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Racismo Recreativo: psicóloga explica como humor mascarado perpetua o preconceito

Foto: Revista Afirmativa

O racismo recreativo disfarça e perpetua o preconceito racial por meio do humor. De acordo com a psicóloga Mônica Guimarães, do Instituto Negro de Alagoas (INEG), essa prática pode ser descrita como “uma forma de desumanizar pessoas negras por meio de piadas, retratando-as como inferiores e reforçando estereótipos negativos”.

Foto: Cortesia

Ela explicou ao Eufêmea que essas piadas e representações são frequentemente justificadas como entretenimento ou humor, mas o impacto emocional nas vítimas não pode ser ignorado. “O fato de alguém dizer que não tinha a intenção de ofender não diminui o sofrimento causado”, reforçou.

Blackface

Um exemplo clássico de racismo recreativo é o blackface, uma prática historicamente racista na qual pessoas brancas pintam o rosto de preto para imitar e caricaturar estereótipos físicos de pessoas negras. “É algo que vemos com frequência: quando o racismo é apresentado como uma piada, as pessoas tendem a relativizar seu impacto”, comenta Guimarães.

Outros exemplos:

Piadas e Anedotas Racistas: Piadas que associam pessoas negras a características negativas, como a preguiça, criminalidade ou falta de inteligência. Embora sejam apresentadas como “brincadeiras”, essas piadas reforçam estereótipos prejudiciais.

Personagens Caricatos em Mídias: Representações de pessoas negras como serviçais, escravos, ou personagens exageradamente “engraçados” em filmes, séries e novelas. Esses personagens, muitas vezes retratados como submissos ou estereotipados, contribuem para perpetuar uma imagem inferiorizada.

Imitações de Acentos e Maneirismos: Quando pessoas brancas imitam acentos ou formas de falar de negros ou outros grupos étnicos de maneira exagerada, para provocar risos. Essa prática reforça a ideia de que as culturas e modos de expressão dessas pessoas são “inferiores” ou “engraçados”.

Fantasias Racistas: Usar fantasias que caricaturam povos e culturas (como se vestir como uma “baiana”, indígena ou rastafári de maneira estereotipada) é uma forma de racismo recreativo. Essas fantasias costumam desconsiderar o significado cultural e transformam identidades em objetos de diversão.

Apelidos Racistas: O uso de apelidos como “macaco”, “neguinho” ou outros termos pejorativos, muitas vezes disfarçados como brincadeira ou forma “carinhosa” de se referir a alguém, é uma prática comum de racismo recreativo.

Memes e Postagens nas Redes Sociais: Memes que utilizam imagens de pessoas negras de forma estereotipada, especialmente aqueles que as retratam como violentas, ignorantes ou de modo pejorativo, também são exemplos de racismo recreativo.

Impactos emocionais e psicológicos

Segundo a psicóloga, o racismo recreativo provoca danos profundos nas vítimas, afetando diretamente sua autoestima e identidade. Mônica Guimarães destaca que “essas piadas e comportamentos reforçam a ideia de que pessoas negras não pertencem a certos espaços, o que pode levar ao isolamento, ansiedade e dificuldades nos relacionamentos”.

O racismo mascarado de humor, conforme explica a psicóloga, perpetua um sistema de opressão ao reforçar estereótipos negativos.

“Quando vemos piadas que associam o homem negro à criminalidade ou retratam a mulher negra como sexualmente disponível, isso não é apenas uma ‘brincadeira’. Essas representações refletem e reforçam visões racistas que têm consequências reais na vida dessas pessoas”, esclarece Guimarães.

Racismo recreativo em Alagoas

Em Alagoas, o racismo recreativo ganhou destaque devido a casos denunciados pelo Instituto Negro de Alagoas. Um dos episódios mais recentes envolveu o uso de blackface em uma peça no Teatro Deodoro, que resultou em uma ação judicial após dois anos de tramitação.

“Infelizmente, o argumento da ‘liberdade de expressão’ é frequentemente utilizado para defender práticas racistas, o que torna ainda mais difícil responsabilizar aqueles que perpetuam essas ações”, comentou Guimarães.

Para a psicóloga, a conscientização é fundamental no combate ao racismo recreativo. “Discutir os impactos dessas piadas é essencial para que as pessoas compreendam o quão prejudicial pode ser uma ‘brincadeira’ disfarçada de humor”, afirma.

Ela ressalta a importância de uma educação antirracista que promova o respeito e a valorização das diferenças culturais e étnicas. “A desconstrução de estereótipos é crucial para que possamos construir uma sociedade onde o humor não seja usado como ferramenta de opressão”, explica Guimarães.

Para a psicóloga, a mudança de mentalidade começa com a educação. “Ao educar as pessoas sobre os efeitos psicológicos e emocionais do racismo recreativo, podemos fomentar empatia e, eventualmente, mudar comportamentos que perpetuam a discriminação”, conclui.

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Rebecca Moura

Estudante de Jornalismo pela Universidade Federal de Alagoas e colaboradora no portal Eufêmea, conquistou o primeiro lugar no Prêmio Sinturb de Jornalismo em 2021. Em 2024, obteve duas premiações importantes: primeiro lugar na categoria estudante no 2º Prêmio MPAL de Jornalismo e segundo lugar no III Prêmio de Jornalismo Científico José Marques Melo.