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“Na astronomia encontrei o meu lar”: quem é a 1ª astronauta análoga do Ceará que conquistou a NASA

Foi no ambiente interiorano e rural do sertão que Maria Larissa Pereira Paiva, conhecida nas redes sociais como Larittrix, encontrou inspiração para questionar as coisas da natureza, especialmente a astronomia e os astros. Atualmente, ela se destaca como a primeira astronauta análoga do Ceará.

O apelido Larittrix é inspirado na estrela Bellatrix, a terceira mais brilhante da constelação de Órion, onde estão as “Três Marias”, o primeiro objeto de estudo da jovem.

Ao Eufêmea, Larissa conta que o interesse pela ciência se manifestou cedo. Aos 13 anos, ao ter acesso à internet em uma lan house, começou a estudar astronomia de forma autodidata. Com 15 anos, já no ensino médio em escolas públicas, conheceu as olimpíadas científicas e, com muito esforço, conquistou medalhas na Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica e na Mostra Brasileira de Foguetes.

Primeiros passos na astronomia

Os motivos que levaram Larissa a seguir a carreira na astronomia estão intrinsecamente relacionados à necessidade, principalmente a de levar a ciência para as pessoas. “E as pessoas para a ciência”, complementa.

Ela diz que isso tem sido um lema para ela desde os primeiros estudos autodidatas. “Eu expliquei para a minha família conceitos básicos de astronomia, como o dia e a noite, por exemplo, o que para mim, até hoje, é uma questão de dignidade”, reforça.

Além disso, outros motivos foram a curiosidade, o senso crítico, e o prazer em pesquisar e entender as coisas. “Gosto muito de mistérios e sou fascinada pelo céu noturno. Ou seja, na astronomia encontrei o meu lar”, diz.

Larissa conta que participou do programa Caça Asteroides, uma parceria entre o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações e o International Astronomical Search Collaboration (IASC/NASA Partner). O programa visa popularizar a ciência e contou com a participação de Larissa como uma das líderes nacionais, o que lhe abriu portas para oportunidades acadêmicas e profissionais.

“Meu destaque no projeto repercutiu bastante e me ajudou a buscar oportunidades que eu sempre sonhei, por exemplo, uma bolsa de estudos numa escola que tivesse aulas de astronomia e com telescópios e o treinamento de astronauta da Wogel. Foi assim que fui até Brasília e participei do treinamento, com o apoio de alguns parceiros, e tudo pago”, conta.

Larissa também compartilha sua experiência ao descobrir seu primeiro asteroide. Usando um notebook emprestado, ela analisou imagens de telescópios e, apesar das limitações de tempo, conseguiu identificar o asteroide MLP0018. “Foi muito gratificante”, comemora a astronauta.

Time Larittrix

O “Time Larittrix” surgiu de maneira espontânea, se formando a partir de uma comunidade ávida por conhecimento em astronomia, que Larittrix ajudou a estruturar. “A comunidade simplesmente foi se formando, e eu ajudei a estruturar antes que se perdesse”, afirma.

Foto: Arquivo Pessoal

Apesar de já existirem grupos como o Nicolinha&Kids e o Grupo InSpace, Larissa identificou uma lacuna para um público que reunisse tanto crianças quanto estudantes da educação básica, o que se tornou uma oportunidade perfeita para estruturar o Time Larittrix.

Com o lema de acolher estudantes curiosos sobre astronomia, os trabalhos de Larittrix já impactou mais de 15.000 estudantes no Brasil, realizando mais de 300 oficinas e palestras, além de mentorias e eventos. As embaixadoras desempenham um papel crucial na organização das atividades do grupo, que se concentra principalmente no ambiente online.

“Minha mentora da Educaree, Nicole, me disse uma vez que a dor que eu sentia era aquela que eu nasci para curar. Acho que no fundo, é isso, todos nós trabalhamos para curar a dor que sentimos, e eu senti muito quando era uma criança curiosa, porém sem nenhum acesso à astronomia”, lamenta.

Sobre o impacto de seu trabalho, Larissa reconhece que ainda há muito a ser feito. Ela já alcançou um número significativo de pessoas, mas tem ambições de expandir ainda mais sua atuação. “Eu queria muito fazer uma espécie de itinerário passando e palestrando em todas as escolas públicas e fazendo oficina, montando foguete, ensinando astronomia… nossa, seria um sonho”, diz.

Ciência cidadã

Foto: Arquivo Pessoal

Larissa enxerga o papel da ciência cidadã como fundamental para o avanço do conhecimento científico, especialmente no engajamento de jovens. Ela acredita que a inclusão de crianças no processo científico desde cedo pode prevenir o negacionismo e fomentar um interesse genuíno pela ciência.

“É a ciência cidadã que permite a popularização da ciência e dá acesso às ferramentas para fazermos nossas próprias pesquisas”, afirma Larissa.

Para ela, a ciência cidadã foi negligenciada por muito tempo, e seu potencial para popularizar a ciência e fornecer ferramentas acessíveis à população é essencial.

“É a primeira vez na história que vemos crianças de 10 anos, ou até mais novas, se tornando cientistas cidadãos. Isso com certeza evitará, no mínimo, que essas mesmas crianças se tornem negacionistas no futuro”, afirma.

Larissa vê a diversidade e inclusão como pilares fundamentais para o desenvolvimento das áreas STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática). “O desenvolvimento/avanço do STEM só acontece com diversidade e inclusão”, destaca.

Desafios na carreira

Foto: Arquivo Pessoal

O machismo, a xenofobia e a homofobia são apenas alguns dos desafios que Larissa enfrentou em sua trajetória profissional. No entanto, ela afirma que utiliza a terapia como uma ferramenta para lidar com o estresse e o desgaste que essas experiências trazem. “Você enfrenta, enfrenta e depois corre para chorar na terapia”, diz ela.

“Venho de uma família humilde, de zona rural. Sou mulher na ciência, sou jovem, tenho TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade), sou LGBTQIA+, sou parda… enfim. Mas acho que, de tudo, o que mais me causou estresse e desgaste foi o machismo e a xenofobia. Não vou te dizer que já superei, porque isso é algo que marca muito”, continua.

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Rebecca Moura

Estudante de Jornalismo pela Universidade Federal de Alagoas e colaboradora no portal Eufêmea, conquistou o primeiro lugar no Prêmio Sinturb de Jornalismo em 2021. Em 2024, obteve duas premiações importantes: primeiro lugar na categoria estudante no 2º Prêmio MPAL de Jornalismo e segundo lugar no III Prêmio de Jornalismo Científico José Marques Melo.