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Entre o amor e a sobrecarga: mulheres relatam os desafios de cuidar de familiares idosos

Cuidar de familiares idosos é uma responsabilidade que, em muitos lares, recai sobre as mulheres. Esse foi o caso de Beatriz Calado, que durante oito anos dedicou-se aos cuidados de seu pai, diagnosticado com Alzheimer. Em 2020, em plena pandemia, ele enfrentou mais uma batalha: após 27 dias internado com Covid-19, não resistiu à doença.

O luto veio acompanhado de mais um período difícil. Logo após o velório, enquanto Beatriz tentava equilibrar as emoções de sua perda, ela e sua irmã precisaram encarar outro desafio: os primeiros sinais do Alzheimer em sua mãe.

“No mesmo dia em que meu pai faleceu, depois de sairmos do velório com minha mãe, fomos para casa. Lá, ela me olhou e disse: ‘vocês são as piores filhas do mundo. Como é que enterram o seu pai e não me avisam nada?’ Foi nesse momento que percebi os primeiros sinais do adoecimento dela”, conta Beatriz.

Entre o diagnóstico de Alzheimer do pai e da mãe, Beatriz acumula 12 anos como cuidadora. Nesse período, ela precisou aprender a lidar com a sobrecarga e a solidão que acompanham essa responsabilidade tão intensa.

Solidão e responsabilidades

“A minha mãe sempre foi o centro das atenções na família, aquela que lembrava o aniversário de todos e reunia a gente em cada data comemorativa. Mas, com a pandemia, as pessoas começaram a se afastar. É muito difícil ver uma pessoa ativa se tornar, de repente, completamente dependente”, relembra.

Além de testemunhar o distanciamento gradual das pessoas após o diagnóstico da mãe, Beatriz se viu imersa em uma lista interminável de responsabilidades: atualizar planilhas de medicamentos, comprar alimentos, fraldas geriátricas, água mineral, produtos de higiene pessoal. Tudo isso acumulado às tarefas domésticas e aos seus dois empregos como servidora pública.

“Administrar tudo isso e assistir ao sofrimento de quem amamos é extremamente difícil. Isso gera uma sobrecarga enorme para o cuidador, porque ele precisa sobreviver, se manter e continuar trabalhando”, desabafa Beatriz.

Consequências físicas e psicológicas

Beatriz conta que, no início, ao receber o primeiro diagnóstico, seu instinto foi assumir toda a responsabilidade. No entanto, isso trouxe consequências físicas e psicológicas que ela carrega até hoje.

“Eu resolvia tudo. Precisava tomar conta de tudo. E isso foi me adoecendo. Comecei a sofrer de uma ansiedade muito forte e desenvolvi pressão alta, algo que eu não tinha antes. E tudo isso não foi por causa dos meus pais, mas por tudo o que vivi”, relembra Beatriz.

“Faço tudo com amor e carinho”

Conciliar o trabalho, as tarefas domésticas e os cuidados com um familiar idoso é uma realidade que muitas mulheres enfrentam diariamente. Para a jornalista Dayane Laet, de 46 anos, esse desafio começou em 2020, quando sua mãe foi diagnosticada com Parkinson.

A rotina de Dayane começa cedo, às 5h da manhã. Antes mesmo de iniciar seu trabalho home office às 9h, ela já preparou o café da mãe, adiantou o almoço e organizou a casa. Quando o expediente termina, às 18h, ela não tem descanso: recolhe suas coisas rapidamente e se apressa para levar a mãe à sessão de fisioterapia, que acontece todas as segundas, quartas e sextas.

“Eu fico exausta, passo a semana inteira esperando pela sexta-feira para descansar. Mas aí chega o sábado, e já tenho outras coisas para resolver em casa. No domingo, bate aquela tristeza, porque já é véspera de segunda”, desabafa.

Apesar do cansaço, Dayane vê a oportunidade de retribuir o cuidado que sua mãe sempre lhe ofereceu como um verdadeiro privilégio. “Faço tudo com muito carinho, amor e dedicação, porque mais tarde não quero me arrepender de nada”, afirma.

Cuidado + rede de apoio

Lenilda Luna, jornalista e servidora da Universidade Federal de Alagoas, está concorrendo à Prefeitura de Maceió. Além de atender às demandas de sua campanha, ela também precisa cuidar de sua mãe, de 78 anos, e de seu filho de 18, que é autista e requer suporte em algumas atividades.

Lenilda Luna/ Foto: Arquivo pessoal

A situação se complicou em julho deste ano, quando sua mãe sofreu uma queda e fraturou o quadril. “Depois da queda, não dá para sair de casa sem deixar alguém com ela, então a rede de apoio se tornou essencial”, conta Lenilda.

Para se ausentar, Lenilda conta com a ajuda da irmã e da tia, que se revezam nos cuidados. Esse apoio, segundo ela, é fundamental para que consiga equilibrar suas diversas responsabilidades.

“Tem dias em que me sinto sobrecarregada e penso que não estou fazendo nada da maneira certa. Mas contar com o apoio da família e a compreensão das companheiras e companheiros da militância faz toda a diferença”, afirma.