Foto: Globo
O Estrela da Casa, novo reality está chegando à tela da TV Globo, estreia na noite desta terça-feira (13), após a novela das nove, sob o comando da ex-BBB Ana Clara Lima. No programa, 14 participantes vão defender sua carreira, repertório e gênero musical, entre eles, a alagoana de Porto Real do Colégio, Heloísa Araújo.
“A música é o lugar onde eu consigo unir meus dois mundos”. Aos 23 anos, a alagoana tem uma certeza na vida: desde que se entende por gente sabe que seu destino é cantar. Seja na aldeia onde mora, seja no “mundo dos brancos”, como ela diz.
Indígena da etnia Kariri-Xocó/Fulni-ô, mora em uma reserva localizada no interior de Alagoas, às margens do Rio São Francisco. Ao contrário do que se imagina, lá as residências são de alvenaria e, não fossem os portões indicando a aldeia, qualquer um diria se tratar de uma típica cidade ribeirinha.
“O pessoal da cidade acha que a gente mora em oca e não tem direito a fazer uso dos benefícios da tecnologia. Não é todo mundo, mas ainda é a maioria”, contou a jovem, que sofreu muito bullying na escola por sua origem: “Tiravam sarro pelo fato de a gente ser muito humilde e ter uma cultura diferente. Hoje, esse cenário mudou, mas sempre tem uma cara de surpresa quando digo que moro em uma aldeia, mas tenho celular”.
O aparelho, aliás, é seu instrumento de trabalho. Seja para divulgar seu trabalho como artesã ou como cantora: “Atualmente, não estou conseguindo viver de música. Faço artesanato para vendas online. Mas, sempre posto vídeos cantando”. Foi assim que recebeu um convite para fazer uma apresentação de cantos indígenas na Dinamarca.
Heloísa cresceu em um ambiente onde a música desempenha um papel central na vida cotidiana: “Lá em casa todo mundo é muito musical”. Aos seis anos, chamou a atenção da mãe – que já foi vocalista de uma banda de forró local, ao mostrar seu dom:
“Desde pequena, eu me dedicava à música e queria mostrar para minha mãe que eu sabia cantar. Quando finalmente tive a chance de me apresentar no ensaio da banda dela, a reação das pessoas me fez perceber que eu tinha talento,” relembra.
Fã de Marília Mendonça, ela explica que a influência do sertanejo surgiu de maneira orgânica devido à sua semelhança com as tradições locais de canto em dupla, conhecidas como “rojão”: “É um ritmo que combina muito com a nossa forma de cantar e, por isso, acabou se tornando uma grande paixão. Lá, a gente costuma cantar em duplas”.
Antenada, Heloísa afirma viver em uma dualidade cultural profunda. A alagoana, que já tentou entrar no BBB e é viciada em dorama, se desconecta do mundo por cerca de três dias duas vezes no mês por conta de um ritual chamado Ouricuri, uma das tradições de seu povo que se mantêm há gerações. A reunião ocorre em uma aldeia mais afastada da cidade onde é preservada a origem dos Kariri Chocó/Fulni-ô.
“É um lugar sagrado para nós. Não podemos levar celulares, consumir bebidas alcoólicas, nem namorar três dias antes. Tem que se ‘limpar’ para entrar lá. A entrada de homem branco também não é permitida. É um espaço para nos reconectar com nossas origens e manter viva nossa cultura. É pra gente nunca esquecer o que a gente é”.
Seu maior desafio é conseguir conciliar essas duas realidades: a mulher indígena e a cantora de sucesso. “Quando eu for muito famosa e tiver uma agenda de shows lotada, vou sempre me organizar para passar um tempo na aldeia e participar dos meus rituais. A gente sente falta quando está longe”, assume a participante, que entrega o que pode lhe tirar do sério no confinamento: “Eu sou muito estressada e não tenho vergonha do meu lado barraqueira”.
Curiosa, Heloísa acredita, contudo, que sua inocência e seu jeito leve de levar a vida podem compensar a falta de paciência dentro da casa: “Por causa dessa curiosidade, faço amizade rápido com as pessoas”.
Com o prêmio do Estrela da Casa, ela pretende investir em sua carreira e comprar uma casa na reserva onde mora: “Eu vou para o mundo, mas ciente de que meu mundo de verdade é lá”.
*Com GShow
