“Meu maior desafio surgiu do medo que temos em relação aos nossos próprios preconceitos. Pensei: ‘Será que vão aceitar ficar em uma pousada cuja dona é travesti?’ Isso porque, geralmente, as travestis que possuem pousadas estão em outros segmentos, como a cafetinagem.” O relato é de Bárbara Nagman, mulher trans e proprietária de uma pousada em Maceió, no bairro da Pajuçara.
Ao Eufêmea, Bárbara compartilha sua trajetória e os desafios enfrentados ao decidir seguir a carreira de empresária no ramo de hospedagem e assumir o negócio da família. “Meus pais sempre foram comerciantes. Minha mãe tinha um restaurante, mas começou a adoecer muito, desenvolvendo diabetes. Então, resolvi que era hora de mudar de ramo”, relata.
Com a necessidade de encontrar uma atividade menos exaustiva para a mãe, Bárbara viu a oportunidade de investir no setor hoteleiro. Ela percebeu que uma pousada seria uma opção mais tranquila. A Pousada Pajuçara existe desde 2001.
Medo e Preconceito
De acordo com a empresária, o caminho não foi isento de obstáculos, principalmente no que se refere ao medo e ao preconceito enfrentado no cotidiano. Ela explicou que por ser uma mulher trans, algumas pessoas pensam que ela é cafetina.
“Na cafetinagem, elas colocam as meninas trans para trabalharem e cobram o dia a dia para que elas atendam os clientes”, disse. Isso não se aplica à pousada de Bárbara. “Aqui, nós trabalhamos com turistas, somos uma pousada de família, não é um trabalho de cafetinagem”, explica.
Para superar esses desafios, Nagman acredita que a educação e a abordagem correta são essenciais para lidar com os clientes. “Graças a Deus, recebi uma boa educação dos meus pais. Então, a abordagem e a primeira impressão são fundamentais. Procuro ser muito atenciosa e educada com meus clientes, falar baixo em um bom tom, e deixar tudo muito claro e objetivo”, relata.
Ela acredita que a comunidade LGBTQIA+ de Maceió enfrenta muitos preconceitos. “É muito difícil ser uma microempresária, especialmente em Maceió, e ainda mais sendo uma mulher trans. São muitos desafios”, diz.
Para ela, manter uma empresa aberta, um pequeno negócio em funcionamento, é muito complicado devido aos consideráveis tributos, taxas e impostos. “Mas, por mim, isso aqui já não seria mais uma pousada, seria um hotel”, revela.
“Travesti não é para estar na prostituição”
Além dos desafios empresariais, Bárbara dedica tempo a conscientizar outras mulheres trans sobre a importância de buscar alternativas à prostituição. “Sempre digo às minhas amigas que travesti não é para estar nas ruas, que travesti não é para estar na prostituição. Infelizmente, é um dinheiro rápido e fácil, mas não proporciona uma expectativa de vida para o futuro”, afirma.
“É importante estudar, buscar conhecimentos, se profissionalizar, abrir seu salão, sua clínica de estética, sua loja, ou atuar no ramo onde mais se identifica, mostrando para a sociedade que travesti não é consequência de prostituição, de drogas, de vícios, mas sim de responsabilidade e investimento”, continua.
Apesar de administrar praticamente sozinha a pousada, Bárbara não deixa de cuidar de sua mãe e de seus animais de estimação. “Minha mãe é idosa, com início de Alzheimer, então minha responsabilidade é grande na administração dos remédios dela, da alimentação e da higiene. Tenho meus cachorros, que são meus filhos; minha família somos eu, minha mãe e meus seis cachorrinhos.”
Bárbara conclui com uma reflexão sobre sua vida e realizações, dizendo que atualmente se considera “a mulher transexual mais feliz de Maceió e região”. Ela conta que já foi casada por muitos anos e viveu longe dos pais por 16 anos, mas hoje não pensa em sair da cidade.