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Do hospital à pesquisa científica: A trajetória da enfermeira do trabalho no acolhimento de vítimas de violência em AL



Diariamente, a saúde pública é transformada por profissionais comprometidos com a humanização e o acolhimento integral, especialmente em áreas sensíveis como o atendimento a vítimas de violência doméstica e violência sexual contra crianças e adolescentes. Além do conhecimento técnico, esse trabalho exige dedicação e resiliência para lidar com as complexidades sociais e emocionais envolvidas.

Um exemplo desse comprometimento é Andréa Teodozio, enfermeira do trabalho com mestrado em terapia intensiva e MBA em gestão em saúde, que há mais de 15 anos se dedica a aprimorar a assistência em saúde. Atualmente, ela também está concluindo um curso de terapeuta integrativa com foco no comportamento humano e comemora a recente aprovação de dois artigos científicos para publicação.

Trajetória e experiência

Foto: Cortesia ao Eufêmea

Ao Eufêmea, ela relata que o caminho na enfermagem iniciou-se em 2008, como enfermeira emergencista no Hospital Geral do Estado (HGE), onde rapidamente se destacou e ingressou na educação permanente, assumindo também a coordenação da equipe da área azul.

“Após 12 anos, fui convidada pelo então secretário de saúde para integrar a Rede de Atenção às Violências (RAV), que estava sendo criada em 2018, impulsionada pelo Ministério Público para atender vítimas de violência sexual. Uma equipe multidisciplinar realizava visitas a hospitais, IMLs e delegacias para acompanhar essas vítimas”, conta Andréa.

Em 2019, com a inauguração do Hospital da Mulher de Maceió, ela participou da implementação da Área Lilás, espaço criado para atendimento integral e humanizado às vítimas, proporcionando acolhimento inicial por enfermeiras, psicólogas e assistentes sociais e garantindo um processo livre de revitimização.

“Este espaço é completo, com médicos, peritos do IML, policiais civis, assistentes sociais, psicólogas e enfermeiras, todos dedicados a oferecer um atendimento integral às vítimas de violência sexual. Nosso objetivo é evitar a revitimização e eliminar a necessidade de a vítima repetir sua história várias vezes”, afirma Andréa.

“O acolhimento inicial era feito por uma enfermeira, uma assistente social e uma psicóloga, que direcionavam o atendimento conforme o relato da vítima, evitando perguntas adicionais, a menos que ela própria quisesse acrescentar algo”, continua.

Mesmo após seu desligamento da RAV, em fevereiro deste ano, Andréa permaneceu atuante na área, compartilhando sua experiência e conhecimento em escolas e igrejas por meio de palestras sobre prevenção à violência.

“No início, pensei que seria uma temática muito desafiadora, mas decidi estudar e me capacitar, pois o atendimento era completamente diferente do que aprendemos na faculdade. Fiz cursos específicos sobre atendimento a mulheres vítimas de violência e escuta especializada, o que só aumentou meu interesse pelo tema”, revela.

Projetos de acolhimento

Foto: Cortesia ao Eufêmea

Ela conta que foi aprovada em um processo seletivo da Secretaria de Estado da Saúde (SESAU), onde atualmente conduz diversos projetos.

Entre os projetos que lideram estão o “Colhendo Rosas”, focado no acolhimento de mulheres em visitas íntimas e sociais nos presídios Baldomero Cavalcanti e Cyridião Durval, e o “Meu Orgulho”, direcionado à população LGBTQIA+ encarcerada, com triagem e encaminhamento ao ambulatório de hormonioterapia .

“Além disso, estamos iniciando um projeto voltado para agressores, ainda sem nome definido, no módulo específico para autores de violência contra mulheres no presídio Cyridião Durval, abrangendo casos enquadrados na Lei Maria da Penha”, contou.

Para Andréa, o interesse em temas de violência e acolhimento cresceu com sua trajetória e estudos, aprofundando sua compreensão da importância de uma abordagem humanizada e especializada. Essa paixão levou à publicação dos dois novos artigos, que, para ela, representam mais um passo na missão de trazer conscientização e qualidade ao atendimento em saúde e segurança.

Artigos científicos

Agora, a enfermeira do trabalho comemora a aprovação de dois artigos científicos que serão publicados em breve: Conjuntura da Violência Sexual no SUS: Autores, Vítima e Consequências e Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes: Panorama de Atendimentos em Rede de Atenção no Estado de Alagoas .

Em seu estudo sobre a violência sexual no SUS, Andréa analisa os atendimentos realizados entre 2019 e 2023, período em que foram registradas 2.742 vítimas, sendo 85% dos casos relacionados a vítimas do sexo feminino.

Segundo o estudo, a residência foi o local mais frequente das ocorrências, e em 66,5% dos casos o agressor era uma pessoa próxima da vítima. As faixas etárias mais afetadas foram de 10 a 15 anos entre as meninas e de 2 a 6 anos entre os meninos. O estudo também destaca a importância de ações coordenadas para prevenir a violência e a necessidade de um acolhimento humanizado, com atendimento integral e escuta especializada.

“A Rede se materializou, de fato, o sentido que encontramos nos dicionários. Não somos apenas saúde; abrangemos todos os componentes de garantia de direitos no enfrentamento das violências – saúde, educação, assistência social, segurança e justiça. O desafio foi grande, mas o propósito era ainda maior: fazer a diferença na vida das vítimas de violência sexual”, afirma Andréa no artigo.

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Rebecca Moura

Estudante de Jornalismo pela Universidade Federal de Alagoas e colaboradora no portal Eufêmea, conquistou o primeiro lugar no Prêmio Sinturb de Jornalismo em 2021. Em 2024, obteve duas premiações importantes: primeiro lugar na categoria estudante no 2º Prêmio MPAL de Jornalismo e segundo lugar no III Prêmio de Jornalismo Científico José Marques Melo.