Crédito: Getty Images
por Rafaela Queiroz e Amaraline Vieira
Você pode estar pensando: “Nossa, como ela vai falar sobre uma foto semanas depois do ocorrido?” É verdade, posso estar um pouco atrasada com o comentário sobre essa foto, mas resolvi refletir sobre o que ela realmente representa.
Confesso que passei alguns dias pensando sobre o que eu poderia dizer. Nada surgiu até que, em um encontro casual na festa dos advogados, encontrei uma colega de profissão. Ela é advogada, negra, e, na minha visão, é uma das muitas “Rebecas” do nosso país.
Quero destacar por que essa foto me chamou tanta atenção (a foto que está como principal). Ela me faz enxergar um mundo mais plural, um mundo em constante evolução. Depois de anos de lutas, mulheres negras têm oportunidades de brilhar e conquistaram um pódio só delas. Mais impressionante ainda foi o reconhecimento do brilho, do talento e da vitória da campeã.
Vivemos em um Brasil que, apesar de ser uma das maiores potências mundiais e de ter imensas riquezas, ainda não consegue organizá-las para materializar seu potencial e se tornar o país desenvolvido que poderia ser há tanto tempo.
Mesmo após sediar as Olimpíadas Rio 2016, não temos os investimentos adequados em esporte, e os poucos atletas que chegam ao pódio são verdadeiros exemplos de como a paixão e a dedicação podem transformar sonhos em realidade. Para mim, Rebeca é uma fonte de inspiração, mostrando que, com trabalho duro e persistência, qualquer meta é alcançável.
A foto do pódio é mais do que uma simples imagem; é uma declaração de empoderamento e uma celebração da força feminina em sua forma mais pura. E mais, ela é toda negra. Isso é uma afirmação poderosa de que talento e trabalho árduo não têm cor e que todas as atletas merecem sucesso.
Embora a competição seja individual, o reconhecimento e a celebração mútua entre atletas criam um senso de camaradagem. O apoio em reconhecer o quão difícil foi para aquela atleta chegar onde chegou, com tão pouco incentivo, é um lembrete de que o verdadeiro espírito esportivo vai além das medalhas.
Podemos ler nas palavras de Amaraline Vieira, a colega que mencionei acima, a importância política dessa foto. Por que precisamos TANTO ressoar as vozes de várias “Rebecas” ao nosso redor?
Eu cresci em um sistema onde pódios não são para pessoas como nós. Mulheres, negras e vindas das periferias dificilmente teriam um lugar de destaque, especialmente no que diz respeito à atuação e visibilidade, pois estamos quase sempre à margem. Quando cenas como essas acontecem, ocorre um choque cultural e social que impacta não apenas as meninas negras, constantemente oprimidas, mas também toda a estrutura social que tenta, de alguma forma, silenciar e excluir nossas forças.
É impossível olhar para essa imagem e não lembrar das inúmeras vezes em que me disseram que não conseguiria chegar onde cheguei, que não é possível alcançar aonde quer que eu vá. A palavra “impossível” faz parte do nosso processo de crescimento: ouvimos essa palavra diariamente como uma forma de oprimir nossos ideais. Afinal, nossos corpos ocupando “pódios” causam estranhamento para os opressores, mas, internamente, geram uma revolução para todas as mulheres negras oprimidas.
Nossa luta é sempre três vezes mais difícil; temos que nos esforçar três vezes mais que os outros para alcançar e conquistar nossas medalhas. Essas três me mostraram que, sim, é possível, e que somos, na verdade, três vezes maiores e mais fortes do que tudo isso.