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Exposição infantil: quais são os impactos do uso excessivo da internet no desenvolvimento das crianças?

(Tempo de leitura: 4 minutos)

Foto: Portal Lunetas

“Pessoas responsáveis por crianças devem ter cuidado ao compartilhar a vida delas online, seja por meio de vídeos ou fotos. O primeiro ponto a considerar é a proteção da privacidade e da segurança da criança”, alerta Hayanne Lima, psicóloga especialista na primeira infância.

O termo sharenting resulta da fusão das palavras em inglês share (compartilhar) e parenting (paternidade), e define o fenômeno social em que pais ou responsáveis expõem excessivamente a rotina de crianças nas redes sociais, seja por meio de fotos, vídeos ou relatos.

Uma pesquisa do Relatório de Mercado de Comunicações apontou que 42% dos pais entrevistados publicam imagens de seus filhos, sendo que pelo menos metade compartilha esse tipo de conteúdo ao menos uma vez por mês.

Superexposição infantil

Em entrevista ao Eufêmea, a psicóloga Hayanne Lima alerta para os riscos de compartilhar informações sensíveis sobre crianças na internet. Segundo ela, é fundamental evitar a publicação de dados como nome completo, escola, localização e rotina diária.

Foto: Cortesia ao Eufêmea

Além disso, Hayanne reforça a importância de preservar a imagem da criança, evitando fotos que possam constrangê-la, colocá-la em situação de vulnerabilidade ou expor partes do corpo de forma inadequada.

“Atualmente, muitas pessoas compartilham imagens de crianças sem considerar os possíveis impactos. No futuro, essas crianças podem não se sentir confortáveis ao ver essas fotos, à medida que desenvolvem um maior entendimento sobre sua própria privacidade. […] É essencial ter cautela, especialmente ao expor fotos de crianças que não são suas”, alerta a especialista.

Crianças expostas precocemente à internet tendem a desenvolver maior familiaridade com o ambiente digital, o que pode aumentar o risco de acesso a conteúdos inapropriados e incentivar o uso excessivo das redes sociais. Segundo a psicóloga, essa exposição pode trazer impactos negativos, como dificuldades na regulação emocional e no desenvolvimento de habilidades sociais.

“As redes sociais criam uma realidade muitas vezes distorcida. Isso pode levar à dependência digital, prejudicando ainda mais o desenvolvimento emocional e cognitivo da criança”, alerta a especialista.

Impactos psicológicos do uso excessivo da internet

Foto: Cortesia ao Eufêmea

A neuropsicóloga Chris Couto alerta que o uso excessivo das redes sociais está diretamente ligado ao aumento de transtornos psiquiátricos na infância e adolescência, especialmente entre meninas. Entre os principais problemas, ela destaca casos de depressão com risco de suicídio, ansiedade e transtornos alimentares.

A identificação precoce de sinais de impacto negativo é essencial para prevenir danos mais graves. Segundo Couto, os pais devem estar atentos a mudanças bruscas no comportamento dos filhos, como retraimento, agressividade e alterações no padrão de sono.

“O mundo virtual pode ser ainda mais perigoso do que o real. O melhor conselho é não permitir que a criança utilize a internet sem a supervisão de um adulto. Caso os pais optem por permitir o acesso, é fundamental orientá-los sobre os riscos, como a pedofilia, por exemplo”, explica a especialista.

Além do monitoramento, a mediação ativa dos responsáveis é essencial para que as crianças aprendam a reconhecer ameaças online e saibam como agir diante de situações perigosas. “Pais imaturos e irresponsáveis podem expor os filhos a situações vexatórias, gerando consequências graves no futuro”, reforça.

Os desafios nas escolas

Foto: Cortesia ao Eufêmea

Professores e educadores enfrentam dificuldades cada vez maiores ao lidar com crianças que têm acesso irrestrito à internet. A pedagoga Mariana Faria explica que essa exposição afeta diretamente a dinâmica de aprendizagem.

“Se uma criança está acostumada a consumir vídeos curtos, manter o interesse em uma aula mais longa se torna desafiador. Além disso, muitas chegam à escola cansadas por passarem a madrugada conectadas ou ansiosas para verificar notificações”, pontua.

Outro impacto preocupante está na formação de opiniões e comportamentos. Segundo Mariana, o excesso de informações online pode levar crianças a absorverem conteúdos não confiáveis. Além disso, aquelas que passam muito tempo em jogos ou redes sociais podem apresentar dificuldades na interação presencial e, em alguns casos, reproduzir comportamentos agressivos vistos na internet.

A pedagoga reforça que a parceria entre escolas e famílias é essencial para promover um uso mais equilibrado da tecnologia. “A escola precisa envolver os pais nesse debate, pois o trabalho feito na sala de aula pode ser comprometido se, em casa, as crianças tiverem acesso irrestrito à internet. Palestras, rodas de conversa e orientações pontuais são estratégias que podem ajudar”, destaca.

Uso consciente da tecnologia

Mariana enfatiza que controlar o tempo de tela não significa proibir, mas equilibrar. Para isso, é essencial oferecer alternativas. “A tecnologia não deve ser a única fonte de diversão e aprendizado. Os pais precisam dar o exemplo, pois se estiverem sempre conectados, a argumentação contra o excesso de internet se torna mais difícil”, ressalta.

Para evitar a dependência digital, estabelecer limites é fundamental. A pedagoga reforça que tanto a família quanto a escola devem criar regras claras para o uso da tecnologia, incentivando momentos offline. “O ideal é ensinar o uso consciente desde cedo, para que a criança cresça sabendo equilibrar o digital e o real”, conclui.

Foto de Rebecca Moura

Rebecca Moura

Estudante de Jornalismo pela Universidade Federal de Alagoas e colaboradora no portal Eufêmea, conquistou o primeiro lugar no Prêmio Sinturb de Jornalismo em 2021. Em 2024, obteve duas premiações importantes: primeiro lugar na categoria estudante no 2º Prêmio MPAL de Jornalismo e segundo lugar no III Prêmio de Jornalismo Científico José Marques Melo.