Feminino, solteiro, na faixa etária de 45 a 59 anos e com ensino fundamental incompleto. Esse é o perfil de quem vai às urnas nas eleições deste ano em Alagoas. Para análise, o Eufêmea utilizou os dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), atualizados até janeiro de 2024.
Do total de eleitores brasileiros, 52,6% são do sexo feminino, cerca de 8 milhões de votos a mais do que os do sexo masculino. Em Alagoas, as mulheres também são maioria, totalizando 53,26%, enquanto os homens compõem 46,74%.
Quanto ao estado civil, os dados revelam que a maioria dos eleitores alagoanos se declara solteiro, somando 67,17%. Os casados representam 27,85%, seguidos por 2,45% de divorciados, 0,59% de separados e 1,94% de viúvos.
As mulheres representam 55% ou mais dos eleitores cadastrados em 15 cidades, incluindo as capitais Maceió (AL), Aracaju (SE), João Pessoa (PB), Recife (PE), Salvador (BA), Fortaleza (CE) e Natal (RN).
Engajamento feminino
“O engajamento feminino tem crescido bastante nas últimas eleições e a política tem sido abraçada como ferramenta de mudança por pessoas cada vez mais jovens – e isto impacta nas candidaturas”, é o que analisa a Cientista Política, Augusta Teixeira. Ao Eufêmea, ela destaca que com o passar dos anos, as mulheres têm investido mais na sua própria educação e deixando o casamento e filhos para mais tarde.
Teixeira relembra as eleições de 2020, onde observou que a maioria das mulheres não compactuou com a extrema direita. Ela ressalta que o público alvo dessa ideologia, onde o ex-presidente Jair Bolsonaro tentou mirar, mostrou resistência diante de discursos pró-armamentistas e de exclusão de partes da população.
“Muitas mulheres no Brasil não se enxergam ou reconhecem que não há a construção que a extrema direita fez da família tradicional brasileira. Acredito que o perfil do eleitorado feminino nestas eleições busque o desenvolvimento através da educação e da geração de emprego e renda”, avalia a cientista política.
Educação e escolaridade
A composição do eleitorado alagoano em relação à escolaridade apresenta uma distribuição abrangente. Aqueles classificados como analfabetos representam 10,22%, enquanto 11,91% são capazes de ler e escrever. Os números variam desde 25,72% para ensino fundamental incompleto até 5,94% para aqueles com ensino superior completo.
Teixeira acredita que as candidaturas em 2024 precisam se alinhar a uma pauta mais material, voltada para a construção de políticas que garantam o bem-estar social.
“A educação é vista como uma forma de ascender socialmente tanto para a própria mulher quanto para sua família, e alcançar independência através da geração de renda.”
As políticas de cotas voltadas para candidaturas femininas têm desencadeado uma transformação significativa no cenário político de Alagoas, conforme destaca a análise de Augusta Teixeira. De acordo com ela, o impulso para lançar mais mulheres como candidatas tem gerado uma movimentação crescente, com mulheres votando em outras mulheres, consolidando um movimento de participação política feminina.
“Podemos perceber hoje que há uma organização voltada para o protagonismo das mulheres do cenário político e que não era visto até pouco tempo”, destaca.
Entre as pautas emergentes, Teixeira aponta para questões que muitas vezes são negligenciadas quando lideradas predominantemente por homens. Exemplos como a distribuição gratuita de absorventes, uma demanda que foi levantada pelas mulheres, demonstram a necessidade de uma representação mais equitativa. Além disso, questões como paridade salarial, reforço da licença-maternidade e o combate à violência contra as mulheres têm sido defendidas principalmente por mandatos femininos.
“São mulheres que constroem políticas públicas ouvindo outras mulheres e suas necessidades”, diz.
Envelhecimento da população
Já a análise por faixa etária revela uma distribuição equitativa, com uma concentração maior entre os 35 e 44 anos (20,81%) e 45 a 59 anos (24,26%). Os eleitores mais jovens, entre 16 e 34 anos, também desempenham um papel significativo, totalizando 36,12%.
A especialista destaca que o envelhecimento da população, combinado com baixas taxas de natalidade, aponta para uma mudança demográfica significativa. Para os próximos anos, é previsto que a maioria do eleitorado seja composta por indivíduos mais velhos. Contudo, Teixeira adverte contra generalizações simplistas sobre as preferências políticas dessa faixa etária.
“Por mais que exista uma associação entre o envelhecimento e a tendência ao conservadorismo, precisamos nos atentar que a população mais velha enfrentou o golpe de 64 e isso impactou a percepção política. A maior parte da população idosa é favorável à democracia”, explica.
No entanto, Teixeira ressalta que propostas mais progressistas são encaradas como problemáticas por essa população, muitas vezes devido a questões religiosas ou morais. A cientista destaca a importância de se considerar o contexto histórico e as experiências vividas por essa geração ao elaborar políticas que busquem a aceitação de propostas mais progressistas.
“Propostas mais progressistas são vistas como problemáticas por irem de encontro ao que essa população pensa – seja por questão religiosa ou moral”, conclui.