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Diagnosticada com câncer de mama há 18 anos, Rejane Carneiro transformou sua experiência pessoal em uma inspiração coletiva, criando uma rede de apoio dedicada a mulheres enfrentando desafios semelhantes. Naquele período, ela relembra como aceitar e compreender sua nova realidade foi especialmente difícil, marcada pela escassez de informações e pela ausência de espaços de troca com outras mulheres que haviam passado pela mesma situação.
Apesar do apoio incondicional do marido e dos filhos, Rejane relembra com emoção o papel crucial de uma amiga de infância. Assim que soube do diagnóstico, a amiga, que é enfermeira, passou a acompanhá-la em todas as etapas do tratamento, incluindo o delicado momento da retirada da mama.
“Ela é enfermeira e, quando soube do meu diagnóstico, me procurou e esteve ao meu lado em todos os momentos. Essa amiga de uma vida foi a minha rede de apoio e o meu porto seguro”, compartilha Rejane.
Encontrando uma rede de apoio
Com o suporte da família e da amiga, Rejane continuou seu tratamento. No entanto, após a retirada da mama, ela recebeu a difícil notícia de que precisaria enfrentar outras 30 sessões de quimioterapia. O impacto foi devastador. “Nesse processo, eu me isolei do mundo. Sempre fui uma pessoa alegre, mas, de repente, fiquei muito triste. Achava que nunca mais seria útil”, relembra.
Foi nesse momento que Rejane encontrou uma instituição formada por mulheres que, assim como ela, haviam enfrentado ou estavam passando pelo tratamento do câncer. Através de rodas de conversa, desfiles e atividades que incentivavam a troca de experiências, ela começou a ressignificar sua condição, redescobrindo força e inspiração para seguir em frente.
Sobreviver
Em pouco tempo, Rejane passou de participante a inspiração para outras mulheres que ingressavam na rede. Após finalizar seu tratamento em 2019 e realizar a reconstrução da mama, ela começou a motivar e orientar mulheres que tinham interesse no procedimento, mas enfrentavam receios e dúvidas sobre realizá-lo.
Impulsionada por esse propósito, Rejane decidiu expandir a rede de apoio, criando sua própria instituição voltada para o bem-estar e o acolhimento de mulheres que enfrentavam o câncer. Foi assim que, em 2022, nasceu a SobreViver, definida por ela como “uma equipe de remadoras unidas pela adversidade do câncer”.
Atualmente, a SobreViver reúne mais de 50 mulheres, sendo que 30 participam ativamente das atividades de remo, mas o trabalho vai muito além do esporte. A instituição oferece suporte psicológico e ampara mulheres em situação de vulnerabilidade econômica, ajudando com medicamentos e outras necessidades, como cestas básicas.
Vida após o tratamento
A consultora de imagem e estilo Amanda Frazão recebeu o diagnóstico de câncer de mama aos 34 anos. Desde então, ela passou a integrar instituições formadas por mulheres que oferecem apoio psicológico, jurídico e social para pacientes oncológicas.
Para Amanda, fazer parte de uma rede de apoio foi essencial para enxergar aspectos positivos em seu diagnóstico e focar em si mesma. “Comecei a fazer atividades que me fazem feliz, entre elas o remo. Ter esse contato com a natureza e Deus melhora os meus dias”, revela. Ela também integra o grupo Sobreviver.
A descoberta de novos hobbies e as amizades que surgiram durante essa jornada foram fundamentais para que Amanda encontrasse novas perspectivas em sua realidade como paciente oncológica. Apesar das dificuldades, ela acredita que o tratamento pode ser um período de intenso autoconhecimento e descobertas.
Infelizmente, Amanda reconhece que muitas mulheres enfrentam essa luta sozinhas, sem acesso a redes de apoio. Ainda assim, ela destaca que esses laços podem surgir em espaços não convencionais.
“Eu levanto essa bandeira e, através do meu Instagram, compartilho minha experiência no tratamento. Tento, de alguma forma, inspirar e ajudar outras mulheres, incentivando-as a buscar autoconhecimento, amor próprio e cuidado com a saúde mental, que muitas vezes é negligenciado”, afirma.
Rede de apoio para conhecer os direitos
Em 1998, a educadora física Maria de Fátima enfrentou uma cirurgia para a retirada de dois nódulos no seio. Naquele momento, embora não tivesse uma rede ampla de apoio entre mulheres, ela reconhece o papel crucial de ter um plano de saúde que possibilitou acesso rápido ao tratamento necessário — um privilégio ainda distante para muitas mulheres no Brasil.
Maria ressalta que, além dos desafios enfrentados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para atender todas as demandas de pacientes oncológicas, muitas mulheres desconhecem seus direitos no sistema público de saúde ou não sabem como acessá-los. Para ela, uma rede de apoio entre mulheres pode ser determinante nesse processo, ajudando a orientar e a fortalecer o acesso aos serviços disponíveis.
Como vice-presidente da SobreViver, Maria testemunha diariamente o impacto dessas barreiras: “Constantemente vejo mulheres devastadas por não conseguirem acesso ao tratamento necessário. Elas enfrentam uma enorme dificuldade para obter um atendimento imediato e eficaz pelo SUS. E, embora o sistema seja extremamente importante, é essencial que essa ajuda chegue com rapidez para garantir um tratamento humanitário”, enfatiza.
Segundo Maria, o caminho para a cura pode ser mais acolhedor quando aliado a um tratamento de qualidade e a espaços seguros, onde as mulheres possam compartilhar suas histórias de superação. Essas trocas não apenas fortalecem as pacientes, mas também inspiram outras mulheres a enfrentar os desafios do diagnóstico e do tratamento com mais confiança e apoio.