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Endometriose: falta acolhimento de alguns médicos enquanto sobra pressão pela maternidade

Foto: Reprodução/Internet

“Poxa, agora você não vai poder ser mãe!” – “Vamos precisar remover seus dois ovários.”

Não vou citar o nome da mulher envolvida, mas foi exatamente isso que ela ouviu quando soube que estava com endometriose e que o caso dela era bem avançado. A primeira fala, de pessoas próximas; a segunda fala, de médicos. Sim, no plural.

Ouvir isso dessa mulher me fez sentir um nó na garganta e quero escrever por ela porque sei que outras mulheres estão passando por isso neste momento. Afinal, falta acolhimento de alguns médicos enquanto sobra pressão pela maternidade.

Ela me relatou que desde que descobriu que tinha endometriose, não houve acolhimento por parte dos médicos. Era como se aquilo fosse um diagnóstico tão comum para eles que ela seria apenas mais uma na fila de atendimento do hospital. No entanto, ela não é apenas mais uma na fila. É uma mulher jovem, com sonhos e uma história de vida, e em nenhum momento foi acolhida diante de um diagnóstico tão difícil.

Não houve acolhimento, talvez porque a medicina por amor fique apenas na foto bonita para o Instagram, mas na vida real não passa de um profissional de saúde que não está interessado em como a vida dessa paciente vai mudar. Sim, porque a vida dela muda a partir do momento em que ela recebe um diagnóstico desse.

Essa falta de acolhimento pode gerar uma sensação de desamparo e desvalorização. É fundamental que os médicos reconheçam a importância do acolhimento em sua prática clínica. Isso envolve não apenas oferecer tratamentos eficazes, mas também demonstrar empatia, compaixão e respeito pelos pacientes em todas as interações.

Por favor, médicos e médicas ‘por amor’, não sejam assim. Do outro lado, sempre há alguém que espera de vocês o mínimo que prometeram ao decidirem estudar para salvar vidas.

A maternidade

Não bastava ouvir que precisaria remover os dois ovários, ela também ouviu comentários como: “E agora que você não vai poder ser mãe?”

Precisamos falar sobre isso.

A sociedade ainda perpetua a ideia de que a maternidade é uma obrigação ou uma parte essencial da identidade feminina, o que pode agravar o impacto emocional dessa situação. Ela não queria ser mãe, mas desejava ter o direito de escolha, e não que isso fosse tirado dela, entende? Perder esse direito também é lidar com um luto.

A pressão da sociedade para que as mulheres sejam mães pode fazer com que elas se sintam inadequadas ou incompletas quando não conseguem realizar esse papel, seja por escolha própria ou por circunstâncias médicas.

Hoje, ao escrever este texto, tenho a certeza de que ele alcançará mulheres que passam ou passaram pela mesma situação dessa mulher que relatei. Vocês não serão menos mulheres por causa da retirada de algum órgão. Vocês não serão infelizes ou incompletas porque não vão gerar filhos. Vocês são seres humanos completos, com infinitas possibilidades e sonhos. Vocês merecem ser respeitadas e apoiadas.

Eu espero que, em algum lugar, este texto traga a certeza de que tudo vai ficar bem e que a sua história ainda tem muitos capítulos a serem escritos. Lembre-se de que você não está sozinha nesta jornada e que há pessoas dispostas a oferecer apoio, compreensão e solidariedade.

Estou no Instagram: @raissa.franca

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Raíssa França

Cofundadora do Eufêmea, Jornalista formada pela UNIT Alagoas e pós-graduanda em Direitos Humanos, Gênero e Sexualidade. Em 2023, venceu o Troféu Mulher Imprensa na categoria Nordeste e o prêmio Sebrae Mulher de Negócios em Alagoas.