A partir de observações clínicas e experiências pessoais, percebo a importância de falar sobre os prejuízos causados por pensamentos e comportamentos paranoicos e defensivos. Esses padrões de desconfiança e suspeita infundada em relação aos outros podem ter um impacto profundo, prejudicando nossa capacidade de formar e manter conexões saudáveis.
Quando vivemos constantemente na defensiva, ou deixamos que a paranoia domine nossas vidas, acabamos em um estado de alerta permanente, sempre esperando o pior das pessoas ao nosso redor. Isso nos coloca em um ciclo autodestrutivo, no qual julgamos os outros de maneira equivocada e sabotamos nossas próprias relações.
Um dos efeitos mais trágicos desse comportamento é o afastamento de pessoas que, na verdade, poderiam nos fazer bem. Quando estamos tomados por pensamentos paranoicos, tendemos a interpretar mal as intenções alheias, acreditando que são hostis ou manipuladoras, mesmo sem evidências concretas. Essa tendência de “ler nas entrelinhas” de maneira distorcida pode nos levar a cortar laços ou erguer barreiras desnecessárias com pessoas que genuinamente se importam conosco.
Ao mesmo tempo, essa mentalidade paranoica pode nos levar a focar excessivamente em quem realmente é prejudicial. Paradoxalmente, em vez de nos proteger, essa postura pode aumentar nossa vulnerabilidade diante de pessoas tóxicas.
A paranoia faz com que gastemos muito tempo e energia monitorando o comportamento de quem já nos faz mal, reforçando uma dinâmica de controle ou manipulação. Isso nos mantém presos em ciclos de relacionamentos abusivos ou negativos, dos quais seria mais fácil sair se estivéssemos emocionalmente equilibrados.
Com o tempo, pensamentos paranoicos podem nos isolar. O medo constante de ser traído ou enganado cria um muro entre nós e os outros, bloqueando novas oportunidades de conexão. Esse comportamento defensivo, embora tenha a intenção de nos proteger, acaba nos afastando de relações que poderiam ser saudáveis e fortalecedoras. O resultado é um sentimento de solidão e desconexão, que muitas vezes é reforçado por um ciclo de autossabotagem, já que cada afastamento parece confirmar nossas suspeitas de que o mundo é hostil.
Outro ponto importante é o impacto na nossa autoestima. Pensamentos paranoicos podem nos levar a acreditar que somos constantemente alvos de críticas, rejeições ou conspirações. Essa percepção negativa alimenta uma autoimagem distorcida, na qual nos enxergamos como vítimas indefesas em um mundo cheio de ameaças. Como resultado, nossa autoconfiança diminui, e nos sentimos cada vez mais frágeis, perpetuando o comportamento defensivo.
Esses comportamentos criam um círculo vicioso: quanto mais desconfiamos dos outros e nos fechamos, mais difícil se torna para as pessoas se aproximarem. Isso reforça a crença de que os outros não são confiáveis, alimentando ainda mais a paranoia e o isolamento. Esse ciclo pode ser rompido quando reconhecemos que o medo e a desconfiança excessiva estão nos prejudicando e começamos a trabalhar em nossa capacidade de confiar e nos abrir ao mundo novamente.
Romper com esses padrões não é fácil, e dificilmente se consegue fazer isso sozinho. A ajuda psicológica profissional é um importante aliado nesse processo. A primeira etapa envolve tomar consciência de que o comportamento defensivo não está nos protegendo, mas sim nos prejudicando. No processo terapêutico, você aprenderá a lidar com esses comportamentos, entendendo suas origens, desenvolvendo sua inteligência emocional e aprendendo a identificar pensamentos distorcidos. Isso permitirá uma postura mais aberta e confiante em relação aos outros.
A confiança é construída gradualmente. Cada novo passo em direção à vulnerabilidade e à abertura cria espaço para conexões mais autênticas e saudáveis. Ao trabalharmos esses comportamentos, abrimos o caminho para construir relações baseadas em confiança mútua, compreensão e apoio, afastando tanto o isolamento quanto os relacionamentos prejudiciais.
Na terapia do esquema, entendemos que nossos apegos primários influenciam profundamente como nos relacionamos hoje. Desenvolvemos estilos de apego que podem ser: seguro, evitativo, ansioso ou desorganizado. O mais bonito e importante é saber que nossa forma de apego pode ser corrigida ao longo da vida, se nos permitirmos ser cuidados e reparentalizados — ou seja, se nos abrirmos para a vida, o amor, a amizade e conexões seguras. Sim, isso também é possível!