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Direito à saúde: as barreiras enfrentadas por mulheres com deficiência no atendimento ginecológico

“Uma vez, fui fazer a citologia e a médica não permitiu que meu marido entrasse no consultório para me ajudar a subir na maca. Ela disse que isso deixaria as outras mulheres desconfortáveis. Tentei subir sozinha, mas acabei caindo. No dia seguinte, estava com as costas roxas e doloridas”. Esse é apenas um dos muitos relatos de Maria Cícera, uma mulher cadeirante de 56 anos, que enfrenta diversas dificuldades ao tentar realizar exames ginecológicos.

Entre as principais dificuldades, Maria destaca a falta de macas acessíveis e o despreparo dos profissionais de saúde. Esses fatores tornam-se grandes empecilhos para que mulheres com deficiência física consigam realizar consultas e exames essenciais para um acompanhamento ginecológico adequado.

Foto: Cortesia

Além das dificuldades para ser atendida, Maria afirma que a falta de acessibilidade nos consultórios ginecológicos gera ansiedade antes mesmo de chegar ao local. “Toda vez que vou fazer algum exame, fico com receio, porque sempre penso se vai ter acessibilidade ou se o profissional vai saber lidar com a situação”, relata ao Eufêmea.

A forma como o profissional lida com a falta de acessibilidade também é fundamental para garantir um atendimento digno. Maria relembra uma consulta em que, ao perceber que ela não poderia ser atendida em uma maca convencional, a ginecologista exigiu da administração do posto de saúde o equipamento necessário para o atendimento.

“Ela cancelou os atendimentos do dia e disse que só voltaria a atender quando eu tivesse o mesmo direito que todas as outras mulheres ali. No dia seguinte, voltei à unidade de saúde e a maca acessível estava lá”, conta.

Embora a situação tenha sido causada pela falta de acessibilidade, Maria destaca a importância da atitude da médica.

“É uma questão de o profissional ter amor ao próximo, ao paciente que está atendendo. Se ele não tiver amor pelo que está fazendo, aquele diploma não adianta de nada”, afirma.

Busca por mudanças

Foto: Cortesia

Aninha Tirbutino se tornou uma das principais vozes na luta por melhorias no atendimento às mulheres com deficiência. Ela participou ativamente de iniciativas que resultaram na aquisição de macas ginecológicas acessíveis para as Unidades Básicas de Saúde (UBS) de Maceió.

“Quando essas macas chegaram a Maceió, a Secretaria de Saúde me pediu ajuda para organizar uma capacitação para os enfermeiros que iriam trabalhar com elas. Consegui apoio de uma instituição que disponibilizou uma médica para ministrar o treinamento”, conta.

Apesar desse avanço, o número de macas adaptadas ainda é insuficiente, e a falta de sensibilidade por parte de alguns profissionais de saúde continua sendo um obstáculo.

Aninha, que foi diagnosticada com um mioma e necessita de acompanhamento médico regular para monitorar a condição e evitar intervenções cirúrgicas, relata que prefere ir ao ginecologista acompanhada pelo esposo. Ele a auxilia durante o atendimento, ajudando a enfermeira ou o profissional responsável, em função de experiências negativas que teve em consultas anteriores.

Falta de treinamento adequado

Foto: Cortesia

A auxiliar de biblioteca Claudete Silva, de 38 anos, aponta a falta de profissionais capacitados como o maior problema enfrentado por mulheres com deficiência. Seja pela ausência de empatia ou pela falta de orientação e treinamento adequado, muitas vezes essas pacientes acabam sendo envergonhadas durante o atendimento.

“Uma vez, passei por uma situação em que duas profissionais estavam na sala e insistiam para que eu subisse na maca sozinha. Tentei explicar que não conseguiria, tanto pela altura quanto pela minha limitação para me locomover, mas elas continuaram insistindo”, relembra.

Para Claudete, garantir que mulheres cadeirantes ou com outras deficiências físicas tenham acesso a consultas e exames dignos no Sistema Único de Saúde (SUS) exige capacitação profissional para atender às necessidades individuais de cada paciente.

“Precisamos de políticas públicas voltadas para pessoas com deficiência e, principalmente, de empatia, sensibilidade e humanidade. Somos pessoas com deficiência, mas também somos seres humanos, somos cidadãos e precisamos ser vistos e respeitados”, destaca.