“Ansiedade” foi eleita a palavra do ano de 2024 pelos brasileiros, segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Ideia em parceria com a empresa de marketing Cause e o aplicativo PiniOn. De acordo com o levantamento, 22% dos entrevistados escolheram a palavra “ansiedade”, seguida por “resiliência”, com 21%, e “inteligência artificial”, com 20%.
Essa é a nona edição da pesquisa que escolhe a “Palavra do Ano”, uma iniciativa que busca identificar, por meio das respostas, os temas que mais mobilizam o país em diferentes períodos históricos. Para entender como a ansiedade tem se manifestado e impactado a sociedade nos dias atuais, o Eufêmea entrevistou psicólogas especialistas no assunto.
Aumento de diagnósticos
Para a psicóloga Thalia dos Santos, embora a ansiedade tenha sido eleita a palavra do ano apenas em 2024, ela sempre esteve presente na história humana. Contudo, nos últimos anos, especialmente após a pandemia de Covid-19, sua visibilidade aumentou, impulsionada por dois fatores principais: o crescimento no número de diagnósticos e a ampliação do debate sobre saúde mental.
Thalia acredita que a escolha da palavra “ansiedade” como destaque do ano é um marco importante para ampliar as discussões sobre o tema e reduzir estigmas relacionados ao transtorno. Para ela, essa visibilidade pode até mesmo contribuir para democratizar o acesso a tratamentos psicológicos e psiquiátricos.
“O acesso limitado a tratamentos infelizmente é uma realidade, principalmente em regiões mais vulneráveis. Muitas pessoas enfrentam barreiras financeiras, sociais e culturais para buscar ajuda. Por isso, a conscientização precisa vir acompanhada de educação acessível, políticas públicas eficazes e uma boa rede de apoio”, reforça.
Mulheres e ansiedade
De acordo com a psicóloga Anna Carolina, a ansiedade é uma emoção natural e essencial para a sobrevivência humana, ajudando o organismo a se preparar para situações inesperadas. Contudo, o problema surge quando essa emoção se torna desregulada e disfuncional, resultando em altos níveis de ansiedade que, segundo ela, estão cada vez mais frequentes na sociedade moderna.
Quando analisado sob o recorte de gênero, no entanto, os números se tornam ainda mais alarmantes. Fatores socioculturais como desigualdade de gênero, dupla jornada de trabalho, pressão estética e outros desafios específicos contribuem para que as mulheres tenham maior tendência a desenvolver transtornos de ansiedade.
“Tudo isso se entrelaça na vida das mulheres e funciona como uma alavanca para impulsionar os níveis de ansiedade, podendo levar a quadros patológicos, como transtorno de ansiedade generalizada, transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno de pânico e fobias”, explica a psicóloga.
Anna também destaca o impacto da maternidade na saúde emocional das mulheres. “Desde a gestação, o estado emocional já é afetado pelas mudanças que estão por vir. Depois, vem a adaptação ao novo papel social, marcada por autocobranças e julgamentos sociais, que só tendem a aumentar os níveis de estresse e ansiedade”, ressalta.
Para a psicóloga, a redução dos altos índices de ansiedade entre mulheres requer mudanças estruturais na sociedade. “Precisamos de políticas públicas que ofereçam suporte real à maternidade, de esforços para combater a violência de gênero e de um mercado de trabalho mais justo e igualitário. Essas ações são fundamentais para construir um ambiente mais acolhedor para as mulheres e ajudar a reduzir os altos níveis de ansiedade”, diz.
Sinais da ansiedade: como reconhecer e tratar
Por ser uma emoção comum, muitas pessoas têm dificuldade em identificar os sinais de ansiedade quando ela atinge níveis exacerbados. A psicóloga Regina Souza destaca os principais sintomas e aponta caminhos para lidar com o problema.
“A base da ansiedade é o medo, e muitas vezes esse medo não é facilmente identificável. Ele pode se manifestar através de sintomas físicos como sudorese, taquicardia, pensamentos acelerados, preocupações excessivas, expectativas irreais, irritabilidade, tensão muscular e até dificuldade para se concentrar ou dormir”, explica Regina.
A psicóloga também elenca os fatores que podem desencadear a ansiedade, como questões genéticas, condições físicas ou hormonais, uso de medicamentos ou substâncias como cafeína, além de fatores ambientais, como eventos traumáticos ou a vivência em ambientes desestruturados. “Esses elementos, isolados ou combinados, podem aumentar significativamente os níveis de ansiedade em uma pessoa”, alerta.
Regina reforça que o primeiro passo para lidar com a ansiedade elevada é identificar se os pensamentos que geram medo correspondem à realidade.