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Amor condicional e seu efeito na saúde mental

As perspectivas sobre o amor podem variar amplamente entre diferentes culturas, filosofias e indivíduos. Hoje trago aqui uma análise do impacto daquilo que conhecemos como amor condicional na construção da saúde mental. O amor condicional, que é visto como uma forma menos ideal de amor, já que está condicionado a certas circunstâncias ou expectativas, totalmente oposto do amor incondicional, que é geralmente considerado mais puro e genuíno, pois não está sujeito a condições ou requisitos.

O amor condicional na infância e adolescência, caracterizado por afeto condicionado ao cumprimento de expectativas ou comportamentos específicos, pode ter um impacto significativo na construção da autoestima na vida adulta. Quando o amor é condicionado à realização ou desempenho, a criança pode internalizar a crença de que seu valor é baseado em seu desempenho, levando a uma autoestima frágil e dependente de validação externa. Essa dinâmica pode se manifestar na vida adulta, onde a pessoa pode continuar buscando validação externa e se sentindo inadequada ou insuficiente sem ela.

Além disso, a experiências de amor condicional na infância e adolescência podem contribuir para o desenvolvimento de alguns transtornos de personalidade, como por exemplo, o transtorno de personalidade narcisista ou transtorno de personalidade borderline, que podem se expressar em cada caso, de formas diferentes:

No Transtorno de Personalidade Narcisista (TPN), os Indivíduos que crescem em ambientes onde o amor é condicionado ao desempenho, à aparência ou ao sucesso, podem internalizar a ideia de que seu valor como pessoa está ligado a esses fatores. Isso pode levar ao desenvolvimento de características narcisistas, como um senso inflado de autoimportância, necessidade de admiração constante, falta de empatia e exploração dos outros para alcançar seus próprios objetivos.

Já no Transtorno de Personalidade Borderline (TPB), o amor condicional na infância pode resultar em uma instabilidade emocional significativa, já que a criança pode sentir que seu valor está em jogo dependendo de seu comportamento ou sucesso, podendo levar ao desenvolvimento de padrões instáveis de relacionamento, autoimagem distorcida, impulsividade, medo do abandono e intensas oscilações de humor.

Em ambos os casos, o amor condicional pode contribuir para uma visão distorcida de si mesmo e dos outros, bem como dificuldades em estabelecer relacionamentos saudáveis e duradouros. A terapia do esquema, uma abordagem baseada na teoria dos esquemas desenvolvida por Jeffrey Young, pode ser útil na reestruturação do self nessas situações.

Através da terapia do esquema, os indivíduos podem explorar e desafiar padrões de pensamento e comportamento condicionados pelo amor condicional na infância. Ao identificar e modificar esquemas disfuncionais, como o esquema de “não sou bom o suficiente”, a pessoa pode aprender a reconhecer seu valor intrínseco e construir uma autoestima mais sólida e resiliente, não dependente de validação externa.

Ao longo do processo terapêutico, os indivíduos também podem aprender a nutrir relacionamentos mais saudáveis consigo e com os outros, baseados no amor incondicional e na aceitação genuína. Assim, a terapia do esquema pode ser uma ferramenta valiosa para promover a autoestima e o bem-estar emocional em adultos que foram afetados pelo amor condicional na infância e adolescência.

Como você se sente hoje nas suas relações pode ser um reflexo da forma de amor que recebeu, se você sente que recebeu amor condicional e que hoje isso leva você para um grande sofrimento em suas relações, precisa compreender que só você, com a ajuda terapêutica eficiente, pode modificar isso. Trabalhar nossas dores emocionais é necessário para desenvolvermos a capacidade de amar e sermos amados de forma mais saudável.

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Natasha Taques

Psicóloga clínica (CRP-15/6536), formada em Terapia do Esquema pelo Instituto de Educação e Reabilitação Emocional (INSERE), Formação em Terapia do Esquema para casal pelo Instituto de Teoria e Pesquisa em Psicoterapia Cognitivo-Comportamental (ITPC).