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Elas contam como se viram nos 30 para cuidar dos filhos: “As pessoas ainda romantizam a maternidade solo”

Criar os filhos sozinha não é tarefa fácil. Conciliar a criação com o trabalho, o lar e a vida pessoal é praticamente fazer milagre todos os dias. Afinal, tudo isso demanda tempo e entrega. Sem rede de apoio, nem a presença do pai, tudo fica mais difícil. 

O Eufemea ouviu duas mulheres que são mães e que contam como lidam com a jornada de criar os filhos sozinhas.

A rotina da jornalista Thayanne Magalhães, 35 anos, começava cedo antes da pandemia. Às 6h30, Thayanne saía para deixar os filhos Gabriel Magalhães, 7 anos e Vicente Magalhães, 3, na escola para que ela fosse ao trabalho.

“Meio-dia eu ia buscar os dois. Duas vezes por semana levo os dois na natação, às quintas Gabriel tem terapia. Nos finais de semana sempre programo praia, casa da minha mãe no interior ou algo que os dois fiquem felizes”, contou.

A rotina de Thayanne é cansativa e ela diz que não conta com a ajuda presencial do pai. Segundo ela, quando ela e o pai das crianças casaram, o maior desejo da vida dele era ser pai.

“Um desejo que durou os primeiros três anos do nosso filho mais velho. Fui parir Vicente sozinha enquanto via fotos dele nas redes sociais, festejando a nova vida em bares”, comentou.

A jornalista não tem uma rede de apoio que a ajude cuidar dos filhos. Por causa disso, a vida social dela acontece de maneira rara.

“Se eu precisar de ajuda, são poucas as pessoas em volta que podem cuidar dos meus filhos enquanto resolvo algo do trabalho. Vida social é algo que aprecio muito quando tenho oportunidade, porque não cabe na minha rotina encontrar os amigos todos os finais de semana ou ter uma programação que não caiba crianças”, reforçou Thayanne.

E não é só a ausência da presença física que pesa para a jornalista. Thayanne também disse que providenciou o divórcio com a pensão já estipulada. “Ele mal vê o filho mais velho, o único que ainda pergunta por ele. O caçula não tem nenhum apego. Ele me pergunta o que ele fez de errado para o pai ir embora e não querer mais ficar com ele. A pensão também não é paga como deveria”.

Thayanne cuida da casa, dos filhos, do trabalho e ainda precisa cuidar dela. E as cobranças das pessoas não páram. “As pessoas me cobram um namorado. Ainda somos vistas como infelizes sem ter um homem ao lado. Mas a que horas vou namorar? Não sinto essa necessidade.”

Ela também diz que o que a deixa inconformada é ver que as pessoas ainda romantizam a maternidade solo. “Somos chamadas de guerreiras, fortes, invencíveis. Não somos! Já ouvi muitos conselhos de mães mais velhas que falam com orgulho que não foram na Justiça exigir pensão e deram conta até do financeiro sozinhas. Não bastasse toda exaustão física e emocional”.

Rede de apoio do pai e da mãe

A fotógrafa Dominique Lages, de 32 anos tem uma filha chamada Lara, de 6 anos. Ela contou ao Eufemea que sempre foi mãe solo, já que o pai registrou apenas a filha. Antes da maternidade, Dominique trabalhava como fotógrafa em baladas, mas com a chegada de Lara ficou impossível. “Eu não podia trocar a noite pelo dia e isso sempre foi muito difícil pra mim.”

Dominique disse que sempre deixou aberto o espaço para que o pai visse a filha, mas ele só a via uma vez por mês ou quando queria. “Nunca fiz questão que ele desse nada”. Até que depois, ela decidiu entrar na Justiça para garantir o direito de pensão alimentícia para a filha. “Ele paga R$ 200 de pensão, mas ele não pagava sempre. Praticamente todo mês eu tinha que ir na Defensoria Pública para dizer que ele não pagava”.

Hoje em dia, Dominique é fotógrafa infantil e consegue sustentar a filha. “Eu ralo muito para manter casa, pagar transporte, pagar escola”, disse.

Para dar conta de tudo, ela tem a ajuda da mãe e pai. “Se não fosse minha mãe e meu pai, eu não teria dado conta”. 

Esse apoio, diz, faz toda diferença. “Fui sempre mãe e pai a vida inteira. A referência de pai da minha filha é meu pai”. A fotógrafa relembrou um momento que a filha participou de uma festinha do dia dos pais na escola e que ela saiu da festa com uma lembrancinha nas mãos, triste. “Aí eu perguntei pra ela o que estava acontecendo, e ela me perguntou para quem eu daria a lembrancinha. E eu questionei para quem ela queria entregar o presente, e ela disse que para o vovô”. A lembrança dói até hoje em Dominique. 

Dominique se vira nos 30 e disse que até hoje ouve piada de que “deu o golpe do baú no ex-companheiro”. “Imagine, eu dando golpe para ganhar R$ 200”, comentou.

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Raíssa França

Cofundadora do Eufêmea, Jornalista formada pela UNIT Alagoas e pós-graduanda em Direitos Humanos, Gênero e Sexualidade. Em 2023, venceu o Troféu Mulher Imprensa na categoria Nordeste e o prêmio Sebrae Mulher de Negócios em Alagoas.