Foto: Ascom Sedet
A Defesa Civil informou na tarde deste domingo (10), que a mina 18, localizada no bairro do Mutange, em Maceió, sofreu um rompimento, que pôde ser percebido num trecho da Lagoa Mundaú. Ao Eufêmea, a professora do curso de Arquitetura e Urbanismo da Ufal, Adriana Capretz, explica que o afundamento do solo também causa prejuízo para o para o patrimônio cultural do estado.
“A empresa Braskem precisa ser responsabilizada e arcar com o dano também do patrimônio cultural material e imaterial”, disse Adriana, líder do grupo de pesquisa “RELU” – Representações do Lugar – que aborda sobre patrimônio, memória e história da cidade e da arquitetura.
A professora também é criadora do site Arquitetura Alagoana, onde divulga o patrimônio histórico alagoano e disponibiliza gratuitamente material para ações de educação patrimonial, como o Estúdio Tatipirun, um outro projeto elaborado por ela para a criação de produtos relacionados à prática de educação patrimonial para crianças.
Um prejuízo para além do social e econômico
O estudo da construção de memória e identidade através do patrimônio histórico cultural sempre foi uma prioridade para a professora, só que em 2020, no ápice da pandemia da covid-19, Adriana resolveu direcionar suas pesquisas também para a perda da herança cultural nos bairros que começavam a afundar. “Eu já conhecia a riqueza cultural que os bairros de Bebedouro, Farol, Bom Parto e Mutange tinham, porque antes de eles começarem a afundar, eu fazia o mapeamento cultural de todos os bairros de Maceió no meu site. No entanto, em 2020, o Instituto de Arquitetos do Brasil levantou a urgência em uma live de haver pesquisas sobre esses bairros afetados pela Braskem, que com eles, afundavam também a cultura dos alagoanos”, explica a professora.
Adriana afirma que, na época, foi a partir desse engajamento por parte dos pesquisadores que a imprensa local começou a noticiar os danos causados pela Braskem sob o ponto de vista também cultural. Dessa forma, foi confirmada a existência de um grande acervo de patrimônio histórico nos cinco bairros comprometidos pela extração inconsequente de sal-gema. “Sabendo que aqueles bairros carregavam parte da história de Maceió, não era possível, por lei, simplesmente desocupar e demolir aqueles imóveis. Tinha que ter, antes de tudo, um plano de evacuação e preservação dos imóveis”, esclarece ela.
As Unidades Especiais de Preservação no Mutange e Bom Parto, por exemplo, são protegidas pelo Plano Diretor. Além disso, o bairro Bebedouro, segundo a professora, é uma Zona de Preservação Rígida, ou seja, nada do Bebedouro poderia ter sido modificado. “Por isso, estou fazendo uma espécie de memorial para que a população saiba o que tinha e o que não tem mais, e digo e repito, nenhuma construção deveria ter sido demolida. Alguns exemplos de patrimônios desses bairros são a Igreja Nossa Senhora do Bom Parto, a Vila Operária da Indústria Alexandria, a antiga SINTEAL, o antigo IMA, o estádio do CSA no Mutange e o antigo Hospital José Lopes”, detalha Adriana.
A alagoana ainda enfatiza a presença do patrimônio imaterial nesses bairros que estão afundando, como os artesãos e grupos de folguedos, que foram dispersos, podendo levar ao desaparecimento dessas manifestações culturais. “Eles têm que encontrar esses fazedores de cultura – eles têm como localizar todos, pois têm os cadastros das pessoas que expulsaram das residências – e ressarci-los de forma justa, considerando que a localização era fator essencial para que as manifestações culturais acontecessem”.