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Professora lidera projeto que incentiva mulheres nas ciências exatas e desafia estigmas de gênero

“Não espero ser lembrada um dia, mas espero contribuir para que, no presente e no futuro, as mulheres sejam respeitadas. Se alguém lembrar de mim, que seja como a professora que lutou pelo espaço das mulheres e mostrou que elas devem parar de competir entre si, pois somos ensinadas a fazer isso”, disse Juliana Theodoro Lima, criadora do projeto Mulheres nas Ciências Exatas, Engenharias e Computação.

Com uma trajetória acadêmica extensa, Juliana Theodoro Lima iniciou seus estudos universitários aos 16 anos, no curso de Matemática. Ao longo de sua carreira, ela acumulou importantes conquistas, incluindo um doutorado com período de pesquisa no Canadá e três pós-doutorados na Universidade de São Paulo (USP).

Há sete anos, desde que ingressou na Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Juliana se dedica ao projeto Mulheres nas Ciências, criado em 2018, que busca ampliar a participação feminina nas áreas de Exatas, Engenharias e Computação.

Ciência tem gênero e cor

O projeto Mulheres nas Ciências nasceu a partir do edital 31/2018, voltado para promover a inclusão de mulheres nas ciências exatas. Segundo Juliana Theodoro Lima, a proposta foi classificada em primeiro lugar em âmbito nacional, dando início a uma iniciativa cujo objetivo é ampliar a visibilidade e as oportunidades para meninas e mulheres em áreas historicamente dominadas por homens, como as ciências exatas, engenharias e computação.

“A ciência, tanto no Brasil quanto no mundo, tem gênero e cor. O homem branco e abastado é um exemplo disso. Saber que estou enfrentando, no dia a dia da minha carreira, situações relacionadas ao preconceito de gênero é algo enorme para mim”, relata a professora.

Além de trabalhar com alunas universitárias, o projeto também impacta escolas públicas e está expandindo suas atividades para o sistema prisional feminino em Alagoas. “Estamos começando a desenvolver um projeto voltado para meninas no sistema prisional feminino, que, em Alagoas, é profundamente patriarcal. […] As mulheres têm acesso apenas a aulas básicas, enquanto os homens, por exemplo, podem cursar faculdade e trabalhar, sendo remunerados por isso”, reforça.

“Sempre fui uma criança diferente”

Juliana ainda destaca que aprendeu a ler sozinha aos quatro anos, ingressou na escola aos cinco e, aos 16, já estava cursando Matemática em uma das principais universidades públicas do país, a Universidade Estadual Paulista (Unesp).

Desde cedo, Juliana demonstrou um profundo interesse pelo conhecimento. Incentivada por sua mãe, que também é professora, ela desenvolveu uma fascinação por fórmulas e pelos estudos, o que a direcionou a trilhar um caminho de intensa dedicação acadêmica.

“Sempre fui uma criança diferente. Enquanto meus amigos brincavam, eu preferia estar no meu quarto, lendo algum livro. Fui muito incentivada, já que minha mãe é professora e sempre tive muitos livros ao meu redor. Minha paixão e fascinação pelas fórmulas sempre chamaram minha atenção”, enfatizou.

Preconceito de gênero

Juliana ressalta a importância de ensinar as mulheres a se posicionarem e a serem assertivas, mesmo diante de rótulos negativos. “Precisamos nos impor e ser assertivas, ainda que sejamos rotuladas como loucas. Se não fizermos isso, acabaremos sendo o resultado das decisões de pessoas que não têm autoridade sobre nós”, afirma.

Para a professora, empoderar suas alunas – sejam elas universitárias, de escolas públicas ou do sistema prisional – é uma missão. Ela acredita que mudanças sociais vêm do conhecimento e do retorno à sociedade. “Fazer mudanças na sociedade e trazer um retorno para ela é meu dever”, afirma.

“A mulher carrega um estigma, porque nos ensinam que esse não é o nosso lugar. Exatas é para meninos, e, mesmo que lutemos, também precisamos travar uma batalha interna para entender qual é o nosso lugar”, continua.

Ela acredita que sua maior contribuição será servir de exemplo para que as mulheres deixem de competir entre si e passem a lutar juntas pela igualdade de oportunidades. “Quero deixar um legado para que as pessoas que estiveram ao meu lado repassem que existiu uma professora, uma pesquisadora, que contribuiu para a igualdade e equidade de gênero. Só isso”, conclui.

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Rebecca Moura

Estudante de Jornalismo pela Universidade Federal de Alagoas e colaboradora no portal Eufêmea, conquistou o primeiro lugar no Prêmio Sinturb de Jornalismo em 2021. Em 2024, obteve duas premiações importantes: primeiro lugar na categoria estudante no 2º Prêmio MPAL de Jornalismo e segundo lugar no III Prêmio de Jornalismo Científico José Marques Melo.