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Após enfrentar 13 cirurgias por causa da endometriose, ela se reinventou e abriu uma lanchonete em Maceió

Para Surhama Jayara, 32 anos, ex-atleta da seleção alagoana de judô, a endometriose não é apenas uma doença; é uma batalha diária que a levou a 13 cirurgias. Após superar inúmeras adversidades, ela encontrou forças no empreendedorismo e abriu um negócio ao lado do marido, no bairro Benedito Bentes, em Maceió. A lanchonete leva o nome da filha: Doces da Valentinna.

Em entrevista ao Eufêmea, Surhama relembrou que, antes de receber o diagnóstico de endometriose, dedicava-se aos estudos e treinava intensamente, participando de diversas competições dentro e fora do Estado. “Mas era sempre com muita dor”, afirmou. Foi somente aos 16 anos que ela descobriu a causa das dores que a acompanhavam desde a infância: a endometriose.

O diagnóstico não foi suficiente para afastar Surhama do tatame. “Com o tempo, terminei a escola e continuei treinando e competindo. Também comecei a dar aulas e a participar de projetos com crianças”, relata.

Aos 19 anos, já cursando a faculdade, Surhama enfrentou sua primeira grande emergência médica. “Estava a caminho da aula quando senti uma dor intensa e acabei desmaiando. No hospital, os médicos descobriram que eu estava tendo uma hemorragia interna”, contou. Ela relembra que esse foi o primeiro de muitos procedimentos cirúrgicos que se sucederam.

A vida mudou

Foto: Arquivo Pessoal

Entre 2012 e 2018, a saúde da atleta piorou significativamente. Além das cirurgias, ela precisou usar uma sonda de demora por dois anos devido a uma lesão no ureter. No entanto, em meio a esse cenário difícil, ela viu um milagre em sua vida: o nascimento da filha Valentinna, hoje com 9 anos.

As dificuldades financeiras, porém, também vieram à tona. Em 2018, o marido de Surhama precisou abandonar o emprego para cuidar dela em tempo integral. “Nós tínhamos uma renda fixa, mas quando precisei parar de trabalhar, tudo mudou. Meu marido teve que deixar o trabalho após uma cirurgia que fiz em Recife para cuidar de mim, e nossa vida virou de cabeça para baixo”, desabafa.

Mesmo diante das adversidades, o casal encontrou uma saída para se sustentar. Enquanto o marido trabalhava como motorista de aplicativo, Surhama, ainda debilitada, fazia brigadeiros para ele vender aos passageiros. Com o tempo, as dificuldades cresceram, mas também surgiram novas ideias. “Decidimos começar a produzir flau gourmet e tortilete”, diz. Eles começaram vendendo os doces nas praias, e aos poucos, o negócio foi ganhando força e crescendo.

Doces da Valentinna

Impossibilitada de trabalhar formalmente devido às limitações impostas pela doença, Surhama decidiu se reinventar. “Não tinha como trabalhar para ninguém, então precisei me reinventar”, explica.

O sonho de abrir um espaço físico para o negócio se tornou realidade graças a uma ajuda inesperada. “Deus nos abençoou, e no dia 23 de julho abrimos nosso primeiro ponto”, conta. Hoje, ela vende pastéis, salgados, bolos, açaí, entre outros produtos.

O empreendedorismo, porém, se revelou mais desafiador do que Surhama imaginava. “Achei que seria mais fácil, mas não é simples. Sem capital de giro e com muitas contas para pagar, a luta é diária”, admite. Ainda assim, ela e o marido seguem firmes, determinados a conquistar novos clientes e consolidar o negócio.

Para ela, o empreendedorismo é uma verdadeira escola de vida. “Aprendi que nem todos são seus amigos como você pensa. O empreendedorismo é uma escola onde a gente aprende todos os dias”, diz.

A história como inspiração

Foto: Arquivo Pessoal

Além de vender seus produtos, Surhama utiliza as redes sociais para compartilhar sua história, inspirando outras mulheres que passam por desafios semelhantes. “Quando comecei a postar, muitas mulheres descobriram a doença e isso teve um impacto enorme. Quero ser um exemplo e digo a todas: não desistam de si mesmas”, reforça.

Ela também destaca que seus sonhos permanecem vivos: “Sonho com minha cura, com uma vida melhor, poder voltar a treinar judô, ver minha filha crescer e ajudar outras pessoas a não passarem pelas mesmas dificuldades que eu enfrentei”, conclui.

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Rebecca Moura

Estudante de Jornalismo pela Universidade Federal de Alagoas e colaboradora no portal Eufêmea, conquistou o primeiro lugar no Prêmio Sinturb de Jornalismo em 2021. Em 2024, obteve duas premiações importantes: primeiro lugar na categoria estudante no 2º Prêmio MPAL de Jornalismo e segundo lugar no III Prêmio de Jornalismo Científico José Marques Melo.