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“Cachaceira com muito orgulho”: conheça a história da sommelier Etienne Meira

Pinga, birita, cana, não importa o modo como é chamada, a cachaça é arraigada na cultura brasileira desde o período colonial. Para Etienne Meira, uma historiadora paranaense, a bebida relembra os churrascos e os almoços de família, sendo o item principal desses momentos de confraternização. A paixão é tamanha que superou a memória familiar e a historiadora tornou-se uma especialista em cachaça.

Conheça a sommelier Etienne Meira

Foto: Cortesia

Enquanto cursava História na Universidade Federal do Paraná, Etienne se interessou por uma linha de pesquisa denominada “História da Alimentação”. É a partir deste momento que sua relação afetiva com a cachaça começa a se transformar em estudo científico.

“Eu iniciei pesquisando sobre os alambiques do meu próprio lugar, que é a região litorânea do Paraná. Por ter visitado muitos lugares e ter conhecido muitos produtores, despertou em mim o interesse de se envolver nessa área de forma comercial e começar a trabalhar especificamente com isso”, afirma ela ao Eufêmea.

Na busca por desconstruir o machismo que ainda envolve o consumo e a produção da bebida, Etienne deu continuidade às pesquisas através do seu mestrado.

No entanto, afirma que da mesma maneira que outras, ela trilhou um árduo caminho repleto de preconceitos por ser mulher e falar de cachaça.

“Acho que não conheço nenhuma mulher que trabalhe nesse meio e nunca tenha passado por algum episódio machista, conheço casos até de assédio. Alguns exemplos são alunos me desmerecendo por uma mulher estar ensinando a eles sobre bebidas ou pessoas me confundindo como garçonete nas feiras de cachaça, e quando descobrem que na verdade eu sou a sommelier, exigem que seja um homem”, desabafa a historiadora.

Uma outra ideia retrógrada, mas em relação ao consumo, é determinar o que é “bebida de mulher”. Segundo Etienne, associar as bebidas com baixo teor alcoólico (as chamadas “fracas e docinhas”) para as mulheres é contraditório, porque o paladar é construído ao longo da vida, podendo ser adaptado a novos sabores, inclusive, aos vários sabores de cachaça.

“Então não dá para traçar um perfil específico, todos podem beber o que convier ao seu paladar ou ao momento. Uma dica é sempre tentar fazer boas harmonizações, porque a chance de você se encantar pelos diversos tipos de sabores e aromas das bebidas aumenta, quando elas estão acompanhadas por um alimento ”, reforça a sommelier.

“Sou uma mulher cachaceira com muito orgulho”

Ser uma mulher especialista em bebidas é uma função desafiadora, mas Etienne se orgulha em representar as mulheres que gostam de discutir, consumir e pesquisar sobre bebidas. “A cachaça está ressurgindo como um produto cultural que tá tendo seu requinte merecido com as mulheres tomando os espaços. É o início de uma mudança, muita coisa ainda precisa ser modificada, mas me dá esperança em saber que já estamos no caminho”, diz orgulhosa.

O surgimento de grupos, clubes e confrarias exclusivamente femininas tem aumentado bastante no Brasil, contribuindo para desmistificar que cachaça é assunto masculino. “A união dessas mulheres é extremamente importante, porque além de serem grupos que fomentam estudos sobre bebidas, como técnicas de degustação e história, é mais uma forma de estreitar laços de amizade e formarem redes de apoio”, relata Etienne.

A presença feminina nos corpos de jurados de concursos e festivais do Brasil também cresceu. “Temos ótimas juízas no mercado, algumas compondo o ranking de melhores juízes pontuados no mundo. Não se faz concurso hoje sem a participação de mulheres, alguns concursos exigem até 50% de participação. Sem contar que já temos concursos organizados por mulheres”, comemora ela.

Em Alagoas

Atualmente, a cachaça é considerada um patrimônio gastronômico do Brasil, e em alusão ao Dia Nacional da Cachaça, comemorado ontem (13), a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo de Alagoas lançou a “Rota da Cachaça”. Um roteiro por engenhos, fábricas e restaurantes do Agreste alagoano, que deve movimentar ainda mais o turismo na região.

Entre as fábricas que podem ser visitadas na região do agreste estão o Engenho Caraçuípe, Cachaçaria Brejo dos Bois, Cachaçaria Coração da Mata, Cachaçaria Gogó da Ema e a Taverna Beer, uma fábrica de cerveja que passou a produzir cachaças recentemente. Além das produtoras de cachaça, os passeios podem incluir outros empreendimentos da região, como o Engenho do Queijo, o Empório Alegre e vários outros restaurantes dos municípios do Agreste.

De acordo com a secretária de Estado e Turismo, Bárbara Braga, a iniciativa visa valorizar a tradição e a autenticidade do produto que faz parte da cultura alagoana.

“O trabalho que estamos desenvolvendo, que une o poder público com a iniciativa privada tem dados bons resultados e a concretização da Rota da Cachaça é mais uma prova disso. Estamos muito realizados em conseguir lançar esta novidade, que além de falar um pouco sobre as raízes do nosso povo, mostra a força dos nossos empreendimentos, premiados internacionalmente”, ressaltou a secretária.

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Cecília Calado

Pernambucana vivendo em terras alagoanas, Cecília Calado é estudante de Jornalismo com experiência em mídias sociais e produção de rádio e TV. Considera o Jornalismo uma ferramenta de transformação social.