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Mais liberdade e uma nova forma de trabalhar: elas contam suas experiências como nômades digitais

Liberdade, novos lugares, culturas diversas e uma nova maneira de trabalhar. Já imaginou como seria a vida de uma nômade digital? A terapeuta reichiana e bioenergética Giselle Claudino, de 31 anos, tem experimentado esse novo modo de viver.

Ao Eufêmea, a alagoana contou que começou suas viagens solo combinadas com trabalho aos 26 anos, em 2021. Durante sua jornada ela visitou Guatemala, Portugal, Espanha, França, Suíça, Itália, EUA e México.

A motivação para adotar o estilo de vida nômade digital veio de uma combinação de fatores. Embora gostasse do que aprendia no curso de Administração, Giselle não se via trabalhando em um escritório tradicional. Durante um estágio em uma empresa de turismo de aventura, ela descobriu sua paixão por estar ao ar livre.

Porém, foi seu relacionamento com Lucas, seu noivo, que deu o empurrão final. “Ele me convidou para ir com ele para a Guatemala e, como eu estava muito apaixonada e queria estar com ele, tive coragem e decidi migrar 100% para o online”, conta. Hoje, ela trabalha com atendimentos online.

Foto: Cortesia

Viver novas experiências

Uma experiência marcante para Giselle foi na Guatemala, onde subiu o Vulcão Acatenango. “Senti a terra tremer e vi o Vulcão de Fuego entrar em erupção. Foi a experiência mais marcante e avassaladora da minha vida”, lembra emocionada.

“Senti a grandiosidade da natureza nessa experiência, vi a lua cheia lá de cima do vulcão, um frio que nunca tinha sentido na vida. Estava a 3.976 metros acima do nível do mar. Foi impressionante e emocionante, me senti muito agraciada pela boa sorte da vida. Passei uma semana sentindo as pernas depois disso”, afirmou.

Saudade, adoecer…

No entanto, ser nômade digital também tem seus desafios, e a saudade é o principal deles. “Tem dias difíceis, a saudade aperta e dói. Eu choro, mando mensagens ou faço uma ligação para quem sinto falta e me permito sentir,’ diz Giselle.

Ela destaca que as pessoas ainda romantizam muito a vida do nômade digital, mas nem sempre é fácil. “Adoecer viajando pode ser um inferno na terra. Semana passada, quando cheguei em Tulum e tudo estava um caos, eu só queria minha mãe e voltar para casa”, desabafa Giselle. Apesar disso, ela disse que ama estar no mundo. “O plano é não ter tantos planos”.

Para abraçar a liberdade de viajar e trabalhar ao mesmo tempo, não há restrições de horário ou local. Esse é o caso de Marisa Porto. A terapeuta de 60 anos encontrou um novo sentido para a vida após se aposentar, ao se tornar uma nômade digital. Ela relata que trabalhou por 30 anos em uma escola e, com a aposentadoria se aproximando, começou a refletir sobre o que gostaria de fazer em seguida.

Nômade aos 60

Foto: Cortesia

“Aos 60 anos, enquanto algumas pessoas pensam que já estão no fim da linha, nós temos a possibilidade de começar uma nova história com a liberdade que a idade nos proporciona,” explica Marisa. Com os filhos já crescidos, ela viu a oportunidade de realizar antigos sonhos e iniciou um projeto: “Nômade digital aos 60”.

Com uma grande base de alunos e clientes de consultoria online, Marisa viu uma oportunidade de unir o útil ao agradável. Durante um evento em São Paulo, ela se hospedou na casa de uma aluna, o que gerou um movimento entre suas outras alunas, que começaram a convidar Marisa para visitá-las em diferentes cidades.

“Quando postei uma foto na casa dela, outras alunas começaram a perguntar: ‘Quando você vem aqui em casa? Quando você vem na minha cidade? Eu quero que você venha à minha casa! Então, comecei a pensar em como poderia atender a essas solicitações. Uma aluna de Salvador já estava organizando minha ida para lá”, explica a terapeuta.

Marisa organizou três roteiros pelo Brasil, começando pela região Sudeste, seguida pelo Nordeste e, por fim, pelo Sul. “Passei meses viajando pelo Brasil. Imagine quantas pessoas eu conheci, sotaques, hábitos, sabores e quantas paisagens diferentes”, comenta.

Uma das maiores descobertas de Marisa foi a experiência de viajar sozinha. Ela diz que viajar sozinha traz uma percepção de prestar atenção em tudo: aos sons, às imagens, às pessoas ao redor, e isso enriquece a viagem. “Quando estamos com alguém, acabamos conversando e nos distraindo. Sozinhas, não nos distraímos e absorvemos tudo o que está ao nosso redor”, expõe Marisa.

Mudar a rota

Foto: Cortesia

Marisa é a prova de que não existe tempo certo para adotar um novo estilo de vida. No caso dela, tudo foi bem planejado, ao contrário da especialista em eventos Kelly Martelli, que se tornou nômade digital durante a pandemia da Covid-19.

A trajetória profissional de Martelli a levou por diferentes segmentos, mas foi em 2019 que sua vida deu uma grande reviravolta. Na época, trabalhava em uma startup e, ao comunicar sua saída devido à mudança, recebeu a proposta de continuar de forma remota.

Ela descreve o início dessa jornada como desafiador, especialmente devido à pandemia, que começou pouco depois de sua transição para o trabalho remoto. “A minha virada para o trabalho remoto aconteceu meses antes do início da pandemia, então não estava nos meus planos ficar em completo isolamento por tanto tempo. Mas sempre fui muito determinada e organizada, o que me ajudou muito a desenvolver meu trabalho mesmo longe do escritório fisicamente e a obter resultados expressivos”, conta Kelly.

Ao final da pandemia, ela e seu marido decidiram passar o inverno em locais mais quentes e menos conhecidos no Nordeste, optando por um turismo alternativo. Com seus dois cachorros, embarcaram em uma jornada que incluiu Japaratinga em Alagoas, Parnamirim no Rio Grande do Norte e Quixaba no Ceará, percorrendo 22.000 km em seis meses.

Kelly trabalha como especialista em eventos, sendo responsável pela produção e captação de patrocínios em feiras de negócios que normalmente acontecem em São Paulo. “Trabalho de onde estou de forma remota e vou para São Paulo presencialmente para as entregas e realizações”, diz.

A conectividade é crucial para as viagens de Kelly. “Internet estável, notebook e fone de ouvido são indispensáveis. O celular hoje tem uma conexão muito boa e me salva se a internet do local falhar, mas já enfrentei alguns perrengues”, comenta. Ela relata que já teve que fazer reuniões em mercados, dentro do carro, na casa de vizinhos e até em oficinas mecânicas.

Apesar dos desafios, o estilo de vida nômade digital trouxe muitos benefícios para sua vida pessoal e relacionamentos.

“Nossa pequena família hoje não sabe viver de outra forma. Somos muito felizes com a oportunidade de trabalhar de onde estivermos, conhecendo novos lugares, pessoas e culturas”, afirma Kelly.

Nova vida

Foto: Cortesia

Em 2020, com a chegada da pandemia, Thais, 35 anos, estava em São Paulo, presa em um apartamento e trabalhando em home office. “Era um emprego estável, mas que não fazia mais sentido para mim. Estava confinada em um apartamento sem poder sair, sem ver a luz do sol, afinal, eu estava na selva de pedras. Quando me vi trabalhando em home office, algo até então inviável para mim, tive um insight e percebi que era possível”, relembra.

Foi então que decidiu buscar outro emprego e voltar para o Rio de Janeiro. Em um ano e dois meses, ela vendeu tudo, entregou o apartamento e partiu para a vida de nômade digital. Sua primeira parada foi na Colômbia, onde ficou por três meses, seguidos por alguns meses na Costa Rica.

Porém, as coisas mudaram em maio de 2023, quando foi demitida. Estava nos Lençóis Maranhenses e precisou recalcular sua rota. “Foi difícil continuar sendo nômade após ser demitida. Naquele momento, mudei meu formato de trabalho, não era mais CLT e migrei da educação para o turismo. Além disso, já não ganhava o mesmo salário de antes. Então, a estabilidade financeira se tornou um desafio”, conta Thais.

No entanto, ela conseguiu se restabelecer novamente e vê um futuro promissor para o trabalho remoto e o estilo de vida nômade digital. “Com a pandemia de COVID-19, muitas empresas perceberam que o trabalho remoto é viável e, em muitos casos, até mais produtivo. Essa aceitação deveria continuar a crescer, com mais empresas adotando modelos híbridos ou totalmente remotos,” acredita Thais.

Mitos

Um dos maiores mitos sobre ser nômade digital, segundo Thais, é que a vida é como estar de férias o tempo todo. “A realidade é que, como qualquer outro trabalho, ser nômade digital exige disciplina, organização e trabalho árduo,” esclarece.

Outro mito comum é que é uma opção barata e acessível para todos.

“A vida de nômade digital pode ser cara, especialmente em destinos populares. Custos com passagens aéreas, acomodação, alimentação e seguros podem somar rapidamente,” alerta Thais.

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Rebecca Moura

Estudante de Jornalismo pela Universidade Federal de Alagoas e colaboradora no portal Eufêmea, conquistou o primeiro lugar no Prêmio Sinturb de Jornalismo em 2021. Em 2024, obteve duas premiações importantes: primeiro lugar na categoria estudante no 2º Prêmio MPAL de Jornalismo e segundo lugar no III Prêmio de Jornalismo Científico José Marques Melo.