A estilista Manu Melo é uma referência no estado de Alagoas quando se fala em slow fashion, uma vertente da moda que valoriza cada etapa de produção, priorizando a qualidade, a sustentabilidade e o respeito ao processo artesanal. Com sua marca genuinamente alagoana, Manu incorpora em suas criações as paisagens e belezas da região, unindo saberes passados de geração em geração.
Em entrevista ao Eufêmea, Manu compartilhou as inspirações que dão vida às suas coleções e o propósito que a impulsiona a continuar levando o Nordeste para o mundo.
A arte como cura
“Nise da Silveira, psiquiatra alagoana dos anos 1920, acreditava na cura por meio da arte. Eu sou a prova disso”, afirma Manu. Aos 11 anos, ela sofreu queimaduras severas em uma fogueira de São João e enfrentou uma recuperação lenta e dolorosa. Foi nesse período que ela descobriu o crochê e outras técnicas artesanais, que se tornaram um meio de cura física e emocional.
A partir dessa descoberta, a arte com linhas e tecidos tornou-se uma parte intrínseca de sua vida e da sua trajetória. O que começou como uma terapia, logo se revelou também uma paixão e vocação. Em 2013, Manu lançou a marca Manu Melo, que traz, em cada detalhe, referências culturais e naturais do Nordeste.
Inicialmente, ela trabalhava com o atacado, atendendo grandes demandas, mas após a pandemia, passou a focar na produção para o varejo, adaptando-se às novas dinâmicas do mercado.
Conquistas
Ao longo de sua carreira de mais de 10 anos, Manu já participou de importantes eventos de moda nacionais e internacionais, como o Minas Trend, um dos principais desfiles de moda do Brasil.
Em 2021, para atender à crescente demanda de clientes em Maceió, Manu inaugurou sua primeira loja física, localizada na famosa Rota dos Milagres. “Além de atender todos os estados brasileiros, conquistei clientes de diversos países”, celebra.
O Propósito da Marca
Desde o início de sua trajetória, Manu enfrentou desafios, como a falta de conhecimento sobre o slow fashion no Brasil e a preferência das grandes marcas por reproduzir tendências globais. Isso tornava difícil promover uma moda que refletisse a identidade e a cultura do Nordeste.
“Levantar a bandeira do Nordeste, especialmente de Alagoas, nem sempre é bem visto em um país que ainda valoriza pouco suas raízes”, conta Manu.
Apesar dessas dificuldades e de ter seu trabalho questionado até por conterrâneos, ela mantém o foco em quem valoriza suas criações autênticas.
“Já sofri muito preconceito, mas é justamente a esperança de que essa valorização vai crescer que faz minha marca continuar em Alagoas”, reforça.
Além de valorizar o Nordeste, Manu também se preocupa em preservar as técnicas de produção passadas por gerações. Todas as etapas da confecção de suas peças são feitas por mulheres, e a maioria dos materiais utilizados é sustentável, reafirmando seu compromisso com a moda consciente e com as tradições locais.
A Nova Coleção: um tributo ao pai
Nos últimos meses, Manu passou por um momento difícil: seu pai enfrentou um tratamento contra o câncer, e ela se dedicou integralmente a cuidar dele. Apesar de todo o esforço, ele não resistiu, o que levou Manu a fazer uma pausa na carreira para lidar com o luto e honrar sua memória.
Dessa pausa nasceu a inspiração para sua nova coleção, chamada Penedo, uma homenagem à cidade homônima, que também era um dos lugares preferidos de seu pai. A coleção reflete tanto a beleza natural da região quanto os sentimentos de saudade e gratidão.
“A cidade foi construída sobre uma rocha, e a estampa principal da coleção foi inspirada nessa paisagem. É uma forma de lembrar a importância de ter uma base firme, tanto na vida quanto nos negócios”, explica.
Planos Futuros
Com a mesma determinação de sempre, Manu segue comprometida em continuar representando Alagoas e o Nordeste em suas criações. Valorizar suas raízes e a cultura local são princípios que continuam a guiá-la.
Sobre o futuro de sua marca, ela revela: “O plano é ampliar o ateliê para o tamanho que tinha antes da pandemia e aumentar nossa capacidade de produção.”
Para Manu, esse crescimento não é apenas uma expansão física, mas uma oportunidade de fortalecer ainda mais sua marca e continuar difundindo a riqueza cultural do Nordeste pelo Brasil e pelo mundo.
