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O que está por trás da ‘invisibilidade’ das mulheres no governo?

Foto: Reprodução/Internet

Tenho lido em diversos portais de notícias que membros do governo estão insatisfeitos com algumas secretárias que integram o Governo do Estado. Além disso, há relatos de que o governador Paulo Dantas pretende reduzir o número de mulheres em seu secretariado. Atualmente, Alagoas ocupa o primeiro lugar entre os estados com maior número de mulheres em sua secretaria, segundo o Censo de Secretárias Brasileiras.

A justificativa para a redução e os incômodos de algumas pessoas são as alegações de que as mulheres que comandam as pastas não conseguiram visibilidade. O que mais me chama a atenção, porém, é como um pouco se discute sobre o que elas construíram.

Eu poderia passar o Natal descansando a militante que habita em mim, mas não poderia deixar de comentar sobre o que está por trás disso. Sim, sempre há algo por trás de todos os incômodos que as pessoas manifestam em relação às mulheres. Isso faz parte de um sistema.

Para esclarecer melhor, separei essa citação: “as mulheres do governo não ganharam visibilidade, mesmo que comandem secretarias”. Isso me leva a uma reflexão abrangente: Quantos secretários homens você consegue nomear nesta gestão? Pense em três nomes. Será que eles também enfrentam a mesma falta de reconhecimento e valorização, ou a visibilidade oferecida é garantida automaticamente pelo simples fato de ocuparem cargos de poder?

As estruturas de poder foram historicamente projetadas por e para homens. As mulheres sempre estão em segundo lugar. Para alcançar o mínimo de reconhecimento e visibilidade, elas precisam se esforçar cem vezes mais. Espera-se muito de uma mulher, e a cobrança é implacável. Não se aceita o “pouco” vindo dela; pelo contrário, ela é constantemente pressionada por si mesma e pela sociedade a ser a melhor. Para ela, errar não é uma opção.

O homem, por outro lado, não enfrenta esse mesmo problema. Ele pode ser um “gestor” que faz o mínimo, mas ainda assim será enaltecido como um exemplo de profissionalismo, um líder nato ou até o “melhor secretário”. Essa disparidade é reflexo de um sistema que, por séculos, consolidou o padrão masculino como sinônimo de liderança e competência.

O que quero destacar aqui hoje é que, ao falarmos de falta de visibilidade, precisamos ir além das percepções daqueles que se sentem incomodados. É necessário compreender as raízes dessa desigualdade e buscar meios para combatê-la. Sabemos que a resposta é profundamente enraizada no patriarcado — um sistema que historicamente moldou as estruturas sociais, políticas e econômicas para favorecer os homens, enquanto marginaliza e desvaloriza as contribuições femininas.

Esse padrão não deve apenas ser questionado, mas também desconstruído todos os dias. Caso contrário, uma coisa é certa: em qualquer gestão, se houver apenas uma mulher ocupando o cargo, a falta de visibilidade irá recair sobre ela.

É preciso ir além e enxergar o que está por trás de tudo isso. Falta visibilidade para as mulheres do Governo, ou o patriarcado está fazendo seu trabalho?

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Raíssa França

Cofundadora do Eufêmea, Jornalista formada pela UNIT Alagoas e pós-graduanda em Direitos Humanos, Gênero e Sexualidade. Em 2023, venceu o Troféu Mulher Imprensa na categoria Nordeste e o prêmio Sebrae Mulher de Negócios em Alagoas.