Santos, é pedagoga e atua com coordenação pedagógica em Maceió há dez anos. Já Romina Porto acumula uma década trabalhando como coordenadora da área trabalhista de um grande escritório de advocacia em Recife, além de produzir conteúdo feminino e sobre maternidade.

Elaine Santos/ Foto: Arquivo pessoal

Elas não estão sozinhas

Em comum, elas têm o fato de não conseguirem acreditar em sua capacidade profissional por mais que sejam elogiadas e premiadas.

“Sou uma pessoa altamente produtiva. Minha produtividade é elogiada em todos os ambientes em que frequento. Consigo feitos inéditos, como refazer uma equipe e uma carteira de clientes em meses e, ainda assim, olho para mim achando que as pessoas estão enganadas a meu respeito”, afirma Romina.

Elas não estão sozinhas. Uma pesquisa realizada pela Universidade da Geórgia em 2022 revela uma situação preocupante: a Síndrome do Impostor abala a confiança de 75% das mulheres no mercado. Para as executivas entrevistadas, a pergunta que ecoa em suas mentes é: “será que sou uma fraude?”.

Culpa, fracasso e insuficiência

Para a psicóloga Ana Eryka, a Síndrome acomete mais as mulheres, por se tratar de uma questão de forte influência cultural, na qual acredita-se que a mulher é capaz de suportar múltiplas funções e papéis sociais.

“A psicodinâmica da mulher atual tem como base essa cultura de extrema exigência e carência de validação. A Síndrome da Impostora surge como uma manobra mental, inconscientemente, de uma defesa contra um mundo interno do qual não se considera a fragilidade individual, visto que o que se exige da mulher não se é possível a nenhuma mulher alcançar. Os sentimentos decorridos são de culpa, fracasso e insuficiência”.

Ana Eryka/ Foto: Arquivo pessoal

Culpa foi justamente o sentimento apontado por Elaine diante dos desafios do dia a dia de trabalho.

“Algumas situações me fazem ter sentimentos de que eu sou a errada, de que a coisa não anda produtiva por eu não conseguir estar à frente, que minha linguagem não está clara o suficiente. Acho sempre que a culpa é minha”, aponta.

Adoecimento físico e mental

Para Ana Eryka, tais sentimentos mantidos ao longo tempo são capazes de trazer adoecimento psíquico e físico à mulher.

“Podem desenvolver fadiga mental, sendo este um terreno próprio para o surgimento de alto nível de ansiedade pelo descompasso ocorrido entre expectativa, exigência e resultado. Além de outras consequências como isolamento social, procrastinação, baixa autoestima, sentimento de impotência e distorção da realidade, que são os sentimentos precursores das depressões”.

Elaine e Romina têm outro ponto em comum: revelam que nunca conversaram com ninguém sobre estes sentimentos, mas por já ter percebido alguma redução de produtividade e que o medo de não ser capaz já interferiu em seu crescimento na carreira, Elaine já considera conversar com um profissional, o que é aplaudido pela psicóloga entrevistada.

“Essa visão carece de tratamento e foco psicoterapêutico, pois se objetiva melhorar a autopercepção, desenvolver a autoestima, melhorar a qualidade de vida, empoderamento pessoal, maior discernimento nas suas escolhas e refinamento nos seus critérios pessoais”, completa Ana Eryka.

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Meline Lopes

Jornalista, advogada, especialista em comunicação e em marketing digital. Atuou como repórter de televisão durante 9 anos em diversas emissoras do Brasil. É repórter do Eufêmea.