Ontem, eu escrevi sobre como empreender não depende apenas de ter dinheiro no bolso e começar um negócio. Hoje, no Dia do Empreendedorismo Feminino, precisei refazer aquele texto. Fui tocada por uma mensagem de uma entrevistada nossa, vítima de violência doméstica, que mudou completamente minha perspectiva.
O áudio dela estava carregado de emoção e gratidão, mas foi um trecho específico que me lembrou exatamente por que escolhi o jornalismo e por que não posso desistir do Eufêmea. Ela disse: “Obrigada por ter tido coragem e por nos ouvir de forma tão generosa. O portal foi os olhos para tudo isso; só começaram a nos enxergar depois que o Eufêmea nos mostrou...”
Sabe quantas vezes pensei em abandonar o barco este ano? Muitas. Eu, que nunca tive um modelo de empreendedora na minha família, me vi sozinha, tentando equilibrar minha vida pessoal e o trabalho. Me vi analisando as contas após pagar as colaboradoras, já preocupada com o mês seguinte. Me vi indo a reuniões, ouvindo negativas e, tantas vezes, investindo energia em projetos que não deram frutos.
Enfrentei também a falta de valorização, o desrespeito e problemas jurídicos que me obrigaram a contratar advogadas para resolver um erro que nem era nosso. Vi marcas agindo como se fossem donas do nosso negócio e pessoas dizendo que cobramos caro demais pelo nosso trabalho.
Mas, por outro lado, vi um Eufêmea mais forte, formado majoritariamente por mulheres negras. Vi colaboradoras crescerem, ganharem prêmios, viajarem para fora do estado para mentorarem outras mulheres. Também encontrei uma Raíssa mais corajosa, disposta a lutar com unhas e dentes para defender o que construímos.
Vi o Eufêmea mudando vidas, quebrando silêncios, enxugando lágrimas e impulsionando mulheres a seguirem em frente. Denúncias vieram à tona, histórias inspiradoras foram compartilhadas, e o propósito do nosso trabalho ficou mais claro do que nunca.
Mulheres, hoje é o Dia do Empreendedorismo Feminino. Se eu dissesse que empreender é sempre fácil e bonito, estaria mentindo. Se dissesse que basta dinheiro ou coragem para seguir, também estaria mentindo. É preciso planejar, replanejar, investir, pensar..
Mas são mensagens como a de ontem que me fazem acreditar que nosso trabalho vale a pena. Mudar uma vida, dar voz a quem nunca foi ouvida, é o que dá sentido ao que fazemos. Sempre haverá quem critique, quem atire pedras, quem não faça nada para mudar o mundo. Mas sempre haverá também quem queira transformar, quem queira fazer a diferença. Nós estamos aqui para isso.
É por elas — e por todas nós — que continuamos.