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Violência e misoginia: o que está por trás do ataque a jornalista alagoana

O ataque direcionado à jornalista Géssika Costa não deve ser entendido como um caso isolado. Pelo contrário, ele integra um sistema mais amplo de violência simbólica e misoginia. As palavras escolhidas pelo comunicador e professor Rodrigo Veridiano para ‘rebater’ o comentário da jornalista — chamando-a de “cara de rato” e “energúmena” e utilizando a expressão “afundar o pepino em você”, que pode ser interpretada como uma sugestão de violência sexual — não se limitam a uma ofensa pessoal.

Em geral, homens agridem mulheres recorrendo a expressões que objetificam sua aparência física e trazem conotações sexuais, como no caso citado. Ao agir dessa forma, não se trata apenas de um discurso ofensivo; o objetivo é desqualificar as mulheres e desencorajar sua participação no debate público. Dessa forma, busca-se silenciá-las.

Há muito mais por trás desses ataques. Ao estudar feminismo e gênero, especialmente através dos livros de Valeska Zanello, percebo que esses casos não se limitam apenas ao que estamos lendo aqui. Historicamente, o controle sobre o corpo e a fala das mulheres é exercido por meio da ridicularização, do escárnio, da objetificação e, em casos mais graves, da ameaça de violência.

Quando ele utiliza expressões que objetificam sua aparência física e carregam conotações sexuais, está agindo para a manutenção do patriarcado: primeiro, ele foca na aparência, desviando a atenção da crítica e fazendo com que ela se sinta mal, pois o ataque atinge diretamente sua autoestima; segundo, ao dizer “enviar o pepino em você”, ele reafirma que o lugar dela é como alguém que pode ser submetida, controlada e silenciada por meio de ameaças. E o mais grave: ameaça sexual, pois na mente dos homens, nosso corpo lhes pertence.

Géssika decidiu não se calar. Com isso, estamos quebrando um padrão estabelecido, já que o silêncio ainda é uma norma que as mulheres estão desconstruindo. Com a exposição de Rodrigo (e de outros que seguem o mesmo padrão), estamos derrubando o muro erguido pelo sistema patriarcal, machista e misógino.

Não estamos falando apenas da má conduta dele, mas de um sistema que insiste em nos calar, nos culpabilizar e que acredita que não temos poder de crítica. Continuemos falando, criticando, gritando e derrubando muros. Constranger quem nos constrange. Dá nome aos que nos ameaçam, violentam…

A jornalista que foi atacada é uma mulher negra premiada, uma das melhores jornalistas de Alagoas e que tem uma linda bagagem pela frente. Ela também é uma mulher de luta, resistência e força. Ela não está só. Ela nunca esteve.

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Raíssa França

Cofundadora do Eufêmea, Jornalista formada pela UNIT Alagoas e pós-graduanda em Direitos Humanos, Gênero e Sexualidade. Em 2023, venceu o Troféu Mulher Imprensa na categoria Nordeste e o prêmio Sebrae Mulher de Negócios em Alagoas.